São Paulo, quarta, 29 de outubro de 1997.




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ELEIÇÕES
Ministro não quer concorrer à Presidência se o petista for candidato
Sepúlveda condiciona sua candidatura a apoio de Lula

SILVANA DE FREITAS
enviada especial a Recife

O ministro Sepúlveda Pertence, do STF (Supremo Tribunal Federal), sondado pela oposição para concorrer à Presidência da República, está condicionando sua eventual candidatura à desistência do PT em lançar novamente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em conversas reservadas, Sepúlveda tem afirmado que só trocará o STF pelo projeto político se contar com o apoio de Lula, de quem é amigo há mais de 20 anos.
Pesa nessa opção uma avaliação informal de que o apoio de Lula transferiria a Sepúlveda grande parte dos 20 milhões de votos com que o candidato petista contaria.
Sem um entendimento em torno de um único candidato até agora, integrantes da oposição já apostam em um cenário de pelo menos dois candidatos ao Planalto.
O nome de Lula é apontado como o único capaz de evitar um racha no PT, mas o PSB sinalizou que não repetirá o apoio dado a ele nas duas últimas eleições presidenciais.
"O PT não tem como se aliar a ninguém que não seja do próprio partido. Por isso, a perspectiva é termos duas candidaturas", disse o deputado Fernando Lyra (PSB-PE), anteontem à noite, durante uma solenidade em que Sepúlveda recebeu o título de cidadão de Pernambuco.
Críticas a FHC
Com um discurso político, Pertence agradeceu a concessão do título pela Assembléia Legislativa, anunciando-se, de forma discreta, como alternativa ao projeto político do presidente Fernando Henrique Cardoso.
O ministro afirmou, indiretamente, que FHC não assegurou a democracia ao país, porque não resolveu os problemas sociais. Falando em nome do Poder Judiciário, citou o perfil de um novo magistrado, mais politizado.
"O magistrado rompe a sua postura tradicional de alienação a pretexto de falsa neutralidade e assume francamente o seu comprometimento com a construção da democracia, feita não apenas do respeito às formas, mas também da efetivação dos pressupostos da cidadania, inconciliáveis com a miséria e a exclusão."
Ele encerrou o discurso afirmando que "esse comprometimento e essa consciência irritam muitos poderosos".
Um entendimento entre o PSB e o próprio ministro transformou a entrega do título em um ato de lançamento do nome de Sepúlveda no cenário político.
Ele e o governador de Pernambuco, Miguel Arraes (PSB), conversaram anteontem à noite em um jantar com a presença de apenas outras quatro pessoas. Desde sábado, quando chegou a Recife para participar do congresso de magistrados, Sepúlveda tem conversado reservadamente com membros do PSB.
O governador e o ministro negaram ter conversado sobre candidaturas e a possível filiação de Sepúlveda ao PSB. "São suposições e hipóteses e qualquer coisa a mais seria precipitação", disse o ministro.



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