São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2000

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Fama de passional faz jus a Magalhães

DO ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

"Eu tenho mais de 60 anos, não posso entrar num jornal cheio de seguranças para sair apanhado. Eu saio morto, mas não saio apanhado", diz o prefeito licenciado Roberto Magalhães, ao justificar por que colocou um revólver na cintura em agosto de 99 para tirar satisfação com um jornalista.
O episódio, em torno de um monumento fálico cujo projeto ele supostamente queria mudar, rendeu a Magalhães a consolidação da fama de temperamental. Fama que pôde ser comprovada pela Folha ao acompanhá-lo na noite de quarta-feira.
Ao entrar na perua que o levaria a uma TV, deu bronca no assessor que não o avisara de uma denúncia do PT e fez ligações para tentar derrubar a notícia em dois jornais locais. "Jornalista tem de saber que está sujeito a perdas e danos se escrever mentira."
Ao chegar, foi logo pedindo para diminuir a temperatura do ar-condicionado. Impaciente, dizia: "Bote para cima, mas não bote tão para cima, não, para não ficar quente. Isso, pode deixar, tá bom aí. Qualquer coisa eu já sei, eu vou lá e eu mesmo faço".

Deselegância
Ainda na TV, quis cancelar uma entrevista porque encontrou o adversário João Paulo (PT) no estúdio. "Não vou dar entrevista com o sujeito olhando para a minha cara. Prefiro me retirar. Acho uma deselegância pedir para ele sair", disse a uma produtora da TV Universitária.
A moça conversou com João Paulo, que aceitou ir para outra sala. Magalhães deu a entrevista. "Isso não dá voto nenhum. Foi perda de tempo", reclamou com o assessor.
De volta à história da ameaça ao jornalista, afirma que não se arrepende. "Ou você pára de me perseguir ou você vai ter de ter um confronto pessoal comigo", relata o que disse ao repórter.
Folha - Um prefeito pode fazer isso?
Magalhães - Mas Mário Covas não fez? Mais velho do que eu e governador de São Paulo, não chamou o pessoal para a briga?
Folha - Mas ele não colocou revólver na cintura. O sr. podia dar um tiro em alguém.
Magalhães - Podia.

Banana
Fala que se arrepende é de outra atitude passional.
Deu uma banana para eleitores do PT no primeiro turno da eleição em Recife. "Perdi voto entre as mulheres. Não sabia que era tão ofensivo. Pedi desculpas e me arrependo." Mas diz que fez o que fez porque foi "encurralado no trânsito e provocado por petistas".
Outra reclamação: "A imprensa daqui é cheia de petistas. Estou apanhando como nunca. Em Brasília, quando deputado, eu me dava bem com jornalista. Superlativaram isso de passional".
Ele vai ficando relaxado e convida: "Quer ver obras bonitas?".
Pede ao motorista que vá "ao binário", duas largas avenidas de mão única que fez.
Depois, mostra uma ponte. "O PT diz que não passa carro. Olhe, conte quantos tem". Às 20h30, passavam cinco automóveis e um ônibus. "Viu? Não entendem que a cidade vai poder crescer para aquele lado. Para me chatear, o PT diz que jogam bola na ponte. E eu pergunto: quantos foram atropelados?", conta, rindo de si mesmo por cair na provocação.
Já no fim do passeio, filosofa sobre política.
Diz que ouviu o seguinte ensinamento de Carlos Castelo Branco, famoso colunista político do "Jornal do Brasil": "Pense no político mais sério que você conheceu. Não me diga o nome, mas saiba que esse homem que você admira, morto ou vivo, se precisar meter a mão na porcaria, ele mete para conservar o poder". Claro, diz que nunca meteu a mão na porcaria.
Ao ser indagado se está arrependido de ter entrado na política, responde: "Em alguns momentos me arrependi. Mas graças a Deus entrei na política tarde". Pouco antes de se despedir, diz: "Esta é minha última eleição".
(KENNEDY ALENCAR)


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