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Fama de passional faz jus a Magalhães
DO ENVIADO ESPECIAL A RECIFE
"Eu tenho mais de 60 anos, não
posso entrar num jornal cheio de
seguranças para sair apanhado.
Eu saio morto, mas não saio apanhado", diz o prefeito licenciado
Roberto Magalhães, ao justificar
por que colocou um revólver na
cintura em agosto de 99 para tirar
satisfação com um jornalista.
O episódio, em torno de um
monumento fálico cujo projeto
ele supostamente queria mudar,
rendeu a Magalhães a consolidação da fama de temperamental.
Fama que pôde ser comprovada
pela Folha ao acompanhá-lo na
noite de quarta-feira.
Ao entrar na perua que o levaria
a uma TV, deu bronca no assessor
que não o avisara de uma denúncia do PT e fez ligações para tentar
derrubar a notícia em dois jornais
locais. "Jornalista tem de saber
que está sujeito a perdas e danos
se escrever mentira."
Ao chegar, foi logo pedindo para diminuir a temperatura do ar-condicionado. Impaciente, dizia:
"Bote para cima, mas não bote tão
para cima, não, para não ficar
quente. Isso, pode deixar, tá bom
aí. Qualquer coisa eu já sei, eu vou
lá e eu mesmo faço".
Deselegância
Ainda na TV, quis cancelar uma
entrevista porque encontrou o
adversário João Paulo (PT) no estúdio. "Não vou dar entrevista
com o sujeito olhando para a minha cara. Prefiro me retirar. Acho
uma deselegância pedir para ele
sair", disse a uma produtora da
TV Universitária.
A moça conversou com João
Paulo, que aceitou ir para outra
sala. Magalhães deu a entrevista.
"Isso não dá voto nenhum. Foi
perda de tempo", reclamou com o
assessor.
De volta à história da ameaça ao
jornalista, afirma que não se arrepende. "Ou você pára de me perseguir ou você vai ter de ter um
confronto pessoal comigo", relata
o que disse ao repórter.
Folha - Um prefeito pode fazer
isso?
Magalhães - Mas Mário Covas
não fez? Mais velho do que eu e
governador de São Paulo, não
chamou o pessoal para a briga?
Folha - Mas ele não colocou revólver na cintura. O sr. podia dar
um tiro em alguém.
Magalhães - Podia.
Banana
Fala que se arrepende é de outra
atitude passional.
Deu uma banana para eleitores
do PT no primeiro turno da eleição em Recife. "Perdi voto entre
as mulheres. Não sabia que era
tão ofensivo. Pedi desculpas e me
arrependo." Mas diz que fez o que
fez porque foi "encurralado no
trânsito e provocado por petistas".
Outra reclamação: "A imprensa
daqui é cheia de petistas. Estou
apanhando como nunca. Em Brasília, quando deputado, eu me dava bem com jornalista. Superlativaram isso de passional".
Ele vai ficando relaxado e convida: "Quer ver obras bonitas?".
Pede ao motorista que vá "ao binário", duas largas avenidas de
mão única que fez.
Depois, mostra uma ponte. "O
PT diz que não passa carro. Olhe,
conte quantos tem". Às 20h30,
passavam cinco automóveis e um
ônibus. "Viu? Não entendem que
a cidade vai poder crescer para
aquele lado. Para me chatear, o PT
diz que jogam bola na ponte. E eu
pergunto: quantos foram atropelados?", conta, rindo de si mesmo
por cair na provocação.
Já no fim do passeio, filosofa sobre política.
Diz que ouviu o seguinte ensinamento de Carlos Castelo Branco, famoso colunista político do
"Jornal do Brasil": "Pense no político mais sério que você conheceu. Não me diga o nome, mas
saiba que esse homem que você
admira, morto ou vivo, se precisar
meter a mão na porcaria, ele mete
para conservar o poder". Claro,
diz que nunca meteu a mão na
porcaria.
Ao ser indagado se está arrependido de ter entrado na política, responde: "Em alguns momentos me arrependi. Mas graças
a Deus entrei na política tarde".
Pouco antes de se despedir, diz:
"Esta é minha última eleição".
(KENNEDY ALENCAR)
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