São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2000

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POLÍTICA & PALHAÇADA

Debate Halloween? Nunca mais!

HUGO POSSOLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Esta foi a campanha do nunca mais. De um lado, Maluf nunca mais. De outro, PT nunca mais. E eu sou do nunca mais em geral.
O melhor dia do horário gratuito foi na quarta. Não teve! E ainda assim deu o mesmo Ibope que nos outros dias. Eram os espectadores olhando aquele slide azul e refletindo: horário gratuito? Nunca mais! Se quiser falar besteira na TV, tem que pagar!
Sexta-feira e começa o debate Halloween. Aquele que acaba antes da meia-noite, para ninguém virar abóbora. E eu, na esperança da voltar a assistir baixaria no horário nobre, saí frustrado.
Na Globo, tudo vira show, mas dessa vez tiraram a torcida. Foi o show dos chochos. Chama a Marlene Mattos para dirigir! E se trouxessem o Ratinho para mediar? Iria dar o maior Ibope. Salve o Ibope! Ou melhor, só o Ibope salva! "Domingão do Faustão"? Nunca mais.
Cheguei a acreditar que a coisa ia esquentar. Quando o Maluf perguntou o que eram parcerias, pensei que eles voltariam no assunto de casamento de homossexuais. O Maluf estava com uma carinha safada de quem queria saber mais do assunto. Será que ele quis aproveitar o debate e fazer uma consulta com a sexóloga? Nessa hora, sim, ela podia dizer: "Ai, Maluf como você distorce!". Torce, contorce e retorce. Seria uma loucuuuura! Sexo na TV? Nunca mais. Machuca as costas.
Realmente, até os canastrões mais experientes travam diante das câmeras da Globo. Maluf errando a câmera, e a Marta dando peteleco no microfone. Culpa do Carlos Nascimento, que avisou que até na África tinha gente assistindo ao debate. Os dois ficaram com medo de perder para Camarões. Luxemburgo? Nunca mais. Será que leão come camarão?
Debate criativo é lindo! Inventaram de fazer a pergunta tema livre. Só faltou um pedir para o outro fazer a redação "Minhas Férias". Só que o Maluf não quis arriscar, porque as férias da Marta devem ter sido ótimas. Ela só falou das cidades européias que visitou. Parecia novo-rico dando pinta em festa de banqueiro para conseguir empréstimo. Estilo FHC? Turista atrás de grana? Nunca mais.
A falta de convicção foi tão grande que o maior cara-de-pau da história gaguejou. O Maluf ficou tão enrolado que ficou falando: "Sua senhora, sua senhora..." Sei lá, vai ver achou que o debate era com a Erundina. Não sabia bem onde estava. Quer dizer, sabia. Estava perdido. Perdendo de 20 pontos? Nunca mais.
E o danado afirma que quer ser prefeito para corrigir seu erro. Ele erra e nós é que pagamos o pato. Quer dizer, os frangos! Galinha da dona Sílvia? Nunca mais.
Uma coisa Marta tem que admitir que aprendeu com Maluf: como não responder a uma pergunta. Ele falou que ela fez isso duas vezes no debate. E se alguém contar quantas vezes ele faz por segundo? Não dá tempo! Pergunta sem resposta? Nunca mais.
O negócio é pegar carona e radicalizar. Papai Noel? Nunca mais. Coelhinho da Páscoa? Nunca mais. Halloween? Nunca mais.
Aliás, depois deste segundo turno, não quero mais saber nem de contos de fadas. Ali Babá e Robin Hood? Nunca mais.
 
Este foi um artigo de despedida desta coluna. Política & Palhaçada? Nunca mais. Agradeço aos leitores e aviso que não faltará humor enquanto existirem os políticos. No império do cinismo, dos mandatários FHC e ACM, sou apenas um bobo da corte amador. Valeu!


Hugo Possolo é palhaço, dramaturgo e diretor do grupo Parlapatões, Patifes & Paspalhões.


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