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ALTA ESPIONAGEM
Ministro foi seguido porque teria deixado de apoiar Dantas
Governo confirma que Kroll também espionou Dirceu
KENNEDY ALENCAR
EM SÃO PAULO
O ministro José Dirceu (Casa
Civil) está entre os membros do
governo federal espionados pela
Kroll, a maior empresa de investigação privada do país. A Folha
apurou que o Palácio do Planalto
recebeu confirmação da Polícia
Federal nesse sentido.
Essa investigação da Kroll recebeu o nome de "Projeto Tóquio" e
foi encomendada pela Brasil Telecom por conta de uma disputa
empresarial com a Telecom Italia.
O banqueiro Daniel Dantas, do
grupo Opportunity, que controla
a Brasil Telecom, é suspeito de ser
o mandante da investigação.
A Folha apurou que o nome de
Dirceu foi incluído na investigação porque ele teria deixado de
atuar a favor de Dantas nas discussões internas da cúpula do governo sobre minar ou não a influência do banqueiro sobre fundos de pensão de estatais federais.
O ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão
Estratégica) foi investigado pela
Kroll, como revelou a Folha em
julho, porque defendia que fossem feitas articulações para acabar com a influência de Dantas
nos fundos de pensão.
Mensagem eletrônica
Em 9 de julho deste ano, pouco
antes de a Folha revelar que a
Kroll investigara autoridades federais, o chefe do escritório da
empresa de investigação em Londres, Charles Carr, recebeu uma
mensagem de uma "fonte" identificada como "Silvio Berlusconi",
nome do primeiro-ministro da
Itália usado como codinome na
troca de e-mails.
Nessa mensagem, "Berlusconi"
fala que uma empresa italiana
com atividades no Brasil foi à Justiça pedir indenização de R$ 50
milhões à TIM, empresa do grupo
Telecom Italia, mas que recuara
da disputa comercial por ordem
de um chefe da Itália. A razão do
recuo seria manter boas relações
entre as empresas na Itália.
No final da mensagem, Berlusconi diz a Carr: "Por favor, entre
em contato sempre que quiser dividir as informações que você tiver sobre Dirceu. Tenho certeza
de que será uma grande história".
Detalhe: em mensagem posterior a um membro encarregado
da investigação da Kroll no Brasil,
Carr, ao se referir à mensagem de
Berlusconi, diz que ela é de uma
fonte num órgão de imprensa.
Uma autoridade federal disse à
Folha que o Dirceu que aparece
nessa mensagem eletrônica é o
chefe da Casa Civil.
Compadre e FHC
A Folha apurou que até o advogado Roberto Teixeira, compadre
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, foi acionado por Dantas para tentar abrir portas no governo.
Na prática, elas se fecharam porque a decisão final de Lula foi a de
bombardear Dantas.
Nos governos do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-1998 e 1999-2002), Dantas contou
com o apoio de diretores de fundos de pensão federal para participar do processo de privatização.
Numa dessas operações, com a
Previ, fundo dos funcionários do
Banco do Brasil, montou um consórcio pelo qual comprou a empresa que hoje é a Brasil Telecom.
Detalhe: nesses acertos, seu
banco, o Opportunity, tinha participação acionária pequena, mas
garantia o controle por meio de
um acordo. É o caso hoje da Brasil
Telecom, por exemplo.
No início do governo Lula, que
assumiu em 2003, novos diretores
dos fundos de pensão romperam
a aliança com Dantas, que passou,
num primeiro momento, a tentar
algum acerto de bastidor com a
nova administração. A decisão final do governo de não "negociar"
com o banqueiro teria sido o motivo para que autoridades federais
fossem investigadas pela Kroll.
De acordo com os informes que
chegaram à cúpula do governo,
Dirceu e pessoas próximas a ele
em Brasília tiveram seus passos
monitorados por agentes da
Kroll. Até encontros privados. A
PF desconfia que houve tentativa
de grampear Dirceu e auxiliares e
de obter seu correio eletrônico.
A Kroll produziu relatórios nos
quais havia indícios de irregularidades na espionagem de Gushiken e do presidente do Banco do
Brasil, Cássio Casseb.
A Kroll nega ter cruzado o limite
da legalidade em suas investigações.
A PF suspeita que a intenção da
Kroll era obter alguma informação que permitisse a Dantas pressionar autoridades do governo a
não minar o seu poder nos fundos
de pensão federais.
Anteontem, a "Operação Chacal" da PF desencadeou investigações em três Estados e no Distrito
Federal que resultaram na prisão
de cinco funcionários da Kroll. A
PF disse que deverá indiciar Dantas e uma executiva da Brasil Telecom, Carla Cicco.
De acordo com a PF, a Kroll teria cometido pelo menos seis crimes: formação de quadrilha, oferecimento de vantagem a testemunha, quebra de sigilos bancários, usurpação de função e quebra de sigilo telefônico e telemático (interceptação de e-mail, fax e
telefone).
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