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ALTA ESPIONAGEM
Compra da CRT motivou início do conflito entre a Telecom Italia e o Opportunity, agravado em 2002
Disputa começou com o leilão da Telebrás
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
A megaoperação da Polícia Federal para apurar os atos de espionagem industrial da Kroll é mais
um capítulo de um dos mais rumoroso casos de disputa empresarial da história do país. O início
da briga se dá na privatização da
Telebrás, em 1988, e envolve principalmente o Opportunity, de Daniel Dantas, e a Telecom Italia.
No leilão de privatização, era
dado como certo que um consórcio formado pela Telecom Italia, a
Globo e o Bradesco fosse adquirir
a Telesp, a empresa de telefonia
de São Paulo. Surpreendentemente, a Telesp acaba sendo arrebatada no leilão pelo grupo espanhol Telefônica. A Telecom Italia
e o Opportunity ficam com a Brasil Telecom.
Em razão disso, a Telefônica,
que já tinha adquirido uma outra
operadora na mesma região, a
CRT, que fica no Sul, teria, pelas
normas fixadas para o leilão, de se
desfazer de uma das duas. O grupo espanhol optou por ficar com a
Telesp. Neste momento começa a
briga entre os italianos e o Opportunity.
As versões para esse primeiro
capítulo da briga são as mais diversas possíveis. O Opportunity
alega que o preço pago para a
compra da CRT, de US$ 800 milhões, foi pelo menos US$ 150 milhões acima do valor real da empresa.
Já a Telecom Italia argumenta
que os US$ 800 milhões ficaram
pelo menos US$ 200 milhões
abaixo do preço estabelecido por
um estudo contratado pela própria Brasil Telecom para avaliar o
valor da CRT. A Telecom Italia diz
ainda que o valor acertado para a
compra da CRT foi aprovado em
reunião do conselho da administração da Brasil Telecom. O caso
foi parar no Ministério Público,
mas acabou sendo arquivado.
De lá para cá, a Telecom Italia e
a Brasil Telecom se envolveram
em outras confusões. A mais recente começou em 2002, quando
a Telecom Italia, já nas mãos de
um novo controlador, a Pirelli,
deixou o bloco de controle da
Brasil Telecom para montar sua
própria operadora de telefonia
móvel, a TIM.
Como a Brasil Telecom já possuía uma empresa de telefonia
móvel, a Telecom Italia não poderia ter sua própria operadora de
celular. Para isso, a Brasil Telecom
tinha que antecipar as metas de
universalização fixadas pela Anatel. Pelo acordo, a Telecom Italia,
depois de um tempo, quando a
Brasil Telecom cumprisse as metas, os italianos poderiam recomprar de volta sua participação na
empresa de telefonia fixa.
No ano passado, a Telecom Italia tentou voltar ao bloco de controle da Brasil Telecom, assim que
a empresa cumpriu as exigências
da Anatel. O Opportunity barrou
a entrada dos italianos, e o caso
está na Justiça.
Desde que foi revelado o escândalo de espionagem industrial, o
Opportunity alega que teria contratado a Kroll em outubro do
ano passado ainda para investigar
o caso da compra da CRT acima
do valor que o banco achava justo, apesar de já terem se passado
quatro anos do negócio.
Auditoria
De acordo com o que a Folha
apurou, em muitos e-mails encontrados no relatório da Kroll, se
nota uma preocupação muito
grande de o Opportunity mostrar
para o Citibank, que detém uma
forte ligação com a instituição financeira de Daniel Dantas, o que
estaria ocorrendo no Brasil na
disputa com a Telecom Italia.
Nos últimos dias, circulou uma
versão, não confirmada pelo Opportunity, que, na época da contratação da Kroll, o banco de Daniel Dantas estaria sofrendo uma
espécie de auditoria do Citibank.
O que o Opportunity poderia estar fazendo era montando um relatório para apresentar ao Citibank sobre suas operações.
Tanto que quase todas as pessoas investigadas pela Kroll têm
ou teriam alguma relação com os
italianos da Telecom Italia. Os integrantes do governo, de acordo
com essa versão, teriam entrado
por acaso na investigação.
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