São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ALTA ESPIONAGEM

Compra da CRT motivou início do conflito entre a Telecom Italia e o Opportunity, agravado em 2002

Disputa começou com o leilão da Telebrás

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A megaoperação da Polícia Federal para apurar os atos de espionagem industrial da Kroll é mais um capítulo de um dos mais rumoroso casos de disputa empresarial da história do país. O início da briga se dá na privatização da Telebrás, em 1988, e envolve principalmente o Opportunity, de Daniel Dantas, e a Telecom Italia.
No leilão de privatização, era dado como certo que um consórcio formado pela Telecom Italia, a Globo e o Bradesco fosse adquirir a Telesp, a empresa de telefonia de São Paulo. Surpreendentemente, a Telesp acaba sendo arrebatada no leilão pelo grupo espanhol Telefônica. A Telecom Italia e o Opportunity ficam com a Brasil Telecom.
Em razão disso, a Telefônica, que já tinha adquirido uma outra operadora na mesma região, a CRT, que fica no Sul, teria, pelas normas fixadas para o leilão, de se desfazer de uma das duas. O grupo espanhol optou por ficar com a Telesp. Neste momento começa a briga entre os italianos e o Opportunity.
As versões para esse primeiro capítulo da briga são as mais diversas possíveis. O Opportunity alega que o preço pago para a compra da CRT, de US$ 800 milhões, foi pelo menos US$ 150 milhões acima do valor real da empresa.
Já a Telecom Italia argumenta que os US$ 800 milhões ficaram pelo menos US$ 200 milhões abaixo do preço estabelecido por um estudo contratado pela própria Brasil Telecom para avaliar o valor da CRT. A Telecom Italia diz ainda que o valor acertado para a compra da CRT foi aprovado em reunião do conselho da administração da Brasil Telecom. O caso foi parar no Ministério Público, mas acabou sendo arquivado.
De lá para cá, a Telecom Italia e a Brasil Telecom se envolveram em outras confusões. A mais recente começou em 2002, quando a Telecom Italia, já nas mãos de um novo controlador, a Pirelli, deixou o bloco de controle da Brasil Telecom para montar sua própria operadora de telefonia móvel, a TIM.
Como a Brasil Telecom já possuía uma empresa de telefonia móvel, a Telecom Italia não poderia ter sua própria operadora de celular. Para isso, a Brasil Telecom tinha que antecipar as metas de universalização fixadas pela Anatel. Pelo acordo, a Telecom Italia, depois de um tempo, quando a Brasil Telecom cumprisse as metas, os italianos poderiam recomprar de volta sua participação na empresa de telefonia fixa.
No ano passado, a Telecom Italia tentou voltar ao bloco de controle da Brasil Telecom, assim que a empresa cumpriu as exigências da Anatel. O Opportunity barrou a entrada dos italianos, e o caso está na Justiça.
Desde que foi revelado o escândalo de espionagem industrial, o Opportunity alega que teria contratado a Kroll em outubro do ano passado ainda para investigar o caso da compra da CRT acima do valor que o banco achava justo, apesar de já terem se passado quatro anos do negócio.

Auditoria
De acordo com o que a Folha apurou, em muitos e-mails encontrados no relatório da Kroll, se nota uma preocupação muito grande de o Opportunity mostrar para o Citibank, que detém uma forte ligação com a instituição financeira de Daniel Dantas, o que estaria ocorrendo no Brasil na disputa com a Telecom Italia.
Nos últimos dias, circulou uma versão, não confirmada pelo Opportunity, que, na época da contratação da Kroll, o banco de Daniel Dantas estaria sofrendo uma espécie de auditoria do Citibank. O que o Opportunity poderia estar fazendo era montando um relatório para apresentar ao Citibank sobre suas operações.
Tanto que quase todas as pessoas investigadas pela Kroll têm ou teriam alguma relação com os italianos da Telecom Italia. Os integrantes do governo, de acordo com essa versão, teriam entrado por acaso na investigação.


Texto Anterior: Alta espionagem: Kroll diz que equipamento não faz grampo
Próximo Texto: "Kroll extrapolou demais", declara um ex-investigador da empresa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.