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ECOS DO REGIME
Clarice se reuniu com ministro Nilmário Miranda e analisou fotografias que foram divulgadas recentemente
Viúva conclui que fotos não são de Herzog
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A viúva do jornalista Vladimir
Herzog, Clarice, viu ontem o dossiê do extinto Serviço Nacional de
Informações e concluiu que as
três fotos que vêm sendo publicadas como sendo de seu marido
não se referem a ele. Herzog morreu sob custódia dos órgãos de repressão da ditadura em 1975.
Há 12 dias as fotos vieram a público. Elas fazem parte de um relatório do SNI sobre o padre canadense Leopoldo d'Astous, investigado por ligação com a oposição à
ditadura na década de 70.
"Vi várias fotos, a seqüência leva à dedução. Reconheci o Vlado
nas fotos [na semana passada],
conhecia aquele corpo, aquele
rosto, mas as fotos são de qualidade muito ruim. São cópias de cópias. [O homem] é muito semelhante, é de uma semelhança terrível, mas não é o Vlado", disse.
O relatório, ao qual a Folha
também teve acesso na semana
passada, mostra o padre D'Astous
em 1974 sozinho ou em companhia da irmã Terezinha de Salles
em uma chácara em Goiás. Os
dois foram espionados e, segundo
o religioso, forçados a posar para
fotos nus. A manobra, disse, tinha
o objetivo de difamar publicamente D'Astous que, em suas
missas e vigílias, manifestava posições contrárias ao regime.
No início da tarde de ontem, os
ministros Nilmário Miranda (Direitos Humanos) e general Jorge
Armando Félix (Segurança Institucional) reuniram-se com Clarice em seu escritório, em São Paulo, para mostrar-lhe o relatório.
"A senhora Clarice Herzog nos
recebeu na companhia de uma
amiga da família. E, depois de
analisar toda a seqüência de fotos,
chegou à conclusão de que nenhuma daquelas fotos, inclusive
as que foram publicadas pela imprensa nos últimos dias, retratava
seu marido Vladimir Herzog",
disse Nilmário em nota.
Antes de ver o relatório do SNI,
Clarice ainda acreditava que seria
de Herzog uma das imagens, a
que mostra um homem escondendo o rosto, usando um relógio
na mão direita. Isso porque o jornalista usava um relógio semelhante ao que aparece na foto. Ontem, a dúvida foi esclarecida.
"Na verdade, pensei que poderia ser uma foto do Vlado inserida
no meio das outras, mas pela seqüência você vê que não", afirmou Clarice Herzog.
Ao serem divulgadas, as fotos
provocaram imediata reação do
Exército, que considerou "legítimas" as medidas repressoras adotadas contra movimentos "subversivos" durante o regime militar (1964-1985). A nota desagradou à cúpula do governo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
determinou a divulgação de novo
texto, desta vez lamentando a
morte do jornalista. Na semana
passada, o ministro Nilmário Miranda já havia divulgado uma nota negando que o homem nas fotos fosse Herzog, mas não identificou D'Astous.
CNBB
Ao dizer que só um governo corajoso "abrirá arquivos da ditadura", a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) defendeu ontem a divulgação de documentos secretos da ditadura.
Segundo dom Geraldo Majella
Agnelo, presidente da CNBB, a
abertura de arquivos é necessária
para que "as pessoas que foram
injustiçadas recebam reconhecimento". "Não queremos levar
ninguém aos tribunais, mas a democracia cresce com a busca de
justiça para todos", diz.
Dom Antônio Celso de Queirós,
vice-presidente da CNBB, disse
que há "grupos influentes na sociedade que se opõem fortemente" à abertura dos arquivos. "Eu
compreendo que o Exército, a
Marinha e a Aeronáutica, em uma
atitude corporativista, se julguem
ofendidos. Mas acho que é preciso
ter coragem de olhar os próprios
erros, que não foram erros das
pessoas de hoje", afirmou.
(IURI DANTAS)
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