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Dirceu diz que arquivos históricos não serão abertos com "canetaço"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro José Dirceu (Casa
Civil) afirmou ontem que o governo federal terá "calma" e não
irá resolver no "canetaço" eventuais mudanças na legislação para
permitir um maior acesso aos arquivos históricos do país.
Segundo o ministro, uma decisão sobre o caso será tomada com
o cuidado de não trazer "problemas" para o país, como, por
exemplo, um clima de atritos entre o governo federal e as Forças
Armadas (Marinha, Exército e
Aeronáutica). Dirceu falou ontem
à tarde, na Granja do Torto, após
almoço com Lula e o ex-presidente Itamar Franco (1992-94), hoje
embaixador em Roma.
"Nós vamos levar essa questão
[o que foi discutido anteontem na
Casa Civil entre cinco ministros]
depois da semana que vem, depois do feriado, para presidente.
Nada será feito de uma forma
apressada e nem nada será feito
sem antes o presidente ouvir todas as partes e tomar uma decisão", afirmou Dirceu.
Anteontem, ministros reunidos
na Casa Civil decidiram que é preciso de um tempo para chegar a
uma consenso sobre o tema e é
necessário conquistar o apoio do
Legislativo e do Judiciário.
"Isso envolve o Itamaraty, envolve o Ministério da Defesa, da
Justiça, a Casa Civil, o Congresso
Nacional, a sociedade. Essa é uma
questão democrática que nós vamos resolver, vamos equacionar
adequadamente. Recebemos do
governo passado o decreto, mas
vamos fazê-lo de uma maneira
que ajude o país a avançar na democracia, e não crie problemas
para o país." Segundo Dirceu, Lula vai priorizar o diálogo, antes de
tomar uma decisão.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva sinalizou ontem que pretende dividir os arquivos históricos
do país em duas partes. Documentos referentes às chamadas
questões de Estado ficariam intactos. Os que envolvem as investigações ilegais, principalmente
aqueles do período da ditadura
militar (1964-1985), seriam analisados no Ministério da Justiça.
"O presidente me disse que quer
resolver isso de uma forma serena
e definitiva. Separar os documentos de Estado dos documentos da
ditadura militar, que seriam encaminhados ao Ministério da Justiça. Lá, com a participação da igreja, de familiares [de pessoas desaparecidas] definiriam o destino
desses documentos ilegais e irregulares", afirmou o jornalista
Paulo Markun, apresentador do
programa "Roda Viva" da TV
Cultura, após encontro com Lula
no Palácio do Planalto.
Documentos de Estado seriam
todos aqueles produzidos pelos
órgãos do governo como Itamaraty, por exemplo, e se referem a
questões comerciais, de litígios
fronteiriços e outros pontos estratégicos para o país.
Sobre a relação do governo com
as Forças Armadas, o presidente
disse, segundo Markun, que o clima é de cordialidade. "O presidente disse que estranhou a primeiro nota do Exército, que estava sem sentido. Mas que a segunda nota já deixou tudo resolvido."
Markun entregou ao presidente
um exemplar de seu livro "O Sapo
e o Príncipe", que relata a trajetória política de Lula e Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002).
Na capa, há uma foto de Lula e
FHC juntos em 1978.
(ES)
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