São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dirceu diz que arquivos históricos não serão abertos com "canetaço"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro José Dirceu (Casa Civil) afirmou ontem que o governo federal terá "calma" e não irá resolver no "canetaço" eventuais mudanças na legislação para permitir um maior acesso aos arquivos históricos do país.
Segundo o ministro, uma decisão sobre o caso será tomada com o cuidado de não trazer "problemas" para o país, como, por exemplo, um clima de atritos entre o governo federal e as Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica). Dirceu falou ontem à tarde, na Granja do Torto, após almoço com Lula e o ex-presidente Itamar Franco (1992-94), hoje embaixador em Roma.
"Nós vamos levar essa questão [o que foi discutido anteontem na Casa Civil entre cinco ministros] depois da semana que vem, depois do feriado, para presidente. Nada será feito de uma forma apressada e nem nada será feito sem antes o presidente ouvir todas as partes e tomar uma decisão", afirmou Dirceu.
Anteontem, ministros reunidos na Casa Civil decidiram que é preciso de um tempo para chegar a uma consenso sobre o tema e é necessário conquistar o apoio do Legislativo e do Judiciário.
"Isso envolve o Itamaraty, envolve o Ministério da Defesa, da Justiça, a Casa Civil, o Congresso Nacional, a sociedade. Essa é uma questão democrática que nós vamos resolver, vamos equacionar adequadamente. Recebemos do governo passado o decreto, mas vamos fazê-lo de uma maneira que ajude o país a avançar na democracia, e não crie problemas para o país." Segundo Dirceu, Lula vai priorizar o diálogo, antes de tomar uma decisão.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou ontem que pretende dividir os arquivos históricos do país em duas partes. Documentos referentes às chamadas questões de Estado ficariam intactos. Os que envolvem as investigações ilegais, principalmente aqueles do período da ditadura militar (1964-1985), seriam analisados no Ministério da Justiça.
"O presidente me disse que quer resolver isso de uma forma serena e definitiva. Separar os documentos de Estado dos documentos da ditadura militar, que seriam encaminhados ao Ministério da Justiça. Lá, com a participação da igreja, de familiares [de pessoas desaparecidas] definiriam o destino desses documentos ilegais e irregulares", afirmou o jornalista Paulo Markun, apresentador do programa "Roda Viva" da TV Cultura, após encontro com Lula no Palácio do Planalto.
Documentos de Estado seriam todos aqueles produzidos pelos órgãos do governo como Itamaraty, por exemplo, e se referem a questões comerciais, de litígios fronteiriços e outros pontos estratégicos para o país.
Sobre a relação do governo com as Forças Armadas, o presidente disse, segundo Markun, que o clima é de cordialidade. "O presidente disse que estranhou a primeiro nota do Exército, que estava sem sentido. Mas que a segunda nota já deixou tudo resolvido."
Markun entregou ao presidente um exemplar de seu livro "O Sapo e o Príncipe", que relata a trajetória política de Lula e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Na capa, há uma foto de Lula e FHC juntos em 1978. (ES)


Texto Anterior: Saiba mais: Folha revelou que as imagens eram de padre
Próximo Texto: Para especialistas, governo teme entrar em conflito com os militares
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.