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RORAIMA
Parte dos recursos foram desviados de contratos com Transportes e Saúde, segundo Controladoria Geral da União
Convênios federais alimentavam "gafanhotos"
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Parte do dinheiro que alimentava os "gafanhotos" da folha salarial de Roraima era desviada irregularmente de convênios firmados com os ministérios dos
Transportes e da Saúde, em Brasília. O Ministério Público e a Polícia Federal descobriram a fraude
há cerca de dois meses.
O mapeamento do desvio de recursos federais está sendo feito
pela Controladoria Geral da
União. O subcontrolador-geral,
Jorge Hage, apontou dois casos
comprovados. O primeiro na
compra superfaturada de utilitários Blazer pela Secretaria de Segurança Pública e outro, no convênio 88/2000, firmado com a
Fundação Nacional de Saúde.
O objetivo era implantar uma
rede coletora de esgoto. Fiscais da
CGU constataram in loco que dos
105 poços previstos, apenas 40
saíram do papel. Nas obras, houve sobrepreço médio de 34,8%.
O dinheiro desviado ia parar na
conta geral do Estado, administrada pela Norte Serviços de Arrecadação e Pagamento Ltda.
Entre as operações de desvio de
dinheiro público decifradas pela
CGU, uma era singular. O governo estadual comprava asfalto da
Venezuela, mais barato e de pior
qualidade, pagando o mesmo
preço do nacional.
A diferença também era depositada na conta da Norte Serviços
de Arrecadação e Pagamentos
Ltda., uma empresa que não existe mais. A Folha procurou ontem
os responsáveis pelo Amazon
Bank, que sucedeu a Norte Serviços, mas não localizou nenhum
dos responsáveis.
Os "gafanhotos" são donas-de-casa e funcionários públicos cadastrados como funcionários-fantasmas na folha de pagamento
de Roraima. O caso veio a tona em
setembro do ano passado, quando a Folha divulgou o fato.
Desde então, a PF identificou
uma suposta quadrilha que se beneficiava do desvio de dinheiro
público formada por empresários
e políticos. Ao menos 5.500 pessoas foram envolvidas. O montante movimentado atinge cerca
de R$ 320 milhões.
Na quarta-feira, policiais federais de diversos Estados prenderam 41 pessoas, entre elas o ex-governador Neudo Campos (PP),
por suspeita de envolvimento
com a fraude. A operação foi batizada de Praga do Egito.
O desvio de recursos dos ministérios é mais um item elucidado
no esquema. Segundo a PF, não
há envolvimento das duas pastas.
A informação é de um integrante
da suposta quadrilha, que passou
a colaborar para reduzir sua punição: Carlos Eduardo Levischi, ex-diretor-geral do DER-RR (Departamento de Estradas e Rodagem),
preso anteontem.
Segundo o procurador Darlan
Dias, todas as provas contra os
suspeitos foram encontradas na
sede da empresa Norte Serviços,
em Boa Vista, em apenas uma
busca. "Havia vários cheques. Um
cheque de pagamento para "Zezinho" [um gafanhoto], que vinha
acompanhado de um recibo assinado por um procurador."
A PF vai passar os próximos
dias ouvindo as pessoas detidas.
Com a prisão dos suspeitos, relata
Dias, muitas testemunhas que temiam contar detalhes sobre o esquema passaram a falar.
Anteontem também foram
apreendidos diversos quilos de
documentos, que aguardam pela
análise em uma sala lacrada na
superintendência local da PF.
Os investigadores querem descobrir em que foi aplicado o dinheiro desviado. Segundo Dias,
os beneficiados recebiam em casa
malas de R$ 100 mil em espécie.
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