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São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2003

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RORAIMA

Parte dos recursos foram desviados de contratos com Transportes e Saúde, segundo Controladoria Geral da União

Convênios federais alimentavam "gafanhotos"

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Parte do dinheiro que alimentava os "gafanhotos" da folha salarial de Roraima era desviada irregularmente de convênios firmados com os ministérios dos Transportes e da Saúde, em Brasília. O Ministério Público e a Polícia Federal descobriram a fraude há cerca de dois meses.
O mapeamento do desvio de recursos federais está sendo feito pela Controladoria Geral da União. O subcontrolador-geral, Jorge Hage, apontou dois casos comprovados. O primeiro na compra superfaturada de utilitários Blazer pela Secretaria de Segurança Pública e outro, no convênio 88/2000, firmado com a Fundação Nacional de Saúde.
O objetivo era implantar uma rede coletora de esgoto. Fiscais da CGU constataram in loco que dos 105 poços previstos, apenas 40 saíram do papel. Nas obras, houve sobrepreço médio de 34,8%.
O dinheiro desviado ia parar na conta geral do Estado, administrada pela Norte Serviços de Arrecadação e Pagamento Ltda.
Entre as operações de desvio de dinheiro público decifradas pela CGU, uma era singular. O governo estadual comprava asfalto da Venezuela, mais barato e de pior qualidade, pagando o mesmo preço do nacional.
A diferença também era depositada na conta da Norte Serviços de Arrecadação e Pagamentos Ltda., uma empresa que não existe mais. A Folha procurou ontem os responsáveis pelo Amazon Bank, que sucedeu a Norte Serviços, mas não localizou nenhum dos responsáveis.
Os "gafanhotos" são donas-de-casa e funcionários públicos cadastrados como funcionários-fantasmas na folha de pagamento de Roraima. O caso veio a tona em setembro do ano passado, quando a Folha divulgou o fato.
Desde então, a PF identificou uma suposta quadrilha que se beneficiava do desvio de dinheiro público formada por empresários e políticos. Ao menos 5.500 pessoas foram envolvidas. O montante movimentado atinge cerca de R$ 320 milhões.
Na quarta-feira, policiais federais de diversos Estados prenderam 41 pessoas, entre elas o ex-governador Neudo Campos (PP), por suspeita de envolvimento com a fraude. A operação foi batizada de Praga do Egito.
O desvio de recursos dos ministérios é mais um item elucidado no esquema. Segundo a PF, não há envolvimento das duas pastas. A informação é de um integrante da suposta quadrilha, que passou a colaborar para reduzir sua punição: Carlos Eduardo Levischi, ex-diretor-geral do DER-RR (Departamento de Estradas e Rodagem), preso anteontem.
Segundo o procurador Darlan Dias, todas as provas contra os suspeitos foram encontradas na sede da empresa Norte Serviços, em Boa Vista, em apenas uma busca. "Havia vários cheques. Um cheque de pagamento para "Zezinho" [um gafanhoto], que vinha acompanhado de um recibo assinado por um procurador."
A PF vai passar os próximos dias ouvindo as pessoas detidas. Com a prisão dos suspeitos, relata Dias, muitas testemunhas que temiam contar detalhes sobre o esquema passaram a falar.
Anteontem também foram apreendidos diversos quilos de documentos, que aguardam pela análise em uma sala lacrada na superintendência local da PF.
Os investigadores querem descobrir em que foi aplicado o dinheiro desviado. Segundo Dias, os beneficiados recebiam em casa malas de R$ 100 mil em espécie.


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