|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
À frente da Radiobrás, Bucci critica PT
Presidente da estatal discorda do conceito defendido pela sigla de incentivar veículos de comunicação "independentes"
"A imprensa tem de discutir o governo, não o contrário", afirma o jornalista, que não teve ainda uma definição sobre permanência no cargo
VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
O presidente da Radiobrás,
Eugênio Bucci, diz que não cabe ao governo usar verbas de
publicidade para dar incentivo
a meios de comunicação, discorda do conceito defendido
pelo PT de "veículos independentes" e avalia que não cabe ao
governo fazer análise de mídia.
Para Bucci, não cabe à Radiobrás ser "porta-voz" nem fazer
"propaganda" do governo. Ele
defende a gestão da empresa,
marcada pelo planejamento estratégico e pela "impessoalidade no trato da informação".
Bucci entregou o cargo a Lula
após a eleição, mas ainda não
conversou com ele a respeito.
FOLHA - Bernardo Kucinski escreveu artigo em que critica a condução
da Radiobrás no governo Lula, dizendo que ela teve "vergonha" de
ser estatal. Como responde a isso?
EUGÊNIO BUCCI - A Radiobrás e
seus funcionários jamais tiveram vergonha de ser integrantes de um sistema estatal. A Radiobrás é uma estatal e, portanto, tudo que ela não pode ser é
partidária. Sendo uma estatal,
ela não pode se arvorar a ser
porta-voz da causas que supostamente sejam abraçadas pelos
integrantes do governo federal.
Não pode fazer assessoria de
imprensa, atuar como porta-voz do governo ou fazer propaganda de governo. Essas funções são da administração direta. O vício do governismo é
uma face do partidarismo. As
falas das autoridades do governo entram nas reportagens da
Radiobrás entre aspas, são falas de fontes que nós ouvimos,
não são parte de um programa,
de uma plataforma expressa da
Radiobrás. Ela não existe para
assumir a defesa de autoridades, ela existe para bem informar o cidadão.
FOLHA - Como o sr. responde à crítica de que a Radiobrás deixou de
construir uma "narrativa própria"
do governo Lula?
BUCCI - O que significa "narrativa própria" de governo? Eu
não consigo entender o significado dessa expressão. Quem
teria essa incumbência é quem
tem a voz do governo. Portanto, quem ocupa postos na administração direta, que é o governo por excelência. Evidentemente que não pode ser o reportariado da Radiobrás o incumbido de estabelecer tal categoria política cujos contornos eu desconheço.
FOLHA - Na crise política a Radiobrás discutiu como cobriria denúncias como o mensalão?
BUCCI - Com os escândalos de
corrupção ou com a cobertura
das políticas públicas, o procedimento é o mesmo. Há traços
distintivos entre a cobertura
geral da mídia e a da Radiobrás.
A gente nunca usa uma informação em "off", seja uma declaração, seja um extrato de um
documento ou uma imagem.
Tudo o que nós publicamos
tem origem declarada e tem
crédito. Nós não fazemos interpretação, não fazemos opinião,
análise, crítica. Damos os fatos,
as declarações, os contextos
para que o cidadão componha a
sua narrativa. Isso é fundamental para entender como
nós cobrimos o mensalão: com
normalidade, buscando informações oficiais em vários lugares onde isso estava sendo apurado, nas estatais, no Ministério Público ou no Congresso.
FOLHA - Houve alguma ingerência
do Palácio do Planalto na Radiobrás?
BUCCI - Não. Não houve. É importantíssimo que fique claro.
FOLHA - Na eleição, o PT chegou a
discutir uma proposta de incentivo a
veículos de mídia "independentes".
Como o sr. vê essa discussão?
BUCCI - Acho que deve ser feito
um reparo não ao PT, mas ao
linguajar que essa discussão
acabou consagrando, que é a
expressão veículos independentes. Por definição, um veículo jornalístico independente
é aquele que extrai os recursos
para seu sustento diretamente
da sua atividade principal. Um
jornal independente é aquele
cuja receita de vendas, assinaturas e de publicidade é suficiente para custear sua operação. É independente porque
não depende nem de verbas
públicas nem da participação
privilegiada de um anunciante
em particular. Eu acho engraçado porque, nessa discussão,
quando se refere a veículos independentes está-se falando
justamente de veículos dependentes. Verba de publicidade
de governo não pode ser usada
para estabelecimento de política de estímulo a veículos de comunicação. O governo, quando
compra espaço publicitário,
deve seguir critérios técnicos.
FOLHA - Outra idéia no PT é a de
que a imprensa deve fazer uma auto-reflexão da cobertura do governo
Lula e das eleições. O sr. concorda?
BUCCI - Quem tem de discutir a
imprensa não é o governo. A
imprensa tem de discutir o governo, mas não o contrário.
Texto Anterior: Congresso aprova verba extra para aumento salarial Próximo Texto: Elio Gaspari: Lula decidiu criar a Bolsa-PMDB Índice
|