São Paulo, Quarta-feira, 29 de Dezembro de 1999


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AERONÁUTICA
Almoço de desagravo ao ex-comandante da FAB vira ato contrário à política do presidente FHC
Militares da reserva criticam governo

FERNANDA DA ESCÓSSIA
ISABEL CLEMENTE
da Sucursal do Rio

O almoço de desagravo ao ex-comandante da Aeronáutica Walter Bräuer, organizado no Rio por militares da reserva ontem, se transformou num ato de protesto contra o governo federal.
O presidente do Clube de Aeronáutica, brigadeiro da reserva Ercio Braga, disse que a palavra "basta" sintetiza o sentimento dos militares e dos cidadãos brasileiros em relação a Fernando Henrique Cardoso.
Braga afirmou que a demissão de Bräuer atingiu a "fronteira do inaceitável" e que o objetivo do almoço era dar "um sinal amarelo", e que "o vermelho virá".
"Não se pode falar na legalidade de um governo que, por sua estratégia, torna-se ilegítimo", disse Braga após um discurso recheado de críticas às privatizações e à desnacionalização da economia.
Posteriormente, ele atribuiu a decisão sobre o "sinal vermelho" à nação e descartou qualquer hipótese de golpe militar.
Braga classificou de "deboche ou paradigma do ridículo" o fato de Bräuer ter sido exonerado por suas declarações, provocando brados entusiasmados da platéia e sorrisos do ex-comandante.
"Nós, militares, não temos uma varinha de condão que transforma parentes, amantes e corruptos contumazes em profissionais competentes", disse Braga.
Bräuer foi demitido no dia 17, depois de ter dito que o homem público tem de ter "vida ilibada". Ele se referia à investigação da CPI do Narcotráfico sobre a então assessora do ministro Elcio Alvares (Defesa, seu superior), Solange Antunes, acusada de envolvimento com o crime organizado.
Cerca de 650 militares -a maioria de oficiais da reserva- compareceram ao almoço, realizado no Clube de Aeronáutica, no centro do Rio. Apenas seis da ativa estavam fardados, mas não quiseram dar entrevista. Para os organizadores, havia 200 militares da ativa à paisana.
Segundo o brigadeiro da reserva Murillo Santos, organizador do almoço, o próprio Bräuer desencorajou os colegas da ativa a comparecerem.
Bräuer chegou ao almoço às 12h20 e foi aplaudido de pé. Não discursou, mas disse que não esperava tamanha intensidade nas manifestações de apoio. "Isso não é uma revolta, é uma opinião, não dos militares, mas da nação."
Outros três militares da reserva discursaram, corroborando as críticas ao governo, à demissão de Bräuer e a Alvares, chamado de "homem de recados" de FHC.
"Sua demissão não nos emocionaria em nada", afirmou Santos.
O general da reserva Jonas de Morais Corrêa, ex-comandante do Emfa (Estado-Maior das Forças Armadas), afirmou que a declaração de Bräuer sobre a ex-assessora "foi ajustada ao pensamento de todos os nossos colegas de farda e de todos os cidadãos decentes, cansados de tanto cinismo e sem-vergonhice".
Ele disse ainda que a principal habilitação para entrar no grupo dirigente (no governo FHC) é "ter sido ativo na subversão ideológica de esquerda, disfarçada de reação à ditadura militar; ter sido assaltante de bancos, sequestrador, guerrilheiro urbano ou rural".
Já Santos disse que os militares "não querem mais se imiscuir na vida política do país".
Entre os presentes estavam o brigadeiro da reserva Ivan Frota, candidato à Presidência da República pelo PMN em 1994 e 1998, o deputado federal Jair Bolsonaro (PPB-RJ), capitão da reserva do Exército, e o cardiologista Enéas Carneiro, também ex-candidato à Presidência pelo Prona.
"Para o crime que ele (FHC) está cometendo contra o país, sua pena deveria ser o fuzilamento", disse o deputado Bolsonaro.
Frota sugeriu o impeachment de FHC, comandado pelos militares. "Não chamaria um movimento popular de golpe. Se ele foi eleito e não corresponde aos anseios, o povo tem o direito de "deselegê-lo'", afirmou.
Tal proposta não foi endossada pelos demais militares. "O presidente está muito longe desse processo, mas ele tem de se modificar", afirmou o brigadeiro Santos.


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