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AERONÁUTICA
Almoço de desagravo ao ex-comandante da FAB vira ato contrário à política do presidente FHC
Militares da reserva criticam governo
FERNANDA DA ESCÓSSIA
ISABEL CLEMENTE
da Sucursal do Rio
O almoço de desagravo ao ex-comandante da Aeronáutica Walter Bräuer, organizado no Rio por
militares da reserva ontem, se
transformou num ato de protesto
contra o governo federal.
O presidente do Clube de Aeronáutica, brigadeiro da reserva Ercio Braga, disse que a palavra
"basta" sintetiza o sentimento dos
militares e dos cidadãos brasileiros em relação a Fernando Henrique Cardoso.
Braga afirmou que a demissão
de Bräuer atingiu a "fronteira do
inaceitável" e que o objetivo do almoço era dar "um sinal amarelo",
e que "o vermelho virá".
"Não se pode falar na legalidade
de um governo que, por sua estratégia, torna-se ilegítimo", disse
Braga após um discurso recheado
de críticas às privatizações e à desnacionalização da economia.
Posteriormente, ele atribuiu a
decisão sobre o "sinal vermelho"
à nação e descartou qualquer hipótese de golpe militar.
Braga classificou de "deboche
ou paradigma do ridículo" o fato
de Bräuer ter sido exonerado por
suas declarações, provocando
brados entusiasmados da platéia
e sorrisos do ex-comandante.
"Nós, militares, não temos uma
varinha de condão que transforma parentes, amantes e corruptos
contumazes em profissionais
competentes", disse Braga.
Bräuer foi demitido no dia 17,
depois de ter dito que o homem
público tem de ter "vida ilibada".
Ele se referia à investigação da CPI
do Narcotráfico sobre a então assessora do ministro Elcio Alvares
(Defesa, seu superior), Solange
Antunes, acusada de envolvimento com o crime organizado.
Cerca de 650 militares -a
maioria de oficiais da reserva-
compareceram ao almoço, realizado no Clube de Aeronáutica, no
centro do Rio. Apenas seis da ativa estavam fardados, mas não
quiseram dar entrevista. Para os
organizadores, havia 200 militares da ativa à paisana.
Segundo o brigadeiro da reserva
Murillo Santos, organizador do
almoço, o próprio Bräuer desencorajou os colegas da ativa a comparecerem.
Bräuer chegou ao almoço às
12h20 e foi aplaudido de pé. Não
discursou, mas disse que não esperava tamanha intensidade nas
manifestações de apoio. "Isso não
é uma revolta, é uma opinião, não
dos militares, mas da nação."
Outros três militares da reserva
discursaram, corroborando as
críticas ao governo, à demissão de
Bräuer e a Alvares, chamado de
"homem de recados" de FHC.
"Sua demissão não nos emocionaria em nada", afirmou Santos.
O general da reserva Jonas de
Morais Corrêa, ex-comandante
do Emfa (Estado-Maior das Forças Armadas), afirmou que a declaração de Bräuer sobre a ex-assessora "foi ajustada ao pensamento de todos os nossos colegas
de farda e de todos os cidadãos
decentes, cansados de tanto cinismo e sem-vergonhice".
Ele disse ainda que a principal
habilitação para entrar no grupo
dirigente (no governo FHC) é "ter
sido ativo na subversão ideológica
de esquerda, disfarçada de reação
à ditadura militar; ter sido assaltante de bancos, sequestrador,
guerrilheiro urbano ou rural".
Já Santos disse que os militares
"não querem mais se imiscuir na
vida política do país".
Entre os presentes estavam o
brigadeiro da reserva Ivan Frota,
candidato à Presidência da República pelo PMN em 1994 e 1998, o
deputado federal Jair Bolsonaro
(PPB-RJ), capitão da reserva do
Exército, e o cardiologista Enéas
Carneiro, também ex-candidato à
Presidência pelo Prona.
"Para o crime que ele (FHC) está cometendo contra o país, sua
pena deveria ser o fuzilamento",
disse o deputado Bolsonaro.
Frota sugeriu o impeachment
de FHC, comandado pelos militares. "Não chamaria um movimento popular de golpe. Se ele foi
eleito e não corresponde aos anseios, o povo tem o direito de "deselegê-lo'", afirmou.
Tal proposta não foi endossada
pelos demais militares. "O presidente está muito longe desse processo, mas ele tem de se modificar", afirmou o brigadeiro Santos.
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