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Dossiê lista brasileiros sumidos na era Condor
Comissão relaciona 6 pessoas que desapareceram na Argentina como possíveis alvos do acordo entre as ditaduras militares
Em contrapartida, sete
argentinos sumiram no
Brasil de 1975, ano que é
considerado o de início da
operação conjunta, a 1980
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A nova edição do "Dossiê dos
Mortos e Desaparecidos Políticos a partir de 1964", organizado pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos
Políticos, lista pelo menos seis
brasileiros que desapareceram
na Argentina como possíveis
alvos da Operação Condor,
acordo entre as ditaduras do
Cone Sul nos anos 70 para combater opositores. Em contrapartida, pelo menos sete argentinos desapareceram no Brasil
entre 1975 e 1980, segundo o levantamento da comissão, que
deverá ser lançado em 2008.
Os brasileiros desaparecidos
na Argentina pós-75, quando a
Condor foi oficiosamente criada, são Francisco Tenório Cerqueira Júnior (1976), Roberto
Rascardo Rodrigues (1977),
Luiz Renato do Lago Faria
(1980), Maria Regina Marcondes Pinto de Espinosa (1976),
Sidney Fix Marques dos Santos
(1976) e Walter Kenneth Nelson Fleury (1976).
Os argentinos sumidos no
Brasil são Norberto Armando
Habegger (1978), Lorenzo Ismael Viñas (1980), Horacio Domingo Campiglia (1980), Mónica Susana Pinus de Binstock
(1980), Jose Oscar Adur (1980),
Liliana Inês Goldemberg
(1980) e Eduardo Gonzalo Escabosa (1980). Os casos de Viñas e Campiglia passaram a ser
investigados pela Justiça italiana no final dos anos 90 porque
eles tinham dupla cidadania.
O primeiro desapareceu ao
cruzar a fronteira da Argentina
com o Brasil, de ônibus, perto
de Uruguaiana (RS), e o segundo foi seqüestrado no aeroporto do Galeão, no Rio, junto com
a guerrilheira Mónica Binstock. O processo na Itália resultou, no dia 24, em ordens de
captura internacional emitidas
pela Justiça italiana contra pelo menos 11 militares e policiais
brasileiros. Os outros casos de
argentinos desaparecidos no
contexto da Operação Condor
são investigados pela Justiça
argentina. No Brasil, não há registro de processo criminal sobre o assunto.
"Pré-Condor"
A primeira edição do dossiê
formulado pela comissão dos
mortos e desaparecidos, de
1995, serviu de base para a lei
9.140/95, que regulou o reconhecimento da responsabilidade estatal por mortes e desaparecimentos por motivação política ocorridos entre 1961 e
agosto de 1979. A nova edição
listará, ao todo, cerca de 402
mortos e desaparecidos.
Segundo a historiadora Janaína Teles, membro da comissão e doutoranda em história
pela USP, o levantamento se
baseia em documentos oficiais
e em relatos de testemunhas.
Janaína é sobrinha de Criméia
Almeida, que foi guerrilheira
no Araguaia (1972-1974) e também integra a entidade.
No trecho sobre a Condor, a
comissão destaca o pouco acesso a documentos militares brasileiros relativos à operação.
"A participação brasileira na
operação foi mais restrita, embora não seja conhecida devido
ao sigilo dos documentos militares no Brasil. Isto ocorreu em
decorrência da dinâmica da
chamada "distensão política",
promovida pelo governo do general Ernesto Geisel, e pelo
desprezo que os militares brasileiros nutriam pelos serviços
de inteligências dos demais
países. Sabe-se, porém, que
ainda era grande a preocupação
dos brasileiros com a Junta de
Coordenação Revolucionária,
idealizada em 1972 pelos grupos MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionaria, do
Chile), Tupamaros (Uruguai) e
ERP (Ejército Revolucionário
Del Pueblo, da Argentina), e
que contava com a participação
do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), do Brasil", aponta o dossiê.
O levantamento sugere que
outras atividades conjuntas de
países sob ditadura já haviam
eliminado brasileiros no exterior. Documentos liberados recentemente citam, por exemplo, uma "Operação Mercúrio",
que estaria por trás do desaparecimento, em janeiro de 1974,
dos guerrilheiros brasileiros
João Batista Rita Pereda e Joaquim Pires Cerveira. Nessa fase
pré-Condor, outros seis brasileiros desapareceram no Chile
entre 1973 e 1974: Antenor Machado dos Santos (1973), Jane
Vanini (1974), Luis Carlos de
Almeida (1973), Nelson Souza
Kohl (1973), Túlio Roberto
Cardoso Quintiliano (1973) e
Wânio José de Matos (1973).
Outro brasileiro, Luiz Renato
Pires de Almeida, desapareceu
na Bolívia em outubro de 1970.
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