São Paulo, terça, 29 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CELSO PINTO
Como foi o "grampo" do BNDES

O presidente Fernando Henrique Cardoso foi informado, no início da semana passada, das conclusões preliminares das investigações da Polícia Federal sobre o "grampo" no BNDES. O esquema foi todo levantado, do nome dos grampeadores ao dos financiadores, mas faltam provas para colocá- los na cadeia, segundo uma fonte do governo.
A escuta telefônica no BNDES tem vários anos de idade. O prédio do BNDES foi sede do Serviço Nacional de Informações, o SNI, no Rio, e a operação do grampo tem ramificações passadas e presentes com os arapongas criados no governo militar.
No caso da escuta que levou à queda do ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros e do presidente do BNDES, André Lara Resende, a quadrilha que operou o grampo é formada por cerca de dez pessoas, ex- membros da comunidade de informações. Há indícios de que o longo esquema de escuta teve apoio logístico da Telerj, enquanto ela era estatal, especialmente graças a uma administração passada.
O objetivo primeiro da escuta era fazer dinheiro, o que é fácil de explicar. O BNDES comandou a privatização de estatais que valiam dezenas de bilhões de dólares e informações privilegiadas eram preciosas para muita gente.
No caso específico do grampo da privatização da Telebrás, teria havido um financiador da operação. A investigação levou a um empresário ligado ao consórcio brasileiro da Telemar, que comprou a Tele Norte Leste, mas que, findo o leilão, encontrou resistências tanto de Mendonça de Barros quanto de Resende. A suposta existência deste financiador não limitou o uso das fitas, pela quadrilha, para obter dinheiro de outras fontes.
A história que a PF levantou tem nome e sobrenome dos envolvidos. Não tem, contudo, provas incriminatórias definitivas. Uma das dificuldades da investigação é que, por se tratar de ex-membros da comunidade de informações, eles têm trânsito fácil entre os atuais membros da comunidade.
Se depender do ânimo do presidente, a apuração vai até o fim.
² Feliz Natal?
Típicas do Natal, as imagens de filas nos shoppings e entusiasmo de consumidores têm induzido alguns à conclusão apressada de que Papai Noel presenteou os brasileiros com o fim da crise econômica. Calma lá.
O ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore lembra que as vendas de dezembro, sazonalmente, ficam 30% acima da média do ano. Se crescerem, digamos, 20% acima da média do ano, parece uma boa notícia, mas não é.
Comparar resultados com dezembro do ano passado elimina a distorção sazonal, mas também pode ser perigoso. A revelação de que as consultas no Serviço de Proteção ao Cheque foram 1,8% superiores às de dezembro de 97 ou de que as do Telecheque foram 3,4% superiores apenas mostra quantidades, não valores. Se os consumidores preferiram comprar bens de pequeno valor, as vendas físicas podem crescer, mas o faturamento, que é o que interessa, pode cair.
Pastore lembra outras armadilhas. Os shopping centers se concentram em confecções e vendas de "bazar". Constatar aumentos significativos nas vendas de um ou vários shoppings não é garantia de aumento no faturamento do comércio.
Cadeias de supermercados passaram a vender bens de maior valor, de eletroeletrônicos a computadores. Ajuda a engordar o faturamento dos supermercados, mas não, necessariamente, do comércio como um todo.
Em 97, lembra Pastore, o Natal também foi melhor do que a catástrofe que se esperava. Nem por isso, contudo, a crise sumiu, até porque os fatores que levam ao constrangimento do crescimento continuam intactos.
Na crise da Ásia, em 97, a recuperação do crédito externo foi rápida, o que permitiu uma queda acelerada dos juros e uma melhora no cenário econômico. Nesta crise, perdeu-se muito mais dólares do que em 97 e ainda não há qualquer sinal firme de retomada do crédito externo.
O problema é que uma avaliação mais ponderada sobre as vendas de Natal só será possível quando os números gerais do comércio estiverem disponíveis, daqui a várias semanas. Até lá, prevalecerão impressões. Ajuda a aquecer o coração, mas pode ser um consolo de curta duração.




Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.