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CELSO PINTO
Como foi o "grampo" do BNDES
O presidente Fernando Henrique Cardoso foi informado, no
início da semana passada, das
conclusões preliminares das investigações da Polícia Federal sobre o
"grampo" no BNDES. O esquema
foi todo levantado, do nome dos
grampeadores ao dos financiadores, mas faltam provas para colocá- los na cadeia, segundo uma
fonte do governo.
A escuta telefônica no BNDES
tem vários anos de idade. O prédio
do BNDES foi sede do Serviço Nacional de Informações, o SNI, no
Rio, e a operação do grampo tem
ramificações passadas e presentes
com os arapongas criados no governo militar.
No caso da escuta que levou à
queda do ministro Luiz Carlos
Mendonça de Barros e do presidente do BNDES, André Lara Resende, a quadrilha que operou o
grampo é formada por cerca de dez
pessoas, ex- membros da comunidade de informações. Há indícios
de que o longo esquema de escuta
teve apoio logístico da Telerj, enquanto ela era estatal, especialmente graças a uma administração passada.
O objetivo primeiro da escuta
era fazer dinheiro, o que é fácil de
explicar. O BNDES comandou a
privatização de estatais que valiam dezenas de bilhões de dólares
e informações privilegiadas eram
preciosas para muita gente.
No caso específico do grampo da
privatização da Telebrás, teria havido um financiador da operação.
A investigação levou a um empresário ligado ao consórcio brasileiro da Telemar, que comprou a Tele
Norte Leste, mas que, findo o leilão, encontrou resistências tanto
de Mendonça de Barros quanto de
Resende. A suposta existência deste financiador não limitou o uso
das fitas, pela quadrilha, para obter dinheiro de outras fontes.
A história que a PF levantou tem
nome e sobrenome dos envolvidos.
Não tem, contudo, provas incriminatórias definitivas. Uma das dificuldades da investigação é que,
por se tratar de ex-membros da comunidade de informações, eles
têm trânsito fácil entre os atuais
membros da comunidade.
Se depender do ânimo do presidente, a apuração vai até o fim.
²
Feliz Natal?
Típicas do Natal, as imagens de
filas nos shoppings e entusiasmo
de consumidores têm induzido alguns à conclusão apressada de que
Papai Noel presenteou os brasileiros com o fim da crise econômica.
Calma lá.
O ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore lembra
que as vendas de dezembro, sazonalmente, ficam 30% acima da
média do ano. Se crescerem, digamos, 20% acima da média do ano,
parece uma boa notícia, mas não
é.
Comparar resultados com dezembro do ano passado elimina a
distorção sazonal, mas também
pode ser perigoso. A revelação de
que as consultas no Serviço de Proteção ao Cheque foram 1,8% superiores às de dezembro de 97 ou de
que as do Telecheque foram 3,4%
superiores apenas mostra quantidades, não valores. Se os consumidores preferiram comprar bens de
pequeno valor, as vendas físicas
podem crescer, mas o faturamento, que é o que interessa, pode cair.
Pastore lembra outras armadilhas. Os shopping centers se concentram em confecções e vendas de
"bazar". Constatar aumentos significativos nas vendas de um ou
vários shoppings não é garantia de
aumento no faturamento do comércio.
Cadeias de supermercados passaram a vender bens de maior valor, de eletroeletrônicos a computadores. Ajuda a engordar o faturamento dos supermercados, mas
não, necessariamente, do comércio como um todo.
Em 97, lembra Pastore, o Natal
também foi melhor do que a catástrofe que se esperava. Nem por isso, contudo, a crise sumiu, até porque os fatores que levam ao constrangimento do crescimento continuam intactos.
Na crise da Ásia, em 97, a recuperação do crédito externo foi rápida, o que permitiu uma queda acelerada dos juros e uma melhora no
cenário econômico. Nesta crise,
perdeu-se muito mais dólares do
que em 97 e ainda não há qualquer sinal firme de retomada do
crédito externo.
O problema é que uma avaliação
mais ponderada sobre as vendas
de Natal só será possível quando os
números gerais do comércio estiverem disponíveis, daqui a várias
semanas. Até lá, prevalecerão impressões. Ajuda a aquecer o coração, mas pode ser um consolo de
curta duração.
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