São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 2005

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QUESTÃO AGRÁRIA

Ministro afirma que não tem como garantir metas no campo

MST anuncia "abril vermelho" e Rossetto diz não ter verba

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Diante da cobrança dos movimentos de sem-terra e o anúncio de mais um "abril vermelho" pelo MST ontem em São Paulo, o ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) disse que não tem como garantir o cumprimento de metas de reforma agrária com o Orçamento disponível.
"Não posso dizer que eu vou cumprir uma meta quando, por razões que são legítimas, fazem parte do debate público, há uma diminuição de recursos. Objetivamente: meu Orçamento hoje para 2005 corresponde a menos 25% do que executei no ano passado", afirmou o ministro em debate sobre o tema na sede da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Rossetto respondia a uma bateria de críticas e cobranças de lideranças do MST, da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e de dirigentes da CUT, principalmente em relação a metas e verbas.
A meta para 2005 -que o ministro não garante cumprir- é assentar 115 mil novas famílias. O ministério informou que, de R$ 750 milhões orçados para comprar terras, só R$ 480 milhões poderão ser usados em 2005. No ano passado, foram gastos na ação R$ 984 milhões. A verba total da pasta, depois do contingenciamento, é R$ 1,7 bilhão (menor que o empenhado total em 2004, que foi foi R$ 2,3 bilhões).
No governo Lula, as metas de reforma agrária propostas pelo próprio ministério jamais foram cumpridas. Da previsão de 175 mil famílias assentadas em dois anos, 118 mil receberam terras.
"Nós lutamos, e agora a primeira porrada é da gente. Os órgãos que diziam que não tinham dinheiro, a gente chamava de corrupto. Botava o pé na porta, invadia. E agora? Quem está lá são nossos companheiros. Sabemos que eles não são corruptos. E o discurso é o mesmo, que não tem dinheiro", disse Luzia Fati, dirigente da CUT em Santarém (PA).
Em resposta, o ministro disse que era preciso travar uma batalha "ideológica" pela reforma agrária. Foi contraditório. Primeiro, afirmou: "Não dispomos de correlação de forças neste momento [para a reforma]". Depois, chegou a dizer que estava "otimista" em relação ao Orçamento.
O presidente da CUT, Luiz Marinho, mediador do debate, fez campanha pela reeleição em meio às críticas: "Prefiro a contradição desses problemas a ver o poder ser tomado pelas elites em 2006".
O MST aproveitou o debate ontem na CUT para anunciar a agenda de invasões e mobilização no mês de abril -o que se convencionou chamar "abril vermelho". "Vamos fazer muito movimento pela reforma agrária. Vamos retomar a luta por novos assentamentos", convocou o dirigente do MST, Delwek Matheus.
No dia 15 de abril, haverá uma manifestação na praça da Sé, em São Paulo. No dia 17, será o início da marcha de sem-terra em todo o país -a previsão é chegar em Brasília em 3 de maio.
Questionado sobre o "abril vermelho", Rossetto disse: "O país tem leis, regras e normas que todos devem respeitar. Paralelo a isso, existe um ambiente permanente de negociação".


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