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QUESTÃO AGRÁRIA
Ministro afirma que não tem como garantir metas no campo
MST anuncia "abril vermelho"
e Rossetto diz não ter verba
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Diante da cobrança dos movimentos de sem-terra e o anúncio
de mais um "abril vermelho" pelo
MST ontem em São Paulo, o ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) disse que
não tem como garantir o cumprimento de metas de reforma agrária com o Orçamento disponível.
"Não posso dizer que eu vou
cumprir uma meta quando, por
razões que são legítimas, fazem
parte do debate público, há uma
diminuição de recursos. Objetivamente: meu Orçamento hoje para
2005 corresponde a menos 25%
do que executei no ano passado",
afirmou o ministro em debate sobre o tema na sede da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Rossetto respondia a uma bateria de críticas e cobranças de lideranças do MST, da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e de dirigentes da CUT, principalmente
em relação a metas e verbas.
A meta para 2005 -que o ministro não garante cumprir- é
assentar 115 mil novas famílias. O
ministério informou que, de
R$ 750 milhões orçados para
comprar terras, só R$ 480 milhões
poderão ser usados em 2005. No
ano passado, foram gastos na
ação R$ 984 milhões. A verba total
da pasta, depois do contingenciamento, é R$ 1,7 bilhão (menor que
o empenhado total em 2004, que
foi foi R$ 2,3 bilhões).
No governo Lula, as metas de
reforma agrária propostas pelo
próprio ministério jamais foram
cumpridas. Da previsão de 175
mil famílias assentadas em dois
anos, 118 mil receberam terras.
"Nós lutamos, e agora a primeira porrada é da gente. Os órgãos
que diziam que não tinham dinheiro, a gente chamava de corrupto. Botava o pé na porta, invadia. E agora? Quem está lá são
nossos companheiros. Sabemos
que eles não são corruptos. E o
discurso é o mesmo, que não tem
dinheiro", disse Luzia Fati, dirigente da CUT em Santarém (PA).
Em resposta, o ministro disse
que era preciso travar uma batalha "ideológica" pela reforma
agrária. Foi contraditório. Primeiro, afirmou: "Não dispomos de
correlação de forças neste momento [para a reforma]". Depois,
chegou a dizer que estava "otimista" em relação ao Orçamento.
O presidente da CUT, Luiz Marinho, mediador do debate, fez
campanha pela reeleição em meio
às críticas: "Prefiro a contradição
desses problemas a ver o poder
ser tomado pelas elites em 2006".
O MST aproveitou o debate ontem na CUT para anunciar a
agenda de invasões e mobilização
no mês de abril -o que se convencionou chamar "abril vermelho". "Vamos fazer muito movimento pela reforma agrária. Vamos retomar a luta por novos assentamentos", convocou o dirigente do MST, Delwek Matheus.
No dia 15 de abril, haverá uma
manifestação na praça da Sé, em
São Paulo. No dia 17, será o início
da marcha de sem-terra em todo
o país -a previsão é chegar em
Brasília em 3 de maio.
Questionado sobre o "abril vermelho", Rossetto disse: "O país
tem leis, regras e normas que todos devem respeitar. Paralelo a isso, existe um ambiente permanente de negociação".
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