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Detalhes contradizem versão "banco de dados"
Relatório feito pela Casa Civil destacou informações fora do padrão, como nome do funcionário que autorizava gastos em 1998
Ordem para montar dossiê foi dada em fevereiro, pela secretária-executiva da pasta, quando a CPI nem sequer havia sido instalada
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Detalhes do dossiê sobre gastos do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso preparado
pela Casa Civil contradizem a
versão oficial de que o governo
se limitava, de forma burocrática, a organizar dados para alimentar o Suprim, o sistema de
controle de suprimento de fundos da Presidência.
O relatório de 13 páginas
-cuja autoria foi reconhecida
pela Casa Civil- mostra a seleção de informações bastante
diferentes do padrão de dados
lançados no Suprim e estranhas a um trabalho definido como um "instrumento de gestão", sem viés político.
Numa das páginas, a coluna
"observações" do relatório anota o nome do funcionário que
autorizava gastos no Palácio
Planalto em 1998, como uma
possível sugestão a que fosse
convocado a depor na CPI dos
Cartões. A Casa Civil não encontrou justificativa para isso.
Tampouco para, ao lado do registro da compra de 180 garrafas de champanhe, observar
que parte da nota, no valor de
R$ 2.250, foi paga pelo comitê
da campanha de reeleição.
Os dados foram recuperados
de processos de prestação de
contas de gastos da gestão FHC
guardados em arquivo morto,
num dos prédios anexos ao Planalto. Um trabalho "descomunal", segundo relato de quem
participou da empreitada.
O principal inimigo da versão
do Planalto é a ausência de determinação ou pedido formal
para o manuseio ou organização das despesas da administração tucana, conforme a Folha mostrou.
O primeiro argumento a ruir
foi a suposta recomendação do
TCU (Tribunal de Contas da
União) para que o governo incluísse os gastos de 1998 a 2002
no sistema de controle de dados. Não há nenhuma recomendação formal do tribunal
nesse sentido. Apenas uma sugestão, feita em acórdão de
2004, de maior controle nos
gastos com cartões corporativos. Na ocasião, o tribunal criticou saques em dinheiro, em valores expressivos, nos cartões
da Presidência sob Lula.
A Folha apurou que não havia movimentação no Planalto
para organizar os processos anteriores a 2003 até o governo
verificar que não conseguiria
barrar investigação sobre os
gastos de Lula no Congresso.
A ordem para organizar a base de dados foi dada pela secretária-executiva da Casa Civil,
Erenice Guerra, na primeira
quinzena de fevereiro, quando
a CPI nem sequer havia sido
instalada. Mais do que uma decisão burocrática, tratou-se, no
mínimo, de uma ação politicamente "preventiva".
Por pressão dos aliados governistas, o plano de trabalho
da comissão definiu como objetivo "investigar as possíveis
irregularidades" nos gastos
"desde 1998". Mas o único requerimento de informações
aprovado até agora não trata de
gastos da Presidência.
A extrema desorganização
dos processos de prestação de
contas dos gastos no segundo
mandato de FHC e problemas
tecnológicos foram motivos
apontados pela Casa Civil para
criar um banco de dados paralelo ao Suprim, num trabalho
preliminar de digitação, cujo
resultado seria revisto e incluído na base oficial do Suprim.
Esse banco de dados paralelo
deu origem ao relatório, que o
governo nega ser um dossiê.
Nos últimos dias, um único
argumento parece fazer sentido: o de que faltava, no documento, munição para ferir a
oposição, como se esperaria de
um dossiê. Que dano poderia
causar a revelação de gasto de
R$ 30 com pagamento de gorjeta a funcionários de um hotel
em Porto Alegre ou da compra,
por R$ 16, de creme de leite?
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