UOL

São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MUDANÇA E CONFLITO

Após reunião com Lula, petistas reafirmam que vão votar contra a proposta de reforma da Previdência se não houver mudanças

Radicais mantêm voto contra o governo

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Deputados da ala considerada radical do PT não amenizaram o discurso ontem após o almoço com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O encontro teve o objetivo de contornar divergências da bancada petista em torno da proposta de reforma da Previdência que será encaminhada hoje ao Congresso Nacional.
Eles saíram do almoço reafirmando que votarão contra a proposta se não forem excluídas a taxação dos inativos e a contribuição dos servidores para fundos complementares, se quiserem ganhar acima do teto de R$ 2.400.
A postura será mantida, segundo eles, mesmo com a ameaça de serem expulsos do partido. O deputado Lindberg Farias (PT-RJ) disse que o governo pode ter uma ruptura na sua base. "A manutenção da cobrança dos inativos vai criar uma fratura na base do governo. Vão ter que expulsar não só deputados do PT. O PC do B vai para fora do governo, o Miro Teixeira [PDT] vai para fora do ministério [Comunicações] e o PSB vai rachar."
Lindberg e a senadora Heloisa Helena (PT-AL) abriram uma crise com a ala governista do PT após se encontrarem com o presidente do PDT, Leonel Brizola, no domingo, para formar uma oposição organizada contra a proposta de reforma da Previdência.
Deputados da ala moderada do PT chegaram a defender que Lindberg perdesse a vice-liderança na Câmara. Ontem, no entanto, o discurso a respeito do deputado foi amenizado. O presidente do partido, José Genoino, disse que não há mais conversa com a senadora, mas que há espaço para negociação com o deputado.
Uma reunião da bancada petista para decidir sobre o destino de Lindberg, marcada para ontem, foi adiada. O deputado negou que tenha havido um acordo.
"No campo moderado há os falcões, autoritários, que querem minha cabeça. E há outros, como o [Nelson] Pellegrino [líder da bancada], que estão abertos ao diálogo", afirmou.
Os radicais reclamaram mais uma vez de que o governo não estaria aberto ao debate, e que Lula teria ido ao almoço apenas para convencê-los de uma proposta já fechada com os governadores.
No almoço, falaram as deputadas Dra. Clair (PR) e Francisca Trindade (PI). A primeira teria se queixado que o governo não teria ouvido a bancada do PT durante a elaboração da proposta de reforma da Previdência. A segunda teria defendido a necessidade de um debate sobre a proposta.
A deputada Luciana Genro (RS) disse que ela e os demais deputados de alas mais à esquerda do partido não quebraram o protocolo para defender suas propostas porque "optaram por uma postura mais educada".

Beijo
Apesar dos sucessivos ataques ao governo, Luciana chegou a dar um beijo em Lula durante o almoço. "Não tenho nenhuma raiva pessoal dele [Lula]. Ele sempre me trata muito bem. Temos é divergências políticas, como as que tenho com o meu pai [Tarso Genro, secretário especial do Conselho Nacional de Desenvolvimento Social]", disse ela.
Os deputados João Fontes (SE), Babá (PA), Lindberg e Luciana, que têm adotado uma posição mais dura em relação ao governo, não saíram na foto da bancada com Lula e a primeira-dama Marisa Letícia após o almoço. Luciana disse que eles ficaram constrangidos de posar ao lado do presidente. "Ficamos em um canto."
Ontem o governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, defendeu em Brasília a expulsão dos petistas que votarem contra as reformas. Segundo a assessoria do governador, Zeca usou a expressão "ou sai ou é saído" para dizer que o congressista do partido, após votar contra as reformas, deve sair espontaneamente do PT ou ser expulso.


Texto Anterior: "Marcha" com governadores segue indefinida
Próximo Texto: Frases
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.