São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2004

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RETÓRICA OFICIAL

Ao PTB, presidente afirma que cumprirá acordos de Dirceu

Lula diz que herança é mais que maldita e promete cargos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em um churrasco anteontem à noite com o PTB, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a herança que recebeu do antecessor, Fernando Henrique Cardoso, é "para lá de maldita".
E prometeu que os acordos feitos com o partido sobre a nomeação para cargos serão cumpridos. Disse ainda que a expressão "Brasil na UTI" foi cunhada por Armínio Fraga, presidente do Banco Central no governo do tucano.
Num discurso de cerca de 50 minutos, Lula atacou duramente FHC, declarando que recebeu o país em condições muito piores do que pôde falar publicamente. "Mas agora já saímos da UTI e estamos andando pelo hospital sem ajuda da enfermeira", afirmou, segundo relato de petebistas.
Foi nesse momento que Lula revelou que Armínio, num encontro 15 dias antes da posse na Presidência, fez o diagnóstico de que o Brasil estava na UTI. "A herança [do governo FHC] não é maldita, é para lá de maldita", disse Lula.
No geral, porém, o presidente foi otimista. Afirmou que há melhoria dos indicadores econômicos e repetiu a previsão de que o país crescerá neste ano ao menos 3,5%. Disse também que gostaria de deixar o salário mínimo acima dos R$ 300 (anunciou ontem R$ 260) e que mais pessoas pagassem Imposto de Renda, o que significaria um salário maior para um maior número de trabalhadores.

Ministérios e cargos
Além do jantar com cerca de cem pessoas -um churrasco de R$ 10 mil na Granja do Torto pago pelos petebistas-, Lula tomou café da manhã com 35 dos 53 deputados do PP. O PTB, com 52 deputados, é o quinto maior partido da Câmara. O PP é o quarto.
No jantar, o presidente disse que sabe que o PTB merece mais do que um ministério, dando a entender que, no futuro, o partido ganhará outro. O PTB tem só o do Turismo. "Sejam pacientes. O Zé Dirceu [José Dirceu, ministro da Casa Civil] e os ministros vão cumprir todos os acordos para nomeação. Isso é contrato, e contrato a gente cumpre no Brasil", afirmou Lula, segundo relatos.
Ao elogiar Dirceu, o presidente disse que deve a ele, em grande parte, o fato de o governo ter uma "base ampla" no Congresso. Para Lula, por causa da importância do papel que o ministro tem, a oposição quis "detoná-lo" após o surgimento do caso Waldomiro Diniz.
Lula repetiu a promessa de contornar as dificuldades de articular sua base reunindo-se a cada 20 dias com uma espécie de conselho político, formado por líderes e presidentes dos partidos aliados.
O café da manhã com o PP teve um resultado imediato: o partido deixou de obstruir a pauta da Câmara, o que impediria a votação da medida provisória da Cofins.
"Entendi isso como um pedido de trégua política para que a gente possa efetivamente continuar progredindo. Ele [Lula] deu a entender que queria que nós suspendêssemos a posição de obstrução e que, daqui a duas semanas, possamos ter uma conversa para aprofundar questões que são tão importantes para o partido", afirmou o deputado Pedro Henry (MT), líder do PP na Câmara.
O presidente, segundo Henry, disse: "A falta de investimento do governo, que é um investidor e gerador de emprego forte, está levando a iniciativa privada a também não fazê-lo e o investidor estrangeiro a acompanhar isso".


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