São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2004

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Mr. da Silva

Pouco depois das 14h acabou a novela. O site do "Valor, a Folha On Line, a Globo Online entraram todos com títulos curtos e a mesma informação de que o novo salário mínimo seria de R$ 260.
Não demorou e as duas centrais, CUT e Força Sindical, surgiram na CBN e por todo lado chamando o valor de "lastimável" e "vergonhoso".
Mas não diriam outra coisa, às vésperas de suas grandes "festas" do 1º de maio em São Paulo -que estão sendo financiadas por multinacionais, como noticiou a Folha e reproduziram jornais do exterior.
Melhor ficar com a pronta reação de José Simão, no UOL. Ele abriu uma enquete para saber "o que você vai fazer com o aumento brutal do salário ínfimo". Entre as alternativas:
- Vou cortar o cabelo na rodoviária.
- Aplicar tudo em gado: comprar meio quilo de bife.
- Aplicar no Rabobank!
 
O dia começou com reportagem do "New York Times", sob o título "Presidente brasileiro pressionado a gastar mais". E abrindo o texto:
- Mr. da Silva, ex-líder sindical cuja transformação de esquerdista para fiel do livre mercado fez dele um favorito em Wall Street, passou o último mês às voltas com demandas para elevar o salário mínimo.
O problema é que "Mr. da Silva" agora estaria "dando sinais de ceder sob a pressão". Horas depois e também a "Forbes", em seu site, dizia:
- A tumultuosa relação do Brasil com Wall Street está sendo testada novamente, com investidores temerosos de que o descontentamento popular esteja enfraquecendo a decisão do governo de conter gastos.
Mas já era pós-divulgação dos R$ 260 e a revista concedeu:
- O governo satisfez pelo menos uma das preocupações imediatas de Wall Street, mantendo uma marcha controversa no salário mínimo.

DO BEM


Estrela do Agrishow em Ribeirão Preto, assunto do Roda Viva na Cultura, estatal que tem atenção prioritária de Lula, segundo o "Valor" de ontem. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está na linha de frente do Brasil que está dando certo.
Mais importante, está na linha de frente da corrida pela biotecnologia. Mais precisamente: está desenvolvendo uma soja transgênica nacional, em contraposição à da Monsanto. Na brincadeira ouvida no Roda Viva, a Embrapa desenvolve "a soja transgênica do bem", contra a "do mal" das multinacionais.
Segundo Alexandre Garcia, da Globo, que prioriza regularmente a Embrapa, ela deve lançar quatro variedades "do bem" em outubro. Há pouco, bastou a empresa detalhar uma delas -e a notícia foi parar até no jornal paraguaio "Ultima Hora".

Feridas abertas
Chile e Argentina voltaram ao confronto ruidoso, por conta da crise de energia -e do corte do repasse argentino ao vizinho.
O chileno "El Mercurio" publicou editorial questionando o "desprezo dos governantes vizinhos" pelos acordos, só "para manter frágeis popularidades".
O argentino "La Nacion" publicou artigo constatando que "se aprofundaram as feridas com o Chile" e que "nunca desde a redemocratização a relação foi tão dramaticamente tensa".
Isso, nos jornais sérios. Nos populares, é uma gritaria só.

Chile e os EUA
O espanhol "El País" diz que crise energética "ressuscita ódios". O "New York Times", em texto reproduzido pelo "El Mercurio", vai além da energia:
- O recente acordo de livre comércio do Chile com os EUA reacendeu um debate angustiante sobre o que é ser latino-americano e se o Chile perdeu essas qualidades essenciais.

Solitário
Segundo o "NYT", um artigo do jornalista peruano Álvaro Vargas Llosa, filho do escritor, gerou grande repercussão no Chile. Escreveu Álvaro, no Peru:
- A imagem do Chile é de um país "diferente" e "solitário". É percebido como "isolado" num âmbito que é mais psicológico do que político e econômico.

Corredor
O Brasil se mantém no curso, apesar dos vizinhos barulhentos. O chileno "Diário Financeiro" destacou anteontem o "corredor bioceânico" que o governo brasileiro planeja construir, unindo por trem os portos de Santos e Antofagasta, no Chile.

Pedido conjunto
Mas os chilenos não estão errados quando dizem que o governo argentino anda estranho.
Os argentinos "Clarín" e "La Nacion" não esconderam, por exemplo, o mal-estar de Buenos Aires com o acordo de Brasil e FMI, que "permitirá ao país vizinho ampliar fundos destinados a obras públicas". Do "Clarín":
- A medida não vale para a Argentina, apesar de os dois países terem apresentado um pedido conjunto para o Fundo.

EUA na OMC
A revista "Economist" mostra preocupação, em sua nova edição, com uma eventual rejeição da Organização Mundial do Comércio pelos EUA, por conta da decisão contrária aos subsídios americanos ao algodão.
Mas ontem se lia nas agências e em jornais como "New Zealand Herald" que os EUA acabam de entrar -eles também- com uma ação na OMC.
Uniram-se à Nova Zelândia para pedir a derrubada dos subsídios concedidos por Japão, Coréia do Sul e outros à pesca.

"MINI ME"


George W. Bush deu depoimento ao lado do vice, Dick Cheney, mas respondeu sozinho à entrevista coletiva que convocou logo depois, ao vivo nos canais de notícia americanos.
Ele depôs sem prestar juramento de falar a verdade, sem gravação de vídeo ou áudio e, no que causou mais alvoroço, com o vice a tiracolo. A agência Reuters relatou que isso fez a festa dos chargistas. Num deles, Cheney surgiu como "Dr. Evil" e Bush como "Mini Me", dos personagens dos filmes de Austin Powers. Na charge acima, de Mike Luckovich, do "Atlanta Journal-Constitution", Bush pára na entrada do banheiro e diz:
- Onde está Cheney? Eu não vou fazer isso sozinho.


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