São Paulo, quinta, 30 de abril de 1998

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SÃO PAULO
Candidato do PDT quer Brizola na disputa pela Presidência e afirma que acordo com PT foi para o "brejo"
Aliança com Lula é humilhação, diz Rossi


PATRICIA ZORZAN
da Reportagem Local


O pré-candidato do PDT ao Palácio dos Bandeirantes, Francisco Rossi, considera "humilhante" a manutenção de uma aliança entre seu partido e o PT para a eleição presidencial.
"Sempre achei que o Brizola deveria ser candidato à Presidência. Acho que somam mais duas candidaturas do que duas em uma. Seria muito humilhante para ele permanecer nessa coligação", declarou, referindo-se ao impasse gerado pela decisão do PT do Rio de lançar candidato próprio ao governo do Estado.
Com 20% das intenções de voto para o governo do Estado, atrás apenas de Paulo Maluf (PPB), Rossi foi citado por parlamentares do PTB como tendo recebido R$ 20 milhões por suposto acordo com o governador Mário Covas (PSDB). O pedetista se defende dizendo que a acusação "foge à lógica da prática política". Leia, a seguir, trechos da entrevista à Folha.

Folha - O que o sr. pensa sobre a possibilidade de o PDT romper a aliança com o PT para a disputa da Presidência da República?
Francisco Rossi
- Acho que a aliança aparentemente foi para o brejo. O PT ainda está na fase de aprendizado de fazer coligações. O Lula, José Dirceu (presidente nacional do PT), o Arlindo Chinaglia (secretário-geral) têm bom senso, mas a base ainda é muito xiita, quer ver o circo pegar fogo. Sempre achei que o Brizola deveria ser candidato à Presidência. Acho que somam mais duas candidaturas do que duas em uma. Deve haver uma tentativa (de acerto), mas seria muito humilhante para ele permanecer nessa coligação.
Folha - Parlamentares do PTB afirmaram que o sr. teria recebido R$ 20 milhões do governador Mário Covas para atacar Paulo Maluf.
Rossi
- Foge à lógica da prática política alguém que está em terceiro lugar, longe até de mim aqui na Grande São Paulo, de repente dar dinheiro. Para quê? Para eu me distanciar ainda mais dele? Isso é irresponsabilidade de quem falou.
Folha - Por que o envolveriam?
Rossi
- Para valorizar a negociação deles. Só pode ser. Não acho que houve intenção política de me prejudicar porque parece que foi uma reunião intramuros. É um assunto sobre o qual eles devem entender muito. Eu não entendo.
Folha - Como andam as discussões em relação a um acordo de apoio recíproco entre o sr. e o governador para o segundo turno?
Rossi
- Depois que ele decidiu pela candidatura, estive com o Walter Feldman (ex-secretário da Casa Civil), que ficou de ver um encontro meu com o Covas. Mas não nos falamos mais.
Folha - Há previsão de outras alianças?
Rossi
- Não perco a esperança de o Orestes Quércia (pré-candidato do PMDB ao governo) indicar meu vice. Vou tentar até o último instante o apoio do PMDB. Isso implicaria a desistência do Quércia, que tem sido enfático, dizendo que vai até o fim. Mas ele é um homem de bom senso, tem experiência política. Acho que ele não vai se meter em uma aventura para sepultar de vez sua carreira política, que é brilhante. Nas bases do PMDB do interior existe uma torcida enorme para que ele seja candidato a deputado federal. Também conversamos com PPS, PC do B e outros partidos menores, mas é difícil avaliar as chances.
Folha - Se eleito, qual será o rumo dado às privatizações estaduais?
Rossi
- Sou contra privatizações usando dinheiro público. Quem quer entrar, que entre com todos os recursos. Se eu fosse governador, teria feito de tudo para tentar salvar o Banespa. Só não salvaram pela lentidão do governo Covas. Mas isso é irreversível, já que a negociação envolve o pagamento da dívida do Estado.
Folha - E as energéticas?
Rossi
- Todos têm de consumir energia elétrica. Então, uma energética bem administrada não tem como dar prejuízo. Até a Light no Rio, com todos os blecautes, distribuiu dividendos entre os seus sócios. Eu não as teria privatizado.
Folha - Há algo reversível?
Rossi
- Nada é irreversível. Mas, em princípio, o bom senso recomenda que os próximos governantes não mexam nessa questão, tentando reverter algo que está consumado. Isso gera desconfiança no mercado internacional. Passa a idéia de descontinuidade, de falta de seriedade. Acho que a gente tem de rever alguma coisa, saber como foi feito, rediscutir valores, formas de pagamento.
Folha - Se eleito, o sr. fará isso?
Rossi
- Tudo merece uma auditoria, temos de estar de olho. Isso não é um bicho de sete cabeças. Cada caso é um caso. Se houver algo que ache que deva ser parado, paramos. Mas hoje teria de ver como as coisas estão. No caso das energéticas, acho que o quadro é irreversível porque os recursos serão usados para pagar as dívidas.
Folha - Como será tratada a questão religiosa na campanha?
Rossi
- Todos sabem que sou cristão e evangélico. Não há necessidade de falar mais nisso. É desnecessário e irritante. Não misturo religião com política.
Folha - Mas o sr. já fez programas eleitorais com a Bíblia na mão.
Rossi
- Eu era provocado a falar sobre o assunto. Isso me prejudicou porque me colocaram como candidato de uma minoria. Não falo mais nisso, porque é uma questão de foro íntimo.
Folha - Quanto o sr. pretende gastar com a campanha?
Rossi
- Gostaria de ter R$ 3 milhões para fazer o mínimo: o programa de TV, papel para distribuir e cem outdoors em todo o Estado. Já me preocupei mais com a falta de dinheiro.
Folha - De onde vêm os recursos? Rossi - Basicamente dos companheiros de partido. Há também a contribuição do fundo partidário. Recebemos R$ 20 mil por mês. Se o pessoal que está prometendo comparecer, vamos chegar aos R$ 3 milhões com relativa facilidade.
Folha - Como o sr. define o estilo "comer pelas bordas", que afirma ter adotado na campanha?
Rossi
- Enquanto meus adversários brigam, corro por fora. Vou caminhar quietinho, sem fazer alarde. Vou superar a falta de verbas com criatividade.



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