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SÃO PAULO
Candidato do PDT quer Brizola na disputa pela Presidência e afirma que acordo com PT foi para o "brejo"
Aliança com Lula é humilhação, diz Rossi
PATRICIA ZORZAN
da Reportagem Local
O pré-candidato do PDT ao
Palácio dos
Bandeirantes,
Francisco Rossi,
considera
"humilhante" a manutenção de uma aliança
entre seu partido e o PT para a
eleição presidencial.
"Sempre achei que o Brizola
deveria ser candidato à Presidência. Acho que somam mais duas
candidaturas do que duas em
uma. Seria muito humilhante para
ele permanecer nessa coligação",
declarou, referindo-se ao impasse
gerado pela decisão do PT do Rio
de lançar candidato próprio ao
governo do Estado.
Com 20% das intenções de voto
para o governo do Estado, atrás
apenas de Paulo Maluf (PPB),
Rossi foi citado
por parlamentares do PTB
como tendo
recebido R$ 20
milhões por
suposto acordo com o governador Mário Covas
(PSDB). O pedetista se defende dizendo
que a acusação
"foge à lógica da prática
política". Leia,
a seguir, trechos da entrevista à Folha.
Folha - O que
o sr. pensa sobre a possibilidade de o PDT
romper a aliança com o PT para a disputa da Presidência da República?
Francisco Rossi - Acho que a
aliança aparentemente foi para o
brejo. O PT ainda está na fase de
aprendizado de fazer coligações. O
Lula, José Dirceu (presidente nacional do PT), o Arlindo Chinaglia
(secretário-geral) têm bom senso,
mas a base ainda é muito xiita,
quer ver o circo pegar fogo. Sempre achei que o Brizola deveria ser
candidato à Presidência. Acho que
somam mais duas candidaturas do
que duas em uma. Deve haver uma
tentativa (de acerto), mas seria
muito humilhante para ele permanecer nessa coligação.
Folha - Parlamentares do PTB
afirmaram que o sr. teria recebido
R$ 20 milhões do governador Mário Covas para atacar Paulo Maluf.
Rossi - Foge à lógica da prática
política alguém que está em terceiro lugar, longe até de mim aqui na
Grande São Paulo, de repente dar
dinheiro. Para quê? Para eu me
distanciar ainda mais dele? Isso é
irresponsabilidade de quem falou.
Folha - Por que o envolveriam?
Rossi - Para valorizar a negociação deles. Só pode ser. Não acho
que houve intenção política de me
prejudicar porque parece que foi
uma reunião intramuros. É um assunto sobre o qual eles devem entender muito. Eu não entendo.
Folha - Como andam as discussões em relação a um acordo de
apoio recíproco entre o sr. e o governador para o segundo turno?
Rossi - Depois que ele decidiu
pela candidatura, estive com o
Walter Feldman (ex-secretário da
Casa Civil), que ficou de ver um
encontro meu com o Covas. Mas
não nos falamos mais.
Folha - Há previsão de outras
alianças?
Rossi - Não perco a esperança
de o Orestes Quércia (pré-candidato do PMDB ao governo) indicar meu vice. Vou tentar até o último instante o apoio do PMDB. Isso implicaria a desistência do
Quércia, que tem sido enfático, dizendo que vai até o fim. Mas ele é
um homem de bom senso, tem experiência política. Acho que ele
não vai se meter em uma aventura
para sepultar de vez sua carreira
política, que é brilhante. Nas bases
do PMDB do interior existe uma
torcida enorme para que ele seja
candidato a deputado federal.
Também conversamos com PPS,
PC do B e outros partidos menores, mas é difícil avaliar as chances.
Folha - Se eleito, qual será o rumo dado às privatizações estaduais?
Rossi - Sou contra privatizações
usando dinheiro público. Quem
quer entrar, que entre com todos
os recursos. Se eu fosse governador, teria feito de tudo para tentar
salvar o Banespa. Só não salvaram
pela lentidão do governo Covas.
Mas isso é irreversível, já que a negociação envolve o pagamento da
dívida do Estado.
Folha - E as energéticas?
Rossi - Todos têm de consumir
energia elétrica. Então, uma energética bem administrada não tem
como dar prejuízo. Até a Light no
Rio, com todos os blecautes, distribuiu dividendos entre os seus
sócios. Eu não as teria privatizado.
Folha - Há algo reversível?
Rossi - Nada é irreversível. Mas,
em princípio, o bom senso recomenda que os próximos governantes não mexam nessa questão,
tentando reverter algo que está
consumado. Isso gera desconfiança no mercado internacional. Passa a idéia de descontinuidade, de
falta de seriedade. Acho que a gente tem de rever alguma coisa, saber
como foi feito, rediscutir valores,
formas de pagamento.
Folha - Se eleito, o sr. fará isso?
Rossi - Tudo merece uma auditoria, temos de estar de olho. Isso
não é um bicho de sete cabeças.
Cada caso é um caso. Se houver algo que ache que deva ser parado,
paramos. Mas hoje teria de ver como as coisas estão. No caso das
energéticas, acho que o quadro é
irreversível porque os recursos serão usados para pagar as dívidas.
Folha - Como
será tratada a
questão religiosa na campanha?
Rossi - Todos sabem que
sou cristão e
evangélico.
Não há necessidade de falar
mais nisso. É
desnecessário e
irritante. Não
misturo religião com política.
Folha - Mas o
sr. já fez programas eleitorais com a Bíblia na mão.
Rossi - Eu
era provocado
a falar sobre o assunto. Isso me
prejudicou porque me colocaram
como candidato de uma minoria.
Não falo mais nisso, porque é uma
questão de foro íntimo.
Folha - Quanto o sr. pretende
gastar com a campanha?
Rossi - Gostaria de ter R$ 3 milhões para fazer o mínimo: o programa de TV, papel para distribuir
e cem outdoors em todo o Estado.
Já me preocupei mais com a falta
de dinheiro.
Folha - De onde vêm os recursos?
Rossi - Basicamente dos companheiros de partido. Há também a
contribuição do fundo partidário.
Recebemos R$ 20 mil por mês. Se o
pessoal que está prometendo comparecer, vamos chegar aos R$ 3
milhões com relativa facilidade.
Folha - Como o sr. define o estilo
"comer pelas bordas", que afirma
ter adotado na campanha?
Rossi - Enquanto meus adversários brigam, corro por fora. Vou
caminhar quietinho, sem fazer
alarde. Vou superar a falta de verbas com criatividade.
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