São Paulo, Sexta-feira, 30 de Abril de 1999
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CPI DO JUDICIÁRIO
Ex-presidente do TRT-SP apresenta atestado médico e consegue transferir depoimento para terça-feira
Empresário monopolizou obras de fórum

FLÁVIA DE LEON
da Sucursal de Brasília


Apesar de não ter participado da licitação para a construção do Fórum Trabalhista de São Paulo, o empresário Fábio Monteiro de Barros Filho monopolizou a obra e os recursos destinados a ela por meio de suas empresas. O fórum já consumiu R$ 230 milhões do Orçamento da União e está inacabado, com 73% da obra física concluída.
De acordo com depoimentos prestados ao Ministério Público Federal em São Paulo, a empresa Monteiro de Barros Empreendimentos Imobiliários associou-se,à Incal Alumínio, de Júlio César Valentini.
Dessa parceria nasceu a Incal Incorporações S/A, responsável pela obra. O presidente da Incal Incorporações é Fábio Monteiro de Barros Filho. O diretor-executivo é José Eduardo Corrêa Teixeira Ferraz, primo de Monteiro de Barros e seu sócio em outras quatro empresas.
Depois de ganhar a obra do Fórum Trabalhista, a Incal Incorporações subcontratou a Construtora Ikal Ltda para fazer a obra. Segundo afirmou Ferraz ao Ministério Público, os sócios da Ikal são a empresa Monteiro de Barros Investimentos e o próprio Fábio.
Além de receber os recursos do Orçamento da União destinados à construção do Fórum Trabalhista, a Construtora Ikal tinha direito a uma "taxa de administração".
Ferraz afirmou não se recordar do valor da taxa, porque ela variava "conforme o ritmo da obra".

Estreita ligação
Monteiro de Barros tem estreita ligação com o juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto, que presidia o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de São Paulo na época em que foi feita a licitação para a construção do fórum.
Foi a Monteiro de Barros Empreendimentos Imobiliários que indicou Santos Neto a uma imobiliária em Miami (EUA) quando o juiz aposentado comprou lá um apartamento de US$ 800 mil.
Em depoimento à CPI do Judiciário, Marco Aurélio Gil de Oliveira, ex-genro de Santos Neto, declarou que o juiz aposentado e Monteiro de Barros tinham um relacionamento "social" antes do início da obra. Depois, afirmou, os dois passaram a manter reuniões fechadas na casa de Santos Neto, inclusive nos fins-de-semana.
Quando depuser à CPI do Judiciário, na próxima terça-feira, Santos Neto será questionado sobre essa relação de empresas que pertencem a uma só pessoa e, no caso, íntima do ex-presidente do TRT.
Monteiro de Barros e Ferraz serão convocados para depor na comissão, mas as datas ainda não foram confirmadas. A CPI aguarda a chegada dos documentos provenientes da quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico dos empresários e do juiz para confrontá-los.

Adiamento
O depoimento de Santos Neto estava marcado para ontem, mas foi adiado para terça. Ele enviou à CPI atestado médico assinado pelo infectologista David Uip segundo o qual o juiz aposentado apresenta "quadro de mal-estar geral, sensação de desmaio, crise de choro e história de aumento de pressão arterial, a despeito do uso de anti-hipertensivos".
O médico afirma, no atestado, ter encaminhado Santos Neto ao psiquiatra Wagner Gattaz porque entendia tratar-se de "quadro afetivo-depressivo".


Próximos depoimentos à CPI do Judiciário: Floriano Vaz da Silva, atual presidente do TRT-SP e Rubens Tavares Aidar, ex-presidente do mesmo tribunal, depõem na segunda-feira. Na terça, será a vez de Santos Neto. Na quinta, a CPI ouvirá os ex-presidentes do TRT-SP José Victório Moro e Delvio Buffulin.


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