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LÍNGUA SOLTA
Presidente sugere que, com inflação sob controle, juros poderão cair
PIB cai, e no ABC Lula prevê "espetáculo do crescimento"
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva ignorou as más notícias
econômicas -retração do PIB de
0,1% no primeiro trimestre de seu
governo na comparação com o
último de Fernando Henrique
Cardoso e taxa recorde de 20,6%
de desemprego em São Paulo -e
insinuou ontem a redução dos juros e o início do que chamou de
"espetáculo do crescimento".
"Passados cinco meses, há vários indícios de que a inflação está
sob controle e a tendência é cair
para você poder reduzir a taxa de
juros", afirmou em discurso na
fábrica da Ford em São Bernardo
do Campo, nascedouro do sindicalismo que originou o PT.
Mesmo a queda da inflação começa a ser mau sinal. O IGP-M
(Índice Geral de Preços de Mercado), calculado pela Fundação Getúlio Vargas e divulgado ontem,
mostra uma deflação de 0,26%
em maio, um sinal recessivo para
a economia.
"Como diria meu lado musical,
estamos afinando a orquestra. Logo, logo, o espetáculo do crescimento vai começar", disse Lula.
O presidente ouviu cobranças
de menos impostos e mais estímulo à produção e à exportação
dos presidentes da Ford para a
América do Sul, Richard Canny, e
para o Brasil, Antonio Maciel Neto. "Existe espaço para a retomada ativa da produção industrial",
afirmou Maciel Neto.
"Não pensem que o [ministro
da Fazenda, Antonio] Palocci e o
[presidente do Banco Central,
Henrique] Meirelles não querem
que os juros caiam. Tanto eles
quanto vocês devem dormir todo
dia imaginando o momento em
que devem ser reduzidos os juros", argumentou.
"Acontece que é preciso construir bases sólidas para que não
tenha de reduzir num mês e aumentar no seguinte. Porque aí
perde a credibilidade. Em política,
se é perdida a credibilidade, não
se recupera mais."
Apesar das cobranças, os executivos da Ford elogiaram Lula. "Estamos muito otimistas pelo progresso demonstrado neste curto
período de governo. As políticas
financeiras e de macroeconomia
consistentes estão criando um período promissor de crescimento e
estabilidade econômica no Brasil", disse o norte-americano Richard Canny.
"Quantas vezes xinguei a direção da Ford e quantas vezes a direção da Ford deve ter me xingado aqui dentro. O que aconteceu?
Ficamos adultos, amadurecemos,
e hoje estou aqui cumprimentando o Maciel certo de que o que
penso para a economia do país é o
mesmo que ele pensa", afirmou o
presidente.
À frente de cerca de 3.000 metalúrgicos -a vários dos quais Lula
se dirigiu pelo nome ou apelido
(Barbosinha e Cabeção, por
exemplo), lembrando quando era
sindicalista no ABC -o presidente pediu paciência.
"Vocês me elegeram para que a
gente mude a política econômica,
gere emprego e distribua renda.
Mas governar é como plantar
uma árvore", disse, utilizando
uma das imagens prediletas de
sua oratória.
"Você pode estar com fome,
mas, se você plantou feijão, tem
de esperar 90 dias. Se plantar um
pé de soja, tem de esperar 100, 110
dias. E, quando a gente planta,
tem de adubar, jogar água, regar
sempre, para que a árvore nasça
forte e frondosa e não morra com
a primeira ventania ou com a primeira seca."
Lula afirmou que conversas como aquela com os metalúrgicos
serão um parâmetro de sua administração. "No dia em que eu não
puder ir à porta de uma fábrica e
conversar como estou fazendo
hoje, é porque não terei cumprido
o que prometi. É melhor dizer a
verdade, por mais dura que seja,
para não perder a confiança."
Oriente Médio
Lula confirmou que visitará o
Oriente Médio nos próximos meses, em data a ser confirmada. "O
Brasil tem milhões e milhões de
árabes morando aqui. Mas nossa
política para o Oriente Médio é
pequena", declarou, em referência a uma comunidade de 1 milhão de árabes e cerca de 10 milhões de descendentes.
"Agora que os EUA brigaram
com o Iraque, que o Oriente Médio está em meio a um desastre,
não tem nada, está na hora de o
Brasil aparecer lá, de forma generosa, oferecendo negócios para
eles, oferecendo oportunidades,
não só para comprar nossos produtos, como para investir aqui."
O presidente voltou a criticar
preços atrelados ao dólar -como
os dos combustíveis e do aço-
que subiram com a moeda, mas
não recuaram em seu refluxo.
"Este país não pode ser o de algumas pessoas que pensam ser mais
espertas do que as outras", disse
Lula. "Ora, o aço está dolarizado.
Tudo bem. Mas quando o dólar
desce, então que desça o preço do
aço. Que dolarização é essa?",
questionou o presidente.
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