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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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LÍNGUA SOLTA

Presidente sugere que, com inflação sob controle, juros poderão cair

PIB cai, e no ABC Lula prevê "espetáculo do crescimento"

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ignorou as más notícias econômicas -retração do PIB de 0,1% no primeiro trimestre de seu governo na comparação com o último de Fernando Henrique Cardoso e taxa recorde de 20,6% de desemprego em São Paulo -e insinuou ontem a redução dos juros e o início do que chamou de "espetáculo do crescimento".
"Passados cinco meses, há vários indícios de que a inflação está sob controle e a tendência é cair para você poder reduzir a taxa de juros", afirmou em discurso na fábrica da Ford em São Bernardo do Campo, nascedouro do sindicalismo que originou o PT.
Mesmo a queda da inflação começa a ser mau sinal. O IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado), calculado pela Fundação Getúlio Vargas e divulgado ontem, mostra uma deflação de 0,26% em maio, um sinal recessivo para a economia.
"Como diria meu lado musical, estamos afinando a orquestra. Logo, logo, o espetáculo do crescimento vai começar", disse Lula.
O presidente ouviu cobranças de menos impostos e mais estímulo à produção e à exportação dos presidentes da Ford para a América do Sul, Richard Canny, e para o Brasil, Antonio Maciel Neto. "Existe espaço para a retomada ativa da produção industrial", afirmou Maciel Neto.
"Não pensem que o [ministro da Fazenda, Antonio] Palocci e o [presidente do Banco Central, Henrique] Meirelles não querem que os juros caiam. Tanto eles quanto vocês devem dormir todo dia imaginando o momento em que devem ser reduzidos os juros", argumentou.
"Acontece que é preciso construir bases sólidas para que não tenha de reduzir num mês e aumentar no seguinte. Porque aí perde a credibilidade. Em política, se é perdida a credibilidade, não se recupera mais."
Apesar das cobranças, os executivos da Ford elogiaram Lula. "Estamos muito otimistas pelo progresso demonstrado neste curto período de governo. As políticas financeiras e de macroeconomia consistentes estão criando um período promissor de crescimento e estabilidade econômica no Brasil", disse o norte-americano Richard Canny.
"Quantas vezes xinguei a direção da Ford e quantas vezes a direção da Ford deve ter me xingado aqui dentro. O que aconteceu? Ficamos adultos, amadurecemos, e hoje estou aqui cumprimentando o Maciel certo de que o que penso para a economia do país é o mesmo que ele pensa", afirmou o presidente.
À frente de cerca de 3.000 metalúrgicos -a vários dos quais Lula se dirigiu pelo nome ou apelido (Barbosinha e Cabeção, por exemplo), lembrando quando era sindicalista no ABC -o presidente pediu paciência.
"Vocês me elegeram para que a gente mude a política econômica, gere emprego e distribua renda. Mas governar é como plantar uma árvore", disse, utilizando uma das imagens prediletas de sua oratória.
"Você pode estar com fome, mas, se você plantou feijão, tem de esperar 90 dias. Se plantar um pé de soja, tem de esperar 100, 110 dias. E, quando a gente planta, tem de adubar, jogar água, regar sempre, para que a árvore nasça forte e frondosa e não morra com a primeira ventania ou com a primeira seca."
Lula afirmou que conversas como aquela com os metalúrgicos serão um parâmetro de sua administração. "No dia em que eu não puder ir à porta de uma fábrica e conversar como estou fazendo hoje, é porque não terei cumprido o que prometi. É melhor dizer a verdade, por mais dura que seja, para não perder a confiança."

Oriente Médio
Lula confirmou que visitará o Oriente Médio nos próximos meses, em data a ser confirmada. "O Brasil tem milhões e milhões de árabes morando aqui. Mas nossa política para o Oriente Médio é pequena", declarou, em referência a uma comunidade de 1 milhão de árabes e cerca de 10 milhões de descendentes.
"Agora que os EUA brigaram com o Iraque, que o Oriente Médio está em meio a um desastre, não tem nada, está na hora de o Brasil aparecer lá, de forma generosa, oferecendo negócios para eles, oferecendo oportunidades, não só para comprar nossos produtos, como para investir aqui."
O presidente voltou a criticar preços atrelados ao dólar -como os dos combustíveis e do aço- que subiram com a moeda, mas não recuaram em seu refluxo. "Este país não pode ser o de algumas pessoas que pensam ser mais espertas do que as outras", disse Lula. "Ora, o aço está dolarizado. Tudo bem. Mas quando o dólar desce, então que desça o preço do aço. Que dolarização é essa?", questionou o presidente.


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