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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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CASO CC-5

Sarney e Mercadante comandam no Senado operação para impedir apuração de remessa ilegal de US$ 30 bi ao exterior

Planalto atua e impede CPI do Banestado

RAQUEL ULHÔA
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A pedido do Palácio do Planalto, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o líder do governo na Casa, Aloizio Mercadante (PT-SP), comandaram operação entre os líderes partidários para impedir a criação de uma CPI para apurar a remessa ilegal de cerca de US$ 30 bilhões para o exterior, por meio do Banestado (Banco do Estado do Paraná).
A preocupação do governo com os desdobramentos da instalação da CPI do Banestado foi levada a Sarney anteontem pelo ministro José Dirceu (Casa Civil). O Planalto temia uma avalanche de CPIs, criadas a seguir, deteriorando as relações políticas entre governo e oposição e atrapalhando a votação das reformas previdenciária e tributária pelo Congresso.
Em reunião no gabinete de Sarney, Mercadante sugeriu que o Senado se dedicasse a uma "agenda positiva" enquanto aguarda a aprovação das reformas pela Câmara. Definiram a realização de ciclos de debates, toda quinta-feira, sobre dois temas: violência e crescimento da economia, política cambial e taxa de juros.
Por sugestão de Mercadante, os líderes partidários orientaram os senadores de suas bancadas a retirar as assinaturas no requerimento criando a CPI -de autoria do senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT)-, o que inviabilizou sua instalação. Mas o governo já detectou articulação para a criação da CPI na Câmara.
"O PT resolveu ser o coveiro da ética", protestou o autor do requerimento. Ele havia obtido 37 assinaturas ao requerimento, 10 a mais do número exigido para iniciar a investigação. Após a reunião dos líderes, 12 senadores retiraram suas assinaturas.
A manobra governista, que contou com o apoio dos líderes do PMDB, do PFL e do PSDB, também foi duramente criticada no plenário por Pedro Simon (PMDB-RS), que a comparou à iniciativa do governo Fernando Henrique Cardoso de sepultar a criação da CPI da Corrupção.
Mercadante negou que a intenção do governo seja impedir a apuração sobre a remessa ilegal de dólares para o exterior. Segundo ele, o PT é favorável à investigação profunda e rigorosa do caso, comandada pelo controlador-geral da União, Valdir Pires, e pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), único tucano que retirou a assinatura no requerimento, confirmou a ameaça de criação de outras CPIs. O PFL foi o partido que teve mais senadores retirando assinaturas (5 dos 12 que recuaram). Mas o líder, José Agripino (RN), negou que o PFL tenha interesse em proteger algum político supostamente envolvido.

Polícia Federal
A PF já investiga o esquema de lavagem que enviava dinheiro por meio de contas CC-5 (de não-residentes) de Foz do Iguaçu (PR) a 137 contas da agência do Banestado em Nova York.
O delegado da PF José Francisco de Castilho Neto, que conduz as investigações, disse no último dia 21 que "existem, sim, e aparecem inúmeros nomes de políticos" na movimentação suspeita dos US$ 30 bilhões entre 1996 e 1999.
Segundo afirmou ele, há 300 dossiês "alinhavados" sobre operações que envolvem empresários e políticos, ressalvando que o último grupo é minoritário, mas integrado por gente de "renome".


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