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CASO CC-5
Sarney e Mercadante comandam no Senado operação para impedir apuração de remessa ilegal de US$ 30 bi ao exterior
Planalto atua e impede CPI do Banestado
RAQUEL ULHÔA
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A pedido do Palácio do Planalto, o presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), e o líder do
governo na Casa, Aloizio Mercadante (PT-SP), comandaram operação entre os líderes partidários
para impedir a criação de uma
CPI para apurar a remessa ilegal
de cerca de US$ 30 bilhões para o
exterior, por meio do Banestado
(Banco do Estado do Paraná).
A preocupação do governo com
os desdobramentos da instalação
da CPI do Banestado foi levada a
Sarney anteontem pelo ministro
José Dirceu (Casa Civil). O Planalto temia uma avalanche de CPIs,
criadas a seguir, deteriorando as
relações políticas entre governo e
oposição e atrapalhando a votação das reformas previdenciária e
tributária pelo Congresso.
Em reunião no gabinete de Sarney, Mercadante sugeriu que o
Senado se dedicasse a uma "agenda positiva" enquanto aguarda a
aprovação das reformas pela Câmara. Definiram a realização de
ciclos de debates, toda quinta-feira, sobre dois temas: violência e
crescimento da economia, política cambial e taxa de juros.
Por sugestão de Mercadante, os
líderes partidários orientaram os
senadores de suas bancadas a retirar as assinaturas no requerimento criando a CPI -de autoria do
senador Antero Paes de Barros
(PSDB-MT)-, o que inviabilizou
sua instalação. Mas o governo já
detectou articulação para a criação da CPI na Câmara.
"O PT resolveu ser o coveiro da
ética", protestou o autor do requerimento. Ele havia obtido 37
assinaturas ao requerimento, 10 a
mais do número exigido para iniciar a investigação. Após a reunião dos líderes, 12 senadores retiraram suas assinaturas.
A manobra governista, que contou com o apoio dos líderes do
PMDB, do PFL e do PSDB, também foi duramente criticada no
plenário por Pedro Simon
(PMDB-RS), que a comparou à
iniciativa do governo Fernando
Henrique Cardoso de sepultar a
criação da CPI da Corrupção.
Mercadante negou que a intenção do governo seja impedir a
apuração sobre a remessa ilegal
de dólares para o exterior. Segundo ele, o PT é favorável à investigação profunda e rigorosa do caso, comandada pelo controlador-geral da União, Valdir Pires, e pelo ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), único tucano que retirou a assinatura no requerimento,
confirmou a ameaça de criação de
outras CPIs. O PFL foi o partido
que teve mais senadores retirando assinaturas (5 dos 12 que recuaram). Mas o líder, José Agripino (RN), negou que o PFL tenha
interesse em proteger algum político supostamente envolvido.
Polícia Federal
A PF já investiga o esquema de
lavagem que enviava dinheiro por
meio de contas CC-5 (de não-residentes) de Foz do Iguaçu (PR) a
137 contas da agência do Banestado em Nova York.
O delegado da PF José Francisco
de Castilho Neto, que conduz as
investigações, disse no último dia
21 que "existem, sim, e aparecem
inúmeros nomes de políticos" na
movimentação suspeita dos US$
30 bilhões entre 1996 e 1999.
Segundo afirmou ele, há 300
dossiês "alinhavados" sobre operações que envolvem empresários
e políticos, ressalvando que o último grupo é minoritário, mas integrado por gente de "renome".
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