São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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JANIO DE FREITAS

O homem dos discursos

Até há pouco, Antonio Palocci desautorizava as afirmações de Lula sobre próximos passos governamentais no terreno sócioeconômico. "Vamos reduzir os juros/Os juros ficam mantidos", e assim foi, como já lembrado aqui, com o salário-mínimo, com as deduções do Imposto de Renda e outras medidas que mostram Lula para um lado e Palocci para o outro. Agora deixam de ser desautorizações.
Ao partir da China para o Japão, Palocci foi indagado, ainda uma vez, sobre as deduções do Imposto de Renda, defasadas em quase 60% como forma dos governos Fernando Henrique e Lula aumentarem, sem o dizer, o imposto de quem trabalha. Palocci em Xangai: "O governo não concorda com alterações na tabela de descontos. Essa é uma posição do governo". Lula, que em 26 de abril comunicou, em discurso aos metalúrgicos do ABC, a revisão da tabela, está declarado à margem do governo.
Da desautorização, passa-se à exclusão. O pobre Lula, que gramou quatro eleições para chegar à Presidência, logo será dado como representante do governo na equipe de Duda Mendonça, incumbido da discurseira ilusória.

O equilibrista
Por falar no governo Palocci, a permanência de José Dirceu como ministro do Gabinete Civil resultará, se confirmada, de um equilibrismo extraordinário. As manobras que o pretendem na presidência da Câmara, originadas no centro do governo, estendem-se a jornalistas do ramo oficial, que nos últimos dias esforçaram-se para obter de José Dirceu alguma palavra que suscitasse problema no governo.
A resistência de Dirceu tem causa óbvia: como chefe do Gabinete Civil, diz ao presidente petista da Câmara o que o governo quer; na presidência da Câmara, seria ele a receber determinações.
Os ministros Luiz Gushiken e Antonio Palocci são, sem dúvida, muito atenciosos com o presente e o futuro do seu colega José Dirceu.

Mais problemas
As notícias vindas dos EUA, sobre as possíveis transações de Brasil e China na área nuclear, são contraditórias. Referem-se tanto à absoluta indiferença do governo norte-americano, como a preocupações intensas. As primeiras são para anjinhos.
Desde o fim da Guerra Fria a CIA, a entidade de ações secretas dos Estados Unidos no exterior, foi posta no limbo do jornalismo e dos livros no Brasil. As gerações que chegaram à ativa no pós-Guerra Fria mal sabem o que é a CIA. Como imaginar que o governo dos Estados Unidos tenha uma entidade em que, entre departamentos de espionagem e de intervenção política, um setor foi especializado em assassinatos, cuja marca registrada, por muito tempo, era o estrangulamento com corda de guitarra. Assim morreram muitos "agentes inimigos" sem tempo de emitir um som.
Assuntos nucleares são, notoriamente, uma das prioridades da espionagem norte-americana. Com boas razões para isso, aliás. Daí que, para os contemporâneos da notabolidade da CIA, soe estranha a coincidência da repentina pressão sobre o Brasil nos últimos dois meses, contrária às suas pesquisas nucleares, e as conversações entre brasileiros e chineses, agora reveladas, sobre transações com urânio e tecnologia nuclear.
Menos ou mais sutis, já se esperam problemas por aí, ou maiores problemas, relacionados à chamada questão nuclear, um assunto explosivo para o governo dos Estados Unidos, seja republicano ou democrata.


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