São Paulo, sexta, 30 de maio de 1997.



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AMAZONAS
Delegado quer depoimento de Armando Mendes devido a fitas em que ele comenta morte de empresário em SP
Polícia vai ouvir o filho de Amazonino

CRISPIM ALVES
da Reportagem Local

A Polícia Civil de São Paulo vai convocar para prestar depoimento Armando Mendes, filho de Amazonino Mendes, governador do Amazonas, em inquérito que apura a morte de um empresário em São Paulo.
O depoimento fará parte do inquérito, aberto no DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa), que investiga o assassinato do empresário Samek Marek Rosenski, que ocorreu em março de 1993 em São Paulo, na esquina da rua Bandeira Paulista com a avenida Nove de Julho, no Itaim.
Rosenski era dono da fábrica de relógios Cosmos, instalada em Manaus (AM).
Quatro pessoas -Samuel Wolssdors, que teria encomendado o crime, Luiz Fernando Pereira Barbosa, Henrique César Teixeira Pinto e José Geraldo Nazareth, já morto, que teriam sido os executores- foram condenadas a 14 anos de prisão.
Apesar disso, a polícia, desde o início do inquérito, acreditou que havia um outro mandante para o crime. Por esse motivo, o caso ainda não foi encerrado.

Gravação
O assassinato do empresário foi comentado por Armando em uma conversa gravada por Fernando Bonfim, que diz ser testa-de-ferro de Amazonino na empresa Econcel (Empresa de Construção Civil e Elétrica), durante uma reunião com Alexandre Auad Neto e Júlio Mussa Cury.
De acordo com a gravação, Armando e Rosenski acabaram tendo problemas em um negócio.
O filho de Amazonino queria vender um produto sem nota fiscal e o empresário teria se recusado.
"Aí falei: não quero mais negócio com você (supostamente Rosenski)... Aí cheguei no Otávio, chorando de raiva, e ele disse: teu pai se fodeu... com essa história... Aí falei: esse filho da puta vai acabar morrendo", diz trecho de fala atribuída a Armando.
Em outro trecho da fita, também atribuído ao filho de Amazonino, Armando teria dito:
"Tem uma coisa feia. Quando me telefonaram... quem encontrou o corpo dele (Rosenski) foi um segurança meu em São Paulo. Ele foi o primeiro cara que pegou as coisas dentro do carro, pegou a agenda e o primeiro nome que viu foi o de Amazonino, do papai, e aí viu o meu... O cara me falou, 'Armando... assassinaram uma pessoa'... já me veio na cabeça o nome do cara (supostamente Rosenski)... e o meu sócio, que estava lá, chegou e me falou assim: 'Armando, você vai me permitir, vou lá embaixo comprar um champanhe"'.

Investigações
Além do filho do governador do Amazonas, serão convocados a depor também Fernando Bonfim, autor da gravação, Alexandre Auad Neto, Júlio Mussa Cury e a pessoa identificada como Otávio. Existe a possibilidade, remota a princípio, de o próprio Amazonino Mendes prestar depoimento.
A promotora Eloísa de Sousa Arruda Mendes Damasceno, da 4ª Vara Criminal do Fórum de Pinheiros (zona oeste de São Paulo), que já requisitou a gravação divulgada pelo jornal "O Globo", deve receber a fita entre segunda e terça-feira.
"Essa fita é um fato novo que pode dar outro andamento ao caso", declarou.
Apesar disso, a promotora afirmou que não vai anexar a fita ao processo pelo fato de ela considerar que a gravação foi obtida de maneira ilícita.
Segundo ela, o teor da conversa "reacende" as investigações sobre o assassinato, que estavam paradas. "É uma conversa um tanto quanto estranha."



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