São Paulo, Domingo, 30 de Maio de 1999
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PERSONALIDADE
Religioso presbiteriano foi ativista dos direitos humanos
Pastor Jaime Wright morre de infarto aos 71 anos

da Agência Folha

Morreu ontem em Vitória (ES), aos 71 anos, o pastor presbiteriano Jaime Wright, ativista de direitos humanos e co-autor de "Brasil: Nunca Mais", o mais completo relato sobre a tortura de prisioneiros políticos durante o regime militar.
Wright nasceu em Curitiba em 12 de julho de 1927, filho de norte-americanos. Era casado com Alma Wright e tinha cinco filhos.
Ele sofreu um infarto do miocárdio às 6h. O corpo está sendo velado no Instituto do Bem-Estar Social, em Vitória. O enterro será hoje, às 8h, no cemitério Jardim da Paz, naquela cidade.
Wright formou-se por uma universidade de Arkansas (EUA) e fez estudos religiosos em pós-graduação numa instituição da Pensilvânia. Renunciou nos anos 50 à nacionalidade norte-americana.
O líder religioso já encabeçava movimentos contra a tortura quando da morte, nas dependências dos órgãos de segurança, de seu irmão Paulo Wright, militante da Ação Popular, grupo de esquerda de origem cristã.
O "Brasil: Nunca Mais", projeto que comandou juntamente com o rabino Henry Sobel e o então cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, reúne casos de execuções e maus-tratos documentados pela Justiça Militar entre abril de 1964 e março de 1979.
Publicado em 1985, o "Brasil: Nunca Mais" ficou por 91 semanas como livro de não-ficção mais vendido no país.
A consulta sigilosa a 707 processos, a listagem de 1.843 casos de tortura e a fixação em 125 do número de desaparecidos -geralmente mortos durante interrogatórios e sepultados com falsa identidade- formam uma base de dados nunca contestada pelos policiais e militares implicados.
Wright estava aposentado como pastor da Igreja Presbiteriana Unida, da qual foi secretário-geral entre 1988 e 1993.
Em dezembro passado, em seu último artigo publicado pela Folha, criticou o que chamou de "teologia da prosperidade", a seu ver praticada por grupos pentecostais que estimulam o individualismo dos fiéis.
D. Paulo Evaristo Arns disse ontem que Wright foi "fiel à causa do povo" e "teve muita importância na luta pelos direitos humanos".
"Perdi um grande amigo. Nos aproximamos depois da morte do jornalista Vlado Herzog. Jaime Wright tinha uma sala ao meu lado na Cúria Metropolitana e uma capacidade imensa de descobrir onde estava a mão da opressão quando tinha que procurar os desaparecidos políticos", afirmou.
Henry Sobel afirmou que a morte de Jaime Wright "é uma grande perda para a comunidade eclesiástica e para a sociedade brasileira".
"O reverendo Wright foi um corajoso líder religioso, que sofreu na própria pele os tormentos da ditadura no Brasil", afirmou Sobel. "Fomos parceiros e vou sentir muito a falta dele."


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