|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PERSONALIDADE
Religioso presbiteriano foi ativista dos direitos humanos
Pastor Jaime Wright morre de infarto aos 71 anos
da Agência Folha
Morreu ontem em Vitória (ES),
aos 71 anos, o pastor presbiteriano
Jaime Wright, ativista de direitos
humanos e co-autor de "Brasil:
Nunca Mais", o mais completo relato sobre a tortura de prisioneiros
políticos durante o regime militar.
Wright nasceu em Curitiba em 12
de julho de 1927, filho de norte-americanos. Era casado com Alma
Wright e tinha cinco filhos.
Ele sofreu um infarto do miocárdio às 6h. O corpo está sendo velado no Instituto do Bem-Estar Social, em Vitória. O enterro será hoje, às 8h, no cemitério Jardim da
Paz, naquela cidade.
Wright formou-se por uma universidade de Arkansas (EUA) e fez
estudos religiosos em pós-graduação numa instituição da Pensilvânia. Renunciou nos anos 50 à nacionalidade norte-americana.
O líder religioso já encabeçava
movimentos contra a tortura
quando da morte, nas dependências dos órgãos de segurança, de
seu irmão Paulo Wright, militante
da Ação Popular, grupo de esquerda de origem cristã.
O "Brasil: Nunca Mais", projeto
que comandou juntamente com o
rabino Henry Sobel e o então cardeal-arcebispo de São Paulo, d.
Paulo Evaristo Arns, reúne casos
de execuções e maus-tratos documentados pela Justiça Militar entre
abril de 1964 e março de 1979.
Publicado em 1985, o "Brasil:
Nunca Mais" ficou por 91 semanas
como livro de não-ficção mais vendido no país.
A consulta sigilosa a 707 processos, a listagem de 1.843 casos de
tortura e a fixação em 125 do número de desaparecidos -geralmente mortos durante interrogatórios e sepultados com falsa identidade- formam uma base de dados nunca contestada pelos policiais e militares implicados.
Wright estava aposentado como
pastor da Igreja Presbiteriana Unida, da qual foi secretário-geral entre 1988 e 1993.
Em dezembro passado, em seu
último artigo publicado pela Folha, criticou o que chamou de
"teologia da prosperidade", a seu
ver praticada por grupos pentecostais que estimulam o individualismo dos fiéis.
D. Paulo Evaristo Arns disse ontem que Wright foi "fiel à causa do
povo" e "teve muita importância
na luta pelos direitos humanos".
"Perdi um grande amigo. Nos
aproximamos depois da morte do
jornalista Vlado Herzog. Jaime
Wright tinha uma sala ao meu lado
na Cúria Metropolitana e uma capacidade imensa de descobrir onde estava a mão da opressão quando tinha que procurar os desaparecidos políticos", afirmou.
Henry Sobel afirmou que a morte de Jaime Wright "é uma grande
perda para a comunidade eclesiástica e para a sociedade brasileira".
"O reverendo Wright foi um corajoso líder religioso, que sofreu
na própria pele os tormentos da
ditadura no Brasil", afirmou Sobel. "Fomos parceiros e vou sentir
muito a falta dele."
Texto Anterior: Janio de Freitas: O preparo de um atentado Próximo Texto: Domingueira - Marcos Augusto Gonçalves: Tucano no orelhão Índice
|