São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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PT e PPB têm estratégia comum contra o PSDB em SP

DA REPORTAGEM LOCAL

Inimigos históricos, petistas e malufistas estão com uma estratégia comum: centrar os ataques nos tucanos, deixando em segundo plano críticas mútuas na atual campanha para o governo de São Paulo, em uma aliança não declarada de interesses. Em discursos e textos de campanha, as baterias de Paulo Maluf (PPB) e José Genoino (PT) são voltadas quase que exclusivamente para o governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Os petistas acreditam que podem avançar nas pesquisas tirando votos primordialmente do tucano, a quem vêem como mais vulnerável. Maluf, com diagnóstico semelhante do cenário eleitoral, aposta na subida de Genoino para consolidar-se em primeiro lugar. Na campanha do petista, o ex-prefeito é mencionado de maneira secundária nas críticas. Na de Maluf, Genoino tem sido praticamente ignorado.
Há consenso entre petistas e malufistas que Genoino, patinando nas pesquisas, deve subir nas pesquisas, por estar muito abaixo do patamar obtido pelo partido na última eleição para o governo.
Ele reúne no máximo 10% das intenções de voto. Marta Suplicy, em 1998, chegou a 22,51% dos votos válidos.
"O eleitorado do Alckmin, principalmente o de classe média, renda mais alta, se mistura muito com o nosso", diz Genoino.
O PT dá como mais provável um cenário com Maluf no segundo turno e a outra vaga sendo disputada entre Genoino e Alckmin.
"Acho mais fácil o Maluf [ir ao segundo turno" do que o Alckmin. Há uma adesão maior do eleitorado do Maluf", declara o petista. Petistas e malufistas negam que tenham feito qualquer tipo de acordo para concentrar-se apenas no governador.
"O PT não pode deixar de bater no Maluf. Vamos mostrar quem ele é, um político ultrapassado, arcaico, conservador", afirma o pré-candidato petista.
Basta uma olhada no texto de diretrizes do programa de governo de Genoino, no entanto, para constatar que é Alckmin o "alvo número um" do petista.
Em 18 páginas, há só um parágrafo mencionando o "combate" ao malufismo. Alckmin e o governo do PSDB merecem dezenas de referências críticas, principalmente nas áreas de segurança, educação e desenvolvimento econômico. Genoino dedica quase todo o tempo de seus discursos ao ataque aos tucanos. Menciona em rápidas pinceladas a "truculência e o vale-tudo" do malufismo.
"Quando a gente fala do Alckmin, tem de argumentar sobre pedágio, segurança, educação, demanda elaboração mais consistente. Maluf e PT são "água e óleo". Nós e o Alckmin não somos "água e óleo'", argumenta o petista.
Segundo o presidente do PT estadual, Paulo Frateschi, o partido vai se concentrar, no início da campanha, em "qualificar sua oposição ao governo estadual". "A crítica ao Maluf, que tem eleitorado mais consolidado, fica para mais tarde, para quando houver a campanha eleitoral na TV."
Entre petistas e malufistas, há outras coincidências no discurso. Ambos os campos escolheram três alvos preferenciais: o sistema de progressão continuada nas escolas (pelo qual é facilitada a aprovação de estudantes), a quantidade de pedágios e os problemas na segurança pública. Maluf e Genoino batem duro no que seria um "uso da máquina" do Estado pelo tucano na campanha.
Na avaliação dos malufistas, é duplo o interesse em poupar Genoino. Primeiro, por compartilhar da visão de que o petista tira mais votos de Alckmin que dele.
Segundo, porque, enviando sinais simpáticos ao petista, conta com parte de seu eleitorado em um eventual segundo turno, mesmo levando em conta o histórico de animosidade entre PT e PPB.
O último movimento de Maluf tem sido o de inflar a candidatura e o ego de Luiz Inácio Lula da Silva e de lideranças do partido.
"O Lula representa no aspecto federal a mudança. Já no aspecto estadual, a mudança com o modelo é Maluf. A população assim enxerga. Existe este traço de união entre nós", declara o ex-prefeito.
Maluf completa o novo figurino distribuindo elogios a Genoino -"homem digno e honrado"- e a Marta. "Tudo que o Alckmin negou para a Marta eu vou dar. Parte dos problemas da administração dela é culpa da falta de apoio do governo do Estado", afirma. Em suas visitas ao interior do Estado, Maluf tem se preocupado em incluir prefeitos petistas na agenda.
Para o PSDB, os interesses comuns entre Maluf e Genoino mostram que os dois estão "de mãos dadas". (FÁBIO ZANINI)


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