São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

O publicitário Luiz Fernando Furquim espera levantar cerca de R$ 43 milhões na campanha tucana

Bancos devem apoiar Serra, diz arrecadador

WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os bancos, que registraram lucros recordes nos últimos anos, devem ser os "grandes apoiadores" financeiros da campanha do candidato governista à Presidência da República, José Serra (PSDB-PMDB), como foram nas duas campanhas do presidente Fernando Henrique Cardoso.
A afirmação é do publicitário Luiz Fernando Furquim, 61, que está virando um especialista em finanças eleitorais.
O publicitário vê ex-estatais como doadoras em potencial. "Várias empresas públicas foram privatizadas e têm hoje condições de contribuir para a campanha, coisa que antes não fariam", afirmou.
Depois de arrecadar fundos para as duas corridas presidenciais de Fernando Henrique e para a fracassada candidatura de Serra à Prefeitura de São Paulo, em 1996, Furquim acaba de assumir oficialmente a coordenação financeira da campanha tucana à Presidência nas eleições deste ano.
Ele ainda não definiu a meta de arrecadação para 2002, mas diz que trabalha com o valor de 1998 como "referência". Naquele ano, o comitê de FHC declarou à Justiça Eleitoral ter recebido R$ 43 milhões em doações.
Dois anos depois, a Folha revelou que pelo menos R$ 10,120 milhões doados à campanha ficaram de fora dessa contabilidade.
A informação colocou o Ministério Público e a Receita Federal nos calcanhares de vários arrecadadores daquela campanha, entre os quais Furquim. "Não estou sendo investigado pela Receita", assegura o publicitário.
Formado pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), em São Paulo, Furquim não é filiado ao PSDB. Trabalhou por dez anos na agência de propaganda J. Walter Thompson, 15 anos no grupo Pão de Açúcar e quatro anos na Editora Abril.
Casado, com cinco filhos e seis netos, Furquim diz que terá, na campanha de Serra, a mesma função que o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira teve nas campanhas de Fernando Henrique: assinava a contabilidade, mas não colocava a mão no dinheiro.
Isso quer dizer que ainda falta escolher um nome para a operação financeira: em 1994 a função foi exercida pelo ministro Sérgio Motta; em 1998, o ex-presidente dos Correios Egydio Bianchi respondeu pela área.
Para "não prejudicar a imagem do candidato", Furquim diz que quer "evitar a colaboração de qualquer marca, empresa ou organização que possa estar sob suspeita, mesmo que não comprovada".
Furquim informou que o economista Ricardo Sérgio de Oliveira não participará da arrecadação de fundos para Serra. "Eu não conheço esse senhor", declarou.
Ex-diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira arrecadou fundos para a campanha de Serra ao Senado, em 1994. Ele é suspeito de ter cobrado propina durante o processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce, em 1997
Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida por Furquim à Folha por telefone, na sexta-feira, de seu escritório, na capital paulista.
 

Folha - Quem o convidou para ser coordenador financeiro da campanha de José Serra?
Luiz Fernando Furquim -
José Serra, no final de abril.

Folha - Fez alguma recomendação especial?
Furquim -
Não. Apenas as recomendações de praxe quando se faz a contratação de um executivo. Nós nos conhecemos há uns 20 anos.

Folha - O sr. vai ter alguma remuneração pelo trabalho na campanha?
Furquim -
Não.

Folha - O candidato José Serra vai ter algum envolvimento com a arrecadação de fundos?
Furquim -
Com certeza ele vai dar atenção a esse departamento da campanha. [Mas terá apenas uma participação" protocolar, à medida que ele apresenta seu programa, suas idéias.

Folha - O que deve mudar nesta eleição para quem coleta doações?
Furquim -
Há uma mudança no ambiente. Várias empresas públicas foram privatizadas e têm hoje condições de contribuir para a campanha, coisa que antes não fariam.

Folha - Ricardo Sérgio de Oliveira vai ajudar na arrecadação?
Furquim -
Eu não conheço esse senhor. Conheço pelo noticiário. Com certeza não participará.

Folha - Com certeza não? É isso?
Furquim -
É isso. Mas eu não gostaria de dizer só isso. Primeiro, eu não conheço o senhor Ricardo Sérgio. Segundo, [ele" não faz parte desta campanha.

Folha - Quem está autorizado, além do sr., a pedir dinheiro para a campanha?
Furquim -
Por ora, Luiz Fernando Furquim. [Mas" teremos outras pessoas abaixo de mim e outras acima. Uma idéia é criar um conselho consultivo para discutir áreas sensíveis, nas quais temos de ter mais habilidade.

Folha - O sr. ainda não tem nenhum nome confirmado para ajudá-lo?
Furquim -
Tenho alguns nomes, mas estão sujeitos a registro no Tribunal [Superior Eleitoral".

Folha - Que precauções o sr. tomará para evitar que gente não autorizada peça dinheiro em nome da campanha?
Furquim -
Vamos saber exatamente quem é quem, aonde foi, como foi e como voltou. [Vamos" ter um time extremamente afinado, coeso.

Folha - A campanha aceitará contribuições em dinheiro vivo?
Furquim -
Isso não existe. A contribuição é feita em cheque ou depósito na conta do Banco do Brasil.

Folha - A conta já está aberta?
Furquim -
Isso deve ocorrer em uns dez dias. Por ora, qualquer depósito deve ser feito em nome do PSDB.

Folha - O sr. vai rejeitar algum tipo de contribuição?
Furquim -
Temos um filtro que é não ter contribuições que possam denegrir a imagem da campanha ou do candidato.

Folha - Por exemplo?
Furquim -
Acho que está bastante claro. Queremos evitar a colaboração de qualquer marca, empresa ou organização que possa estar sob suspeita, mesmo que não comprovada.

Folha - Como vai ser feito o controle da arrecadação?
Furquim -
Eu gostaria de ter uma planilha contábil feita no Excel [programa que elabora planilhas eletrônicas" num computador que não exista.

Folha - Num computador que não exista é difícil. Por quê?
Furquim -
Porque essa é uma coisa que inferniza a vida de todo mundo. Saber que você está sujeito a espionagem, a arapongagem e nós não queremos entregar informações aos nossos concorrentes.

Folha - O que vai ser declarado ao TSE?
Furquim -
Tudo.

Folha - E o que não vai ser declarado?
Furquim -
Tudo será declarado.

Folha - Qual é a meta de arrecadação?
Furquim -
A campanha [presidencial" de 1998 é um referencial.

Folha - Em torno de R$ 43 milhões.
Furquim -
É.

Folha - Qual será o setor preferencial, onde serão buscadas doações?
Furquim -
Os bancos hoje têm uma presença muito forte [na economia" e devem ser grandes apoiadores da campanha [de Serra" e de outros candidatos.

Folha - Qual é a semelhança entre um pedinte de rua e um arrecadador de fundos de uma campanha presidencial?
Furquim -
Se um pedinte quer aplacar sua fome, nós também queremos aplacar o desandar do Brasil. Eu me motivo com isso.



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