São Paulo, Quarta-feira, 30 de Junho de 1999
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JANIO DE FREITAS
Ligeiras como as cimeiras

Entre os presidentes e chefes de governo vindos almoçar e jantar no Rio, nada foi conversado que não pudesse tê-lo sido só por telefone. Nada foi além da insignificância prática que os diplomatas menos insinceros informavam já estar acertado. Ou seja, nada foi além do nada.
Nunca, porém, um pequeno nada nos custou tão caro. De acordo, aliás, com a regra fundamental do governo organizador do convescote. Só a Prefeitura do Rio foi levada a gastar, pelas contas preliminares, US$ 17 milhões, os quais, para bom entendedor, são mesmo é mais de R$ 30 milhões. Se houver contas finais, os dólares vão, com otimismo, para uns US$ 25 milhões pelo menos, quer dizer, gastos de uns R$ 45 milhões. Para dois dias em que reuniões, foi o que menos houve.
A prefeitura levada a esse gasto, para dois dias, não continua as obras do Favela Bairro, que são para milhares de dias de milhares de pessoas, por falta de dinheiro.

Silêncio, por favor
Além da revoltante imoralidade de proporcionar R$ 1,5 bilhão para a montagem da Ford na Bahia, o BNDES, transformado por este governo na maior caixa-preta de atos suspeitosos, de repente multiplica por três o montante, já imoral, que proporcionaria ao projeto da Ford quando se preparava para instalar-se, em vez da Bahia, no Rio Grande do Sul. Os juros do BNDES para a Ford: 2%. AO ANO. E cinco anos sem desembolso.
Com a infra-estrutura dada pelo governo baiano, o ataque ao cofre do BNDES e as reduções e dispensas de impostos federais, estaduais e municipais, a Ford recebe o suficiente para montar outras três fábricas. Ou mais. E quanto vai custar isso, não só aos baianos, mas a todos os que pagam impostos com o dinheiro recebido pelo trabalho? Nenhum dos súbitos amigos conquistados pela Ford o diz.
O governador e o donatário baianos, em vez de vangloriar-se, deviam pedir desculpas aos que trabalham no país todo, pelo que está sendo feito na Bahia. Ou, pelo menos, guardar algum silêncio, em respeito ao suor alheio.

Os refinados
O Itamaraty sai frustrado da Cimeira. Além do feito que foi a escolha desse nome lusitano, consta haver preparado outro - o menu do banquete: bagaceira como aperitivo, com um pratinho de tremoços; de entrada, caldo verde; prato forte, uma senhora bacalhoada; tudo acompanhado de uma boa cerveja preta. No decorrer do banquete, Fernando Henrique faria suas graças estupeficantes.
O menu os franceses conseguiram vetar, com a ameaça de romper relações.

Sem resposta
O Senado deu um jeito (lá, quase não fazem outra coisa) de obrigar o Tesouro Nacional a ressarcir o Banco do Brasil nos R$ 5 a R$ 6 bilhões pendurados pela Prefeitura de São Paulo, com a tramóia dos precatórios. Tesouro Nacional, nesse como em qualquer caso, é um eufemismo burocrático para disfarçar muitas decisões de governo e parlamentares.
Quem vai pagar os bilhões são as mesmas e já referidas pessoas que pagam impostos com os salários de seu trabalho. E o responsável pelos trambiqueiros precatórios não precisará enfrentar pelo menos um bom processo para ressarcir, até seu último centavo, os cidadãos do país todo, que vão pagar o dinheiro esbanjado na prefeitura paulistana? Nenhuma entidade se disporá a cobrar de Paulo Maluf esse custo excedente que ele tem para os que trabalham com honestidade?


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