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JANIO DE FREITAS
Ligeiras como as cimeiras
Entre os presidentes e chefes
de governo vindos almoçar e
jantar no Rio, nada foi conversado que não pudesse tê-lo sido só por telefone. Nada foi
além da insignificância prática que os diplomatas menos
insinceros informavam já estar acertado. Ou seja, nada foi
além do nada.
Nunca, porém, um pequeno
nada nos custou tão caro. De
acordo, aliás, com a regra fundamental do governo organizador do convescote. Só a Prefeitura do Rio foi levada a gastar, pelas contas preliminares,
US$ 17 milhões, os quais, para
bom entendedor, são mesmo é
mais de R$ 30 milhões. Se houver contas finais, os dólares
vão, com otimismo, para uns
US$ 25 milhões pelo menos,
quer dizer, gastos de uns R$ 45
milhões. Para dois dias em que
reuniões, foi o que menos houve.
A prefeitura levada a esse
gasto, para dois dias, não continua as obras do Favela Bairro, que são para milhares de
dias de milhares de pessoas,
por falta de dinheiro.
Silêncio, por favor
Além da revoltante imoralidade de proporcionar R$ 1,5
bilhão para a montagem da
Ford na Bahia, o BNDES,
transformado por este governo
na maior caixa-preta de atos
suspeitosos, de repente multiplica por três o montante, já
imoral, que proporcionaria ao
projeto da Ford quando se preparava para instalar-se, em
vez da Bahia, no Rio Grande
do Sul. Os juros do BNDES para a Ford: 2%. AO ANO. E cinco anos sem desembolso.
Com a infra-estrutura dada
pelo governo baiano, o ataque
ao cofre do BNDES e as reduções e dispensas de impostos
federais, estaduais e municipais, a Ford recebe o suficiente
para montar outras três fábricas. Ou mais. E quanto vai custar isso, não só aos baianos,
mas a todos os que pagam impostos com o dinheiro recebido
pelo trabalho? Nenhum dos
súbitos amigos conquistados
pela Ford o diz.
O governador e o donatário
baianos, em vez de vangloriar-se, deviam pedir desculpas aos
que trabalham no país todo,
pelo que está sendo feito na
Bahia. Ou, pelo menos, guardar algum silêncio, em respeito ao suor alheio.
Os refinados
O Itamaraty sai frustrado da
Cimeira. Além do feito que foi
a escolha desse nome lusitano,
consta haver preparado outro
- o menu do banquete: bagaceira como aperitivo, com um
pratinho de tremoços; de entrada, caldo verde; prato forte,
uma senhora bacalhoada; tudo acompanhado de uma boa
cerveja preta. No decorrer do
banquete, Fernando Henrique
faria suas graças estupeficantes.
O menu os franceses conseguiram vetar, com a ameaça
de romper relações.
Sem resposta
O Senado deu um jeito (lá,
quase não fazem outra coisa)
de obrigar o Tesouro Nacional
a ressarcir o Banco do Brasil
nos R$ 5 a R$ 6 bilhões pendurados pela Prefeitura de São
Paulo, com a tramóia dos precatórios. Tesouro Nacional,
nesse como em qualquer caso,
é um eufemismo burocrático
para disfarçar muitas decisões
de governo e parlamentares.
Quem vai pagar os bilhões
são as mesmas e já referidas
pessoas que pagam impostos
com os salários de seu trabalho. E o responsável pelos
trambiqueiros precatórios não
precisará enfrentar pelo menos um bom processo para ressarcir, até seu último centavo,
os cidadãos do país todo, que
vão pagar o dinheiro esbanjado na prefeitura paulistana?
Nenhuma entidade se disporá
a cobrar de Paulo Maluf esse
custo excedente que ele tem
para os que trabalham com
honestidade?
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