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PRECATÓRIOS
União assume dívida paulistana para evitar quebra do Banco do Brasil
Senado recua e vai aprovar
socorro à Prefeitura de SP
DANIEL BRAMATTI
ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília
O Senado se rendeu às pressões
do governo e deve permitir a federalização da dívida em títulos da
Prefeitura de São Paulo. O objetivo
é evitar a quebra do Banco do Brasil, detentor de R$ 6,1 bilhões em títulos paulistanos.
"Vou votar a favor, mas de nariz
tapado. A corrupção dos precatórios começou exatamente em São
Paulo", disse o presidente do
PMDB, Jader Barbalho (PA).
Para evitar a quebra do BB, os senadores votarão hoje um projeto
que anula uma medida tomada pelo próprio Senado na semana passada e que impôs como condição
para a federalização a análise dos
títulos paulistanos pela Justiça.
Segundo a CPI dos Precatórios,
76,6% da dívida em títulos do município de São Paulo se originou de
emissões irregulares. Os recursos
não foram utilizados no pagamento de precatórios (dívidas decorrentes de decisões judiciais), como
determina a Constituição.
Se o BB precisasse esperar pela
análise judicial, teria um prejuízo
de R$ 6,1 bilhões no balanço do
primeiro semestre, segundo carta
enviada ontem ao Senado pelo
presidente do banco, Andrea Calabi. Ele disse que o patrimônio líquido do BB ficaria inferior ao mínimo exigido pelo Banco Central
-ou seja, a instituição quebraria.
O documento foi encomendado
na véspera pelo presidente da CAE
(Comissão de Assuntos Econômicos), Ney Suassuna. Ele orientou
Calabi a mandar "uma carta dramática, emocional, mostrando que
estão lascados".
De posse da carta, os líderes governistas se reuniram ontem pela
manhã para preparar um projeto
que substituísse o anterior.
A proposta, assinada pelo líder
do governo, Fernando Bezerra
(PMDB-RN), foi aprovada ontem
mesmo pela CAE. A oposição não
agiu para impedir a votação e concordou com o regime de urgência
para permitir que a proposta seja
votada hoje no plenário.
Na véspera, Bezerra havia dito
que "pruridos" dos senadores não
os impediriam de votar um projeto
para salvar o BB.
A maior parte dos títulos paulistanos estava em poder do Banespa
até 1995, quando os papéis foram
transferidos para o BB. Na época, o
Banespa estava sob intervenção.
"O Banespa foi saneado e jogaram o mico dentro do BB", disse
Barbalho. No jargão do mercado,
"mico" é um papel sem valor.
Barbalho apresentou um requerimento para que o Ministério da
Fazenda explique a transferência
dos títulos. Segundo ele, chega a R$
5,7 bilhões o valor corrigido dos
papéis que estavam no Banespa.
O senador José Eduardo Dutra
(PT-SE) disse que vai apresentar
um requerimento para reabrir a
CPI dos Precatórios. "A absorção
desses títulos pelo Banco do Brasil
precisa ser investigada", afirmou.
Dutra foi o autor da proposta
(que hoje será anulada) dando tratamento igual a todos os títulos
considerados irregulares pela CPI.
Os títulos irregulares de Alagoas,
Santa Catarina, Pernambuco,
Osasco, Campinas e Guarulhos
também poderão ser federalizados, mas só depois que a Justiça se
pronunciar sobre a validade dos
mesmos. A dívida somada é de cerca de R$ 2,3 bilhões, segundo dados de março do Banco Central.
Em 1998, o município de São
Paulo havia ficado fora de uma resolução que impedia a rolagem de
títulos considerados irregulares.
O então senador Gilberto Miranda (PFL-AM) comandou a articulação para beneficiar o prefeito
Celso Pitta (PPB). O governo também tinha interesse na votação,
pois não queria o partido de Paulo
Maluf como adversário político.
A CAE aprovou ontem a rolagem
dos títulos do Estado do Rio de Janeiro que vencem nos próximos
três meses. Se a rolagem não fosse
aprovada, o BB ficaria com outro
"mico", pois é detentor de cerca de
R$ 11 bilhões em papéis do Rio.
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