São Paulo, sábado, 30 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ NEGOCIAÇÃO

Jaques Wagner nega "acordão" para abafar CPI, mas diz que políticos recobraram a racionalidade após denúncias contra oposicionistas

Governo propõe punições "diferenciadas"

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O governo acertou um discurso comum para a CPI dos Correios: tudo deve ser apurado e punido, mas com "gradação", distinguindo o que é caixa dois de campanha do que é crime de corrupção ativa, com recebimento de "mensalão" ou desvio de dinheiro público para interesses privados.
"Há participações diferenciadas, que precisam ser confirmadas com documentos e provas. No que toca a financiamento de campanha, pelas regras atuais, todo mundo tem", disse à Folha o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais). Ele tem conversado tanto com líderes políticos, inclusive de oposição, quanto com líderes empresariais.
Wagner e o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) negam veementemente que haja um "acordão" entre governo e oposição para "abafar" a CPI e as investigações da Polícia Federal.
"Todo mundo está chocado, e manter fantasmas no armário não interessa a ninguém, muito menos ao presidente da República", disse Wagner. Thomaz Bastos repele explicitamente um acerto político para definir previamente uma espécie de cotas de políticos a serem cassados na oposição e no governo.
"Escalar [quem deve e quem não deve ser cassado] não pode. Escalar seria repetir 1993", disse Thomaz Bastos, comparando com o acerto feito na CPI do Orçamento para limitar o número de parlamentares punidos. No final, 10 caíram: seis foram cassados e quatro renunciaram.
Wagner, que articula uma reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima semana com confederações patronais, já conversou com o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), deputado Armando Monteiro, e ontem se encontrou no Rio com o empresário Jorge Gerdau, líder do movimento Ação Empresarial. Wagner e Gerdau são membros do Conselho de Administração da Petrobras.
"Há uma confluência e uma coincidência nas manifestações. Todos querem apuração e punição, mas sem paralisar o país. E também não adianta punir sem aprimorar os mecanismos anticorrupção para o futuro", relatou Wagner. Ele manteve contatos com os deputados pefelistas José Carlos Aleluia (BA) e Rodrigo Maia (RJ). Também conversou com o deputado tucano Alberto Goldman (SP) e ligou para o senador Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM), para marcar encontro.
Na versão do coordenador político, há um esforço para que o Congresso saia da paralisia e retome as votações de temas considerados importantes: saneamento, lei da concorrência, lei geral da microempresa e reforma tributária. Segundo Wagner, esse esforço é possível porque "a política recobrou a racionalidade" após dois fatores: a inclusão de tucanos e pefelistas no rol do esquema Marcos Valério de distribuição de dinheiro, e a "piscada" da economia na segunda-feira passada, com queda das Bolsas e alta do dólar, controlados ao longo da semana.
Um dos interlocutores do governo é o presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, que foi deputado, possui não-declaradas pretensões eleitorais para 2006 e tem se oferecido publicamente como uma espécie de moderador entre governo e oposição. Ele tem conversado com Thomaz Bastos, com quem deve almoçar na próxima semana.
Quando se fala em "acordão", há dois movimentos diferenciados em curso. Um é específico, tentando articular uma saída igual para o deputado e ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) e para o deputado e ex-presidente do PTB Roberto Jefferson, os dois principais pivôs da crise.
O consenso é de que dificilmente eles escaparão da renúncia ou da cassação, mas ambos lutam desesperadamente para salvar os seus mandatos. Dirceu, inclusive, está concentrado em sua defesa, cuja estratégia é o ataque. Um segundo movimento, para que a CPI desse em "pizza", é considerado inviável e praticamente impossível por todos os lados.


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