|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ NEGOCIAÇÃO
Jaques Wagner nega "acordão" para abafar CPI, mas diz que políticos recobraram a racionalidade após denúncias contra oposicionistas
Governo propõe punições "diferenciadas"
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O governo acertou um discurso
comum para a CPI dos Correios:
tudo deve ser apurado e punido,
mas com "gradação", distinguindo o que é caixa dois de campanha do que é crime de corrupção
ativa, com recebimento de "mensalão" ou desvio de dinheiro público para interesses privados.
"Há participações diferenciadas, que precisam ser confirmadas com documentos e provas.
No que toca a financiamento de
campanha, pelas regras atuais, todo mundo tem", disse à Folha o
ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais). Ele tem conversado tanto com líderes políticos, inclusive de oposição, quanto
com líderes empresariais.
Wagner e o ministro Márcio
Thomaz Bastos (Justiça) negam
veementemente que haja um
"acordão" entre governo e oposição para "abafar" a CPI e as investigações da Polícia Federal.
"Todo mundo está chocado, e
manter fantasmas no armário
não interessa a ninguém, muito
menos ao presidente da República", disse Wagner. Thomaz Bastos repele explicitamente um
acerto político para definir previamente uma espécie de cotas de
políticos a serem cassados na
oposição e no governo.
"Escalar [quem deve e quem
não deve ser cassado] não pode.
Escalar seria repetir 1993", disse
Thomaz Bastos, comparando
com o acerto feito na CPI do Orçamento para limitar o número
de parlamentares punidos. No final, 10 caíram: seis foram cassados e quatro renunciaram.
Wagner, que articula uma reunião do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva na próxima semana
com confederações patronais, já
conversou com o presidente da
CNI (Confederação Nacional da
Indústria), deputado Armando
Monteiro, e ontem se encontrou
no Rio com o empresário Jorge
Gerdau, líder do movimento
Ação Empresarial. Wagner e Gerdau são membros do Conselho de
Administração da Petrobras.
"Há uma confluência e uma
coincidência nas manifestações.
Todos querem apuração e punição, mas sem paralisar o país. E
também não adianta punir sem
aprimorar os mecanismos anticorrupção para o futuro", relatou
Wagner. Ele manteve contatos
com os deputados pefelistas José
Carlos Aleluia (BA) e Rodrigo
Maia (RJ). Também conversou
com o deputado tucano Alberto
Goldman (SP) e ligou para o senador Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM), para marcar encontro.
Na versão do coordenador político, há um esforço para que o
Congresso saia da paralisia e retome as votações de temas considerados importantes: saneamento,
lei da concorrência, lei geral da
microempresa e reforma tributária. Segundo Wagner, esse esforço
é possível porque "a política recobrou a racionalidade" após dois
fatores: a inclusão de tucanos e
pefelistas no rol do esquema Marcos Valério de distribuição de dinheiro, e a "piscada" da economia
na segunda-feira passada, com
queda das Bolsas e alta do dólar,
controlados ao longo da semana.
Um dos interlocutores do governo é o presidente do Supremo
Tribunal Federal, Nelson Jobim,
que foi deputado, possui não-declaradas pretensões eleitorais para 2006 e tem se oferecido publicamente como uma espécie de
moderador entre governo e oposição. Ele tem conversado com
Thomaz Bastos, com quem deve
almoçar na próxima semana.
Quando se fala em "acordão",
há dois movimentos diferenciados em curso. Um é específico,
tentando articular uma saída
igual para o deputado e ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) e para
o deputado e ex-presidente do
PTB Roberto Jefferson, os dois
principais pivôs da crise.
O consenso é de que dificilmente eles escaparão da renúncia ou
da cassação, mas ambos lutam
desesperadamente para salvar os
seus mandatos. Dirceu, inclusive,
está concentrado em sua defesa,
cuja estratégia é o ataque. Um segundo movimento, para que a
CPI desse em "pizza", é considerado inviável e praticamente impossível por todos os lados.
Texto Anterior: Publicidade: DNA registra cobrança de R$ 12 mi da Eletronorte por serviço que não existiu Próximo Texto: Parlamentares negam que CPI "dará em pizza" Índice
|