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Viúva pede e FHC promete que nem todo
o dinheiro da privatização abaterá dívida
RENATA GIRALDI
LUIZA DAMÉ
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que o
"grosso dos recursos" arrecadados com a privatização da Telebrás, mais de R$ 22 bilhões, será
utilizado para "abater dívidas do
governo", mas que haverá investimentos em outros setores.
"Os recursos superaram em
muito o que nós imaginávamos.
Então vou conversar com o ministro da Fazenda (Pedro Malan) para ver se na idéia dele, e na minha
também, nós temos alguma outra
destinação", afirmou FHC.
O princípio imposto pela equipe
econômica é que todo o dinheiro
arrecadado nas privatizações seja
usado apenas para abater dívida
pública. FHC mudou os planos
porque não resistiu ao pedido feito ontem pela viúva do ministro
Sérgio Motta (Comunicações).
Wilma Motta fez o pedido ao ser
recebida pelo presidente ontem à
tarde, depois de encerrado o leilão
-estava acompanhada do ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros. No início
da noite, ao visitar também o comitê de campanha de FHC, ela disse que gostaria de ver a posição de
Sérgio Motta respeitada.
"Espero que o resultado da privatização não vá só para a dívida
pública, mas que parte seja usada
para resgatar a herança cruel da
questão social no país", afirmou.
Os ministérios da Fazenda e do
Planejamento não quiseram se
pronunciar sobre a promessa de
FHC desviar recursos da privatização para outros fins que não o
abatimento da dívida. Isso já
aconteceu na privatização da Vale
do Rio Doce, ano passado, também por imposição de Motta.
O governo destinou 50% dos recursos obtidos para investimentos
na área social e de modernização
da infra-estrutura econômica.
Sem citar nomes nem partidos,
FHC condenou os setores contrários à venda da Telebrás que tentaram por meio de liminares suspender o leilão. "Essa guerrilha
política não prosperou por meio
dessas liminares infinitas e sem
nenhuma base objetiva", disse ele.
O presidente afirmou que houve
uma "tentativa de utilização da
Justiça como instrumento de luta"
contra a decisão de privatização da
Telebrás, tomada pelo Congresso.
"A privatização é um processo
aprovado pelo Legislativo e as decisões são do Executivo. A responsabilidade é do Executivo."
Reeleição
Segundo FHC, os que condenaram os valores estabelecidos para
o preço mínimo e apostaram na
derrota do governo no leilão fizeram "uma crítica irresponsável".
Para ele, essas pessoas poderiam
ter "impedido o Brasil de dar um
passo na sua modernização".
FHC negou que obterá vantagens para sua reeleição com a venda do sistema Telebrás. "Isso (a
privatização) conta é a favor do
Brasil, do povo brasileiro."
O presidente disse lamentar os
tumultos ocorridos no Rio durante a realização do leilão e definiu-os como "pequenos". "Não
quero nem me referir a acontecimentos desta natureza porque
deslustram (desonram) a convivência democrática."
FHC afirmou que deverão ser arrecadados cerca de R$ 5 bilhões a
partir da venda das empresas-espelho (constituídas para concorrer com a banda A).
Comitê
O comitê de campanha de FHC
acompanhou pela Internet o leilão
do Sistema Telebrás.
Ao comemorar o resultado, o
coordenador político da campanha, Euclides Scalco, criticou o
petista Luiz Inácio Lula da Silva.
"Desmoralização é uma palavra
forte. Foi mais um equívoco, um
engano dele (Lula)", afirmou Scalco, quando questionado sobre os
efeitos do resultado da privatização para o petista. O candidato petista é contra a privatização.
"O ágio de mais de 60% é uma
resposta às críticas da oposição",
completou. Mais do que o resultado do leilão, o comando político
comemorou a "estratégia equivocada" da oposição, que combateu
a privatização da Telebrás.
Na campanha de 1994, Lula também bateu forte no Plano Real -o
PT disse que era uma "estelionato
eleitoral".
Para o comando político, o resultado do leilão foi um "sucesso". No entanto, segundo Scalco,
o resultado da privatização não será usado na campanha de FHC.
"Não vamos explorar na campanha. É um ato (o leilão) administrativo de sucesso e terá reflexo
positivo para o governo. É evidente que trará reflexo positivo também para a campanha", afirmou.
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