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Protesto contra leilão termina em
conflito, após PM descumprir acordo
enviados especiais ao Rio
O que era para ser um protesto
pacífico contra a venda da Telebrás se transformou em conflito
generalizado que opôs, no centro
do Rio de Janeiro, policiais e manifestantes durante parte da manhã e
da tarde de ontem.
Dezenas de pessoas ficaram feridas, mais de 30 manifestantes foram presos. As lojas de diversas
ruas centrais não funcionaram a
maior parte do dia. Um grupo de
mascarados tentou incendiar a sede do PSDB na rua São José e a vizinha lanchonete McDonald's.
A PM quebrou o acordo firmado
com a organização do protesto. O
acordo restringia o ato contra a
venda do Sistema Telebrás à área
em frente à Assembléia Legislativa.
Na semana passada, a PM havia informado que a avenida Antonio
Carlos e a rua 1º de Março, no centro, seriam fechadas ao tráfego e
abrigariam os manifestantes.
No final da tarde de ontem, o governador Marcello Alencar negou
a existência de um acordo e disse
que partiu dele a ordem para que
os manifestantes fossem retirados
da rua 1º de Março pela PM, pois
estavam bloqueando o trânsito.
Alencar elogiou a ação policial,
que, segundo ele, respeitou "os
princípios democráticos".
"Procuramos desobstruir a 1º de
Março porque o trânsito estava
sendo prejudicado. Eles resolveram romper o acordo com a polícia. Pedi que desobstruíssem a rua.
Eles não atenderam", disse o coronel Pedro Patrício Filho, comandante do 5º Batalhão da PM.
Os confrontos entre manifestantes e policiais militares afetaram a
vida de milhares de pessoas que
passaram a partir das 9h40 pelas
imediações da praça 15, onde fica a
Bolsa de Valores.
Havia 3.000 policiais, segundo a
PM, contra 10 mil manifestantes,
na avaliação da CUT (Central Única dos Trabalhadores). A PM estimou os manifestantes em cerca de
2.000. Mas ambas as avaliações são
imprecisas, por causa dos tumultos que ocorreram em pontos diferentes do centro carioca.
Os PMs foram os responsáveis
pelas primeiras agressões. Eles atacaram os manifestantes com cassetetes, bombas de gás e até tiros
de revólveres. Os manifestantes
reagiram com pedras, garrafas,
morteiros e pelo menos uma barricada de madeira, incendiada para
impedir a passagem da tropa.
O hospital Souza Aguiar (centro)
havia atendido, até as 16h30, 20
pessoas feridas, das quais 14 continuavam internadas. A Folha localizou em meio aos tumultos mais
15 feridos, que se recusaram a procurar atendimento. Um deles era o
presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Ricardo Cappelli, 26, com o braço direito fraturado, segundo ele, por PMs.
Segundo o governador Marcello
Alencar, 11 manifestantes foram
autuados e soltos sob pagamento
de fiança. Desses, 9 foram acusados de danos ao patrimônio público, e 2 de desacato à autoridade.
Pelo menos 60 manifestantes foram levados pela polícia para a 1ª
DP (Delegacia de Polícia), no centro. Os PMs prenderam ainda sete
menores de 18 anos, que foram encaminhados à DPCA (Delegacia de
Proteção à Criança e ao Adolescente) da Polícia Civil.
Os tumultos começaram às 9h45,
quando cem policiais de choque
alinhados na rua Primeiro de Março, após ordem do secretário estadual da Segurança, Noaldo da Silva, começaram a expulsar manifestantes que impediam o tráfego
em frente à Assembléia Legislativa.
Os PMs agrediram os manifestantes com golpes de cassetete e
atiraram bombas de gás dentro das
barracas dos sem-terra acampados
no local. Os manifestantes correram para as ruas laterais, onde arrancaram as pedras do calçamento, atirando-as nos PMs.
Aterrorizados com os estrondos
das explosões e com os pedregulhos arremessados para todos os
lados, comerciantes fecharam suas
lojas, o que impedia os pedestres,
surpreendidos entre os grupos adversários, de se proteger.
A situação se agravou a partir das
14h, horário em que terminava o
leilão na Bolsa de Valores, quando
mascarados misturados entre os
manifestantes tentaram incendiar
a sede do PSDB na rua São José,
que já tinha sido apedrejada.
Lojas vizinhas também foram
atacadas pelo grupo, que fracassou
na tentativa de atear fogo ao
McDonald's e ao restaurante Timpanas (térreo do prédio do PSDB).
A confusão só foi amenizada depois que os policiais expulsaram os
manifestantes para a avenida Rio
Branco. Antes de se dispersar, os
mascarados ainda destruíram três
Voyages da PM.
(LUIZ ANTÔNIO
RYFF, PATRICIA ZORZAN, RICARDO GALHARDO, RONI LIMA E SERGIO TORRES)
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