São Paulo, quinta, 30 de julho de 1998

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Protesto contra leilão termina em conflito, após PM descumprir acordo

enviados especiais ao Rio

O que era para ser um protesto pacífico contra a venda da Telebrás se transformou em conflito generalizado que opôs, no centro do Rio de Janeiro, policiais e manifestantes durante parte da manhã e da tarde de ontem.
Dezenas de pessoas ficaram feridas, mais de 30 manifestantes foram presos. As lojas de diversas ruas centrais não funcionaram a maior parte do dia. Um grupo de mascarados tentou incendiar a sede do PSDB na rua São José e a vizinha lanchonete McDonald's.
A PM quebrou o acordo firmado com a organização do protesto. O acordo restringia o ato contra a venda do Sistema Telebrás à área em frente à Assembléia Legislativa. Na semana passada, a PM havia informado que a avenida Antonio Carlos e a rua 1º de Março, no centro, seriam fechadas ao tráfego e abrigariam os manifestantes.
No final da tarde de ontem, o governador Marcello Alencar negou a existência de um acordo e disse que partiu dele a ordem para que os manifestantes fossem retirados da rua 1º de Março pela PM, pois estavam bloqueando o trânsito. Alencar elogiou a ação policial, que, segundo ele, respeitou "os princípios democráticos".
"Procuramos desobstruir a 1º de Março porque o trânsito estava sendo prejudicado. Eles resolveram romper o acordo com a polícia. Pedi que desobstruíssem a rua. Eles não atenderam", disse o coronel Pedro Patrício Filho, comandante do 5º Batalhão da PM.
Os confrontos entre manifestantes e policiais militares afetaram a vida de milhares de pessoas que passaram a partir das 9h40 pelas imediações da praça 15, onde fica a Bolsa de Valores.
Havia 3.000 policiais, segundo a PM, contra 10 mil manifestantes, na avaliação da CUT (Central Única dos Trabalhadores). A PM estimou os manifestantes em cerca de 2.000. Mas ambas as avaliações são imprecisas, por causa dos tumultos que ocorreram em pontos diferentes do centro carioca.
Os PMs foram os responsáveis pelas primeiras agressões. Eles atacaram os manifestantes com cassetetes, bombas de gás e até tiros de revólveres. Os manifestantes reagiram com pedras, garrafas, morteiros e pelo menos uma barricada de madeira, incendiada para impedir a passagem da tropa.
O hospital Souza Aguiar (centro) havia atendido, até as 16h30, 20 pessoas feridas, das quais 14 continuavam internadas. A Folha localizou em meio aos tumultos mais 15 feridos, que se recusaram a procurar atendimento. Um deles era o presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Ricardo Cappelli, 26, com o braço direito fraturado, segundo ele, por PMs.
Segundo o governador Marcello Alencar, 11 manifestantes foram autuados e soltos sob pagamento de fiança. Desses, 9 foram acusados de danos ao patrimônio público, e 2 de desacato à autoridade.
Pelo menos 60 manifestantes foram levados pela polícia para a 1ª DP (Delegacia de Polícia), no centro. Os PMs prenderam ainda sete menores de 18 anos, que foram encaminhados à DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente) da Polícia Civil.
Os tumultos começaram às 9h45, quando cem policiais de choque alinhados na rua Primeiro de Março, após ordem do secretário estadual da Segurança, Noaldo da Silva, começaram a expulsar manifestantes que impediam o tráfego em frente à Assembléia Legislativa.
Os PMs agrediram os manifestantes com golpes de cassetete e atiraram bombas de gás dentro das barracas dos sem-terra acampados no local. Os manifestantes correram para as ruas laterais, onde arrancaram as pedras do calçamento, atirando-as nos PMs.
Aterrorizados com os estrondos das explosões e com os pedregulhos arremessados para todos os lados, comerciantes fecharam suas lojas, o que impedia os pedestres, surpreendidos entre os grupos adversários, de se proteger.
A situação se agravou a partir das 14h, horário em que terminava o leilão na Bolsa de Valores, quando mascarados misturados entre os manifestantes tentaram incendiar a sede do PSDB na rua São José, que já tinha sido apedrejada.
Lojas vizinhas também foram atacadas pelo grupo, que fracassou na tentativa de atear fogo ao McDonald's e ao restaurante Timpanas (térreo do prédio do PSDB).
A confusão só foi amenizada depois que os policiais expulsaram os manifestantes para a avenida Rio Branco. Antes de se dispersar, os mascarados ainda destruíram três Voyages da PM. (LUIZ ANTÔNIO RYFF, PATRICIA ZORZAN, RICARDO GALHARDO, RONI LIMA E SERGIO TORRES)



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