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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Programa de governo de Lula não prevê redução da carga tributária
Documento apresentado ontem cita expansão de políticas sociais e rejeita corte de gastos públicos
Texto petista enfatiza que é preciso elevar investimento para mais de 25% do PIB, mas não menciona reformas tributária e previdenciária
FÁBIO ZANINI
EM SÃO PAULO
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O programa de governo para
um eventual segundo mandato
de Luiz Inácio Lula da Silva,
lançado ontem, descarta a redução de gastos públicos, promete expandir as políticas sociais e evita se comprometer
com a queda da carga tributária, que atingiu o patamar recorde de 37,37% do PIB em
2005.
O documento promete elevar
a taxa de investimento para acima de 25% do PIB -hoje não
chega a 20%-, a despeito da expansão de despesas. Essa é uma
das poucas metas numéricas
nas 30 páginas do texto.
O compromisso com as reformas, carro-chefe da campanha passada de Lula, ficou praticamente esquecido desta vez.
O texto da coligação que apóia o
presidente (PT-PRB-PC do B)
não menciona uma única vez a
reforma tributária, tratada em
2002 como a mãe de todas as
outras. A reforma iniciada em
2003 não acabou, e o atual governo não conseguiu nem unificar as alíquotas de ICMS.
Da mesma forma, as propostas de mudança na Previdência
ficam restritas ao combate às
fraudes e à regulamentação dos
fundos de pensão para servidores públicos. Já criados pelo
Congresso, os fundos não estão
em funcionamento até hoje.
O tema geração de empregos
recebeu tratamentos distintos
em 2002 e 2006. Na campanha
passada, o programa reiterava
"necessidade de criação" de 10
milhões de empregos para alavancar o crescimento. Agora, só
se compromete com "gerar
mais e melhores empregos, por
meio da expansão do investimento público e do estímulo ao
investimento privado".
Sobre mudança na legislação
trabalhista, o texto apenas acena com o encaminhamento de
um debate a respeito do tema.
Ameaça ao equilíbrio
Entre os petistas, a redução
no gasto público é associada a
cortes nas políticas sociais, o
que eles rejeitam. "A direita vê
esses investimentos sociais como ameaças ao equilíbrio fiscal, tese que foi desmentida pela realidade nos últimos três
anos. [...] Os anunciados cortes
do gasto público visam, em verdade, cortes nas políticas sociais", diz o documento.
O texto promete "reconstruir
a capacidade de gestão, indução
e coordenação do Estado". Afirma que a oposição "quer a ineficiência do Estado mínimo".
Reitera que, apesar de expandir
os gastos sociais, o governo o fará mantendo a responsabilidade fiscal. "Estão construídas
condições objetivas para um
maior crescimento com juros
mais baixos, aumento dos investimentos e intensificação
das políticas sociais, preservado o equilíbrio macroeconômico".
É reiterado o compromisso
com a redução nas taxas de juros, pois "a luta pela inclusão
social e o combate à pobreza
exige um crescimento acelerado da economia, bem acima dos
níveis atuais".
Mas, novamente, não há promessa numérica. Em 2002, o
texto de Lula se comprometia
com crescimento anual médio
de 5%, índice que jamais foi
atingido por seu governo.
Se há quatro anos o programa prometia "redução ao longo
do tempo da carga tributária
incidente sobre a produção e os
assalariados de baixa e média
renda", agora o PT sai pela tangente. O texto promete um "padrão de financiamento não baseado no endividamento público ou em pesada carga tributária". Mais à frente, diz que vai
"prosseguir em programas seletivos de desoneração tributária" para fortalecer a expansão
do sistema produtivo".
Em nenhum momento, entretanto, há o compromisso de
reduzir o peso dos impostos.
O programa anunciado ontem, com um mês e meio de
atraso, teve 11 versões antes de
ficar pronto. Em setembro, serão publicados 30 cadernos setoriais, mais detalhados. O programa de governo do tucano
Geraldo Alckmin será parcialmente divulgado no sábado.
A educação, apesar de tratada como a grande prioridade
para o eventual segundo mandato de Lula, recebe apenas
uma página no documento. O
programa promete universalizar o ensino fundamental com
duração de nove anos. Na segurança pública, o candidato promete intensificar a repressão
ao crime organizado, com vigilância de fronteiras para impedir a entrada de armas e drogas.
Leia a íntegra do programa de governo de Lula
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