São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CANDIDATOS NA FOLHA

Todo mundo fez caixa dois, diz Quércia

Para peemedebista, que elege Serra como principal alvo de ataque, presidente tinha ciência da existência do mensalão

Em sabatina da Folha, candidato critica política de segurança do PSDB e responsabiliza partido pelo surgimento do PCC


ROGÉRIO PAGNAN
MATHEUS PICHONELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-governador de São Paulo Orestes Quércia (PMDB), 68, que tenta voltar ao cargo neste ano, se incluiu na lista dos políticos brasileiros que utilizaram o "caixa 2" em suas campanhas.
Em sabatina na Folha, o candidato peemedebista confessou já ter praticado o crime eleitoral. Em qual das eleições? "Todas. Todo mundo fez", declarou ele que participou de dez eleições desde 1963, de vereador à Presidência da República, e foi eleito governador de São Paulo em 1986.
"Se vocês procurarem, quando me elegi governador, fiz uma declaração que saiu na Folha, no "Estado': "Ninguém registra [todo o dinheiro gasto] e também não registrei tudo'", completou. Nessas eleições, Quércia afirmou que suas contas estão, porém, corretas e elogiou a Justiça pelo rigor. "O fato é que ninguém registrava. Nenhum político, nenhum partido. Era uma espécie de caixa dois que existia, está errado. Hoje, está corrigido e subscrevo embaixo", disse o candidato.
Quércia, que apoiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, também disse acreditar que o petista sabia das irregularidades praticadas, como o mensalão. "Ele não tinha condições desconhecer o que acontecia, mas a opinião pública acha que ele desconhecia", disse o candidato.
Sem dar detalhes, o candidato afirmou ter pedido para o afilhado Marcelo Barbieri deixar a Casa Civil de José Dirceu, onde era assessor parlamentar ao lado de Waldomiro Diniz, em razão de rumores de irregularidades. "Até achei melhor ele sair de lá. Havia qualquer coisa de Waldomiro naquela época, pedi para ele sair de lá, falaram. Na verdade, essa coisa corre no Congresso. Começou a correr. Essa história de Waldomiro", disse. Ao ser indagado sobre o teor dessas conversas, generalizou. "Problemas de verbas", argumentou.
Participaram da sabatina da Folha, no Teatro Folha: Vaguinaldo Marinheiro (secretário de Redação da Folha), Fernando de Barros e Silva (editor de Brasil), Gilberto Dimenstein e Mônica Bergamo (colunistas).

 

SERRA
Assim como o PSDB, o tucano José Serra, líder nas pesquisas de intenção de voto na disputa pela Palácio dos Bandeirantes, não foi poupado das críticas de Quércia. Para o peemedebista, o ex-prefeito é o candidato menos qualificado do trio: Quércia, Serra e Aloizio Mercadante. "Se ele for governador, acredito que não vai ser, se fosse, iria pensando em ser candidato a presidente da República. O que está na cabeça dele é isso. Isso é ruim. Tem que eleger o Quércia que não quer ser candidato à Presidência, quer terminar o mandato e fazer um grande governo", disse.

SEGURANÇA
O ex-governador criticou os 12 anos de PSDB que provocaram o surgimento do crime organizado no Estado. Ele voltou a criticar a criação da Secretaria da Administração Penitenciária. "O governo deixou de cortar esse mal pela raiz. Hoje, é muito mais difícil porque eles ganharam espaço. Hoje, eles têm uma organização, controlam lá de dentro o bandido aqui fora. A coisa ficou difícil porque causa da fraqueza do governo em cuidar desse assunto."

CARANDIRU
Quércia falou que foi uma "burrice" do então governador Antonio Fleury Filho autorizar a invasão ao complexo presidiário em outubro de 1992, que resultou em 111 mortes de detentos. O peemedebista também lamentou ter indicado Fleury como seu sucessor.
"Eu me lembro que quando nós mandamos invadir e houve, realmente, a morte de 29 presidiários, não houve nenhuma manifestação. Ninguém dos Direitos Humanos veio cobrar alguma coisa do governo. Porque era uma coisa correta. Acho que o nosso secretário ficou com isso na cabeça, que foi uma coisa boa, e fez esse absurdo de mandar invadir o Carandiru, matando aquelas pessoas, que não tinham reféns, não tinham nenhum problema. O problema era segurar. Não deixar entrar água e comida e depois tomar conta."

BANESPA
O candidato também rechaçou a responsabilidade pela "quebra" do Banespa, e conseqüentemente sua privatização, e o culpou o PSDB de aderir ao Consenso de Washington, que preconizava o fechamento de bancos estatais. Ele também incluiu o PT à política.
"Essa história de que "o Quércia quebrou o Banespa" fazia parte de um processo político. O Banespa tinha mais prestígio do que o Banco do Brasil. Eles tinham na cabeça que tinha que fechar o Banespa. Eles venderam o Banespa foi R$ 7 bilhões e pagaram R$ 2 bilhões. São Paulo tem crédito de R$ 5 bilhões para receber, e o governo tucano aceitou."

COMPORTAMENTO
O candidato também respondeu a perguntas polêmicas. Ele disse ser contra o aborto e a pena de morte e favorável à obrigatoriedade do voto e às cotas raciais nas universidades.
Sobre a redução da maioridade penal, o ex-governador afirmou ser favorável a um mudança do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). "Não tem cabimento um jovem cometer o maior crime do mundo e não ser punido", afirmou ele.
Sobre a união civil de homossexuais, o sexagenário disse não ser contra, mas fez ressalvas. "Não considero casamento nem acho que deva adotar filhos. Mas a união civil tudo bem, para direitos e deveres de companheiros que vivem juntos", afirmou Quércia.

LULA E OS OUTROS
O peemedebista afirmou ser "natural" o apoio do partido a Lula, caso seja confirmada sua reeleição em outubro. "Se o Lula for reeleito, vai acabar dando apoio. Já existe apoio do PMDB. O partido tem ministros. É uma coisa natural que venha a acontecer. Impressão que tenho. Não significa que vou apoiar isso. Se o Lula for reeleito é importante ajudá-lo. Interessa para nós, para o Brasil, não vamos querer prejudicar o presidente reeleito por ser contra o partido dele."
Já sobre a candidata do PSOL, Heloísa Helena, a quem chamou de "mocinha", Quércia disse desconhecê-la e que preferia a eleição do pedetista Cristovam Buarque. "Se acreditasse na Heloísa Helena, poderia apoiar. Mas não a conheço. Cresceu nas pesquisas e tem valor muito grande. Eu, se acabar discutindo um pouco, acabo quem sabe ficando mais simpático a ela. Nunca pensei sobre isso. Uma pessoa simpática para mim é o Cristovam Buarque. Não tem chances de se eleger, mas a proposta para a educação é muito boa."


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