São Paulo, quinta-feira, 30 de agosto de 2007

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Lula promete a famílias que comissão vai ouvir militares

Presidente diz que deseja contribuir para que "sociedade vire a página desta história"

Em 93, então ministro da Justiça recebeu relatórios das Forças Armadas sobre ditadura; oficiais dizem que arquivos não existem mais

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reunião ontem com familiares e mortos de desaparecidos políticos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu criar uma comissão para obter dos atuais militares informações sobre os restos mortais de opositores mortos pela ditadura militar (1964-1985).
Lula, porém, pediu que a decisão fosse mantida em reserva, para não atrapalhar as novas negociações sobre informações da repressão política que os ministros Nelson Jobim (Defesa) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) estabelecerão com os comandantes militares.
Lula foi cauteloso no discurso público que fez logo após a reunião para lançamento do livro "Direito à Memória e à Verdade", primeiro documento oficial do governo que assume como verdade histórica a versão de que a repressão política decapitou, esquartejou, estuprou, torturou e ocultou cadáveres de opositores de ditadura.
O formato da comissão ainda não está decidido. Lula pode aumentar o número de representantes da atual Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos ou criar uma nova instância coordenada pela Defesa e por Direitos Humanos.
Em entrevista coletiva após o evento, Lula foi questionado se reabriria arquivos: "Queremos colaborar e contribuir para que a sociedade feche e vire a página desta história de uma vez por todas. Há disposição para isso. (...) A comissão vai ser ampliada, vai colocar mais gente. É debate que precisa ser feito pela sociedade, e vamos fazê-lo", respondeu o presidente.
A Folha apurou que Lula já disse aos três comandantes militares que nenhum deles é responsável por atos cruéis praticados pela ditadura, que, segundo o livro, instalou um "terror de Estado" no Brasil. Os militares, porém, respondem que não há mais arquivos secretos.
No entanto, a cúpula do governo desconfia dessa versão. Em 1993, o então ministro da Justiça, Maurício Corrêa, recebeu relatórios das Forças Armadas a respeito de mortos e desaparecidos políticos.
A área de Direitos Humanos avalia que os autores desses relatórios devem ainda estar vivos e poderiam dar depoimentos dizendo onde obtiveram informações em 1993. O livro-relatório sugere a Lula que uma "instância administrativa permanentemente aberta para oitiva de policiais e militares, da ativa e da reserva", que possam fornecer dados sobre "localização de restos mortais" ou "documentos ou cópias ainda existentes" para "elucidação dos fatos". (KENNEDY ALENCAR, LETÍCIA SANDER E ELIANE CANTANHÊDE)

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