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Lula promete a famílias que comissão vai ouvir militares
Presidente diz que deseja contribuir para que "sociedade vire a página desta história"
Em 93, então ministro da Justiça recebeu relatórios das Forças Armadas sobre ditadura; oficiais dizem que arquivos não existem mais
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reunião ontem com familiares e mortos de desaparecidos políticos, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva prometeu criar uma comissão para
obter dos atuais militares informações sobre os restos mortais de opositores mortos pela
ditadura militar (1964-1985).
Lula, porém, pediu que a decisão fosse mantida em reserva,
para não atrapalhar as novas
negociações sobre informações
da repressão política que os ministros Nelson Jobim (Defesa)
e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) estabelecerão com os
comandantes militares.
Lula foi cauteloso no discurso público que fez logo após a
reunião para lançamento do livro "Direito à Memória e à Verdade", primeiro documento
oficial do governo que assume
como verdade histórica a versão de que a repressão política
decapitou, esquartejou, estuprou, torturou e ocultou cadáveres de opositores de ditadura.
O formato da comissão ainda
não está decidido. Lula pode
aumentar o número de representantes da atual Comissão de
Mortos e Desaparecidos Políticos ou criar uma nova instância
coordenada pela Defesa e por
Direitos Humanos.
Em entrevista coletiva após o
evento, Lula foi questionado se
reabriria arquivos: "Queremos
colaborar e contribuir para que
a sociedade feche e vire a página desta história de uma vez
por todas. Há disposição para
isso. (...) A comissão vai ser ampliada, vai colocar mais gente. É
debate que precisa ser feito pela sociedade, e vamos fazê-lo",
respondeu o presidente.
A Folha apurou que Lula já
disse aos três comandantes militares que nenhum deles é responsável por atos cruéis praticados pela ditadura, que, segundo o livro, instalou um "terror de Estado" no Brasil. Os militares, porém, respondem que
não há mais arquivos secretos.
No entanto, a cúpula do governo desconfia dessa versão.
Em 1993, o então ministro da
Justiça, Maurício Corrêa, recebeu relatórios das Forças Armadas a respeito de mortos e
desaparecidos políticos.
A área de Direitos Humanos
avalia que os autores desses relatórios devem ainda estar vivos e poderiam dar depoimentos dizendo onde obtiveram informações em 1993. O livro-relatório sugere a Lula que uma
"instância administrativa permanentemente aberta para oitiva de policiais e militares, da
ativa e da reserva", que possam
fornecer dados sobre "localização de restos mortais" ou "documentos ou cópias ainda existentes" para "elucidação dos
fatos".
(KENNEDY ALENCAR, LETÍCIA SANDER E ELIANE CANTANHÊDE)
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