São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2008

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Prefeitos seguram reajustes em ônibus

Prática é comum em época de eleições, dizem economistas; custo representa até 7,3% da renda familiar

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Em ano de eleição, inflação e política se misturam e prefeitos em busca de reeleição ou dispostos em colocar no posto algum aliado ignoram pressões de custo e seguram ao máximo os reajustes das passagens de ônibus, importante item da cesta de consumo das famílias.
A prática política é velha e se repete neste ano: até agora, apenas 5 das 11 maiores capitais reajustaram as tarifas e em percentuais bem menores do que os do ano passado, revelam dados do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo que mede a inflação entre os dias 15 de cada mês), do IBGE. Na média das 11 áreas pesquisadas, a alta ficou em 2,52% no acumulado de janeiro a agosto deste ano, abaixo dos 6,41% registrados no mesmo período de 2007.
As companhias de ônibus, que estão entre as maiores doadoras de campanhas e já foram alvo de investigações, têm neste ano de deixar de repassar aumentos de custos às tarifas. Um exemplo é a alta do diesel, que subiu 15% neste ano. O combustível é uma das principais fontes de despesa do setor.
Segundo o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, já faz parte da história política do país o hábito de os prefeitos postergarem ao máximo os reajustes em anos de eleição, com o objetivo de conseguirem renovar seus mandatos ou fazer seus sucessores.
Neste ano, diz, a alta do diesel tornou ainda mais evidente a prática de conter os reajustes dos ônibus. Em 2008, poucas capitais reajustaram e, em geral, com altas mais moderadas do que em 2007. É o caso de Goiânia (11,11%), Recife (9,98%), Belo Horizonte (5%), Porto Alegre (5%) e Rio de Janeiro (5%) -nesta última, o aumento é um resíduo do reajuste concedido em dezembro do ano passado.
"Os políticos deixam para fazer as "maldades" no primeiro ano de governo. Faz parte do calendário político, principalmente no caso desses serviços públicos que não estão diretamente atrelados a um índice de preços, como os ônibus. E isso independe do partido político que está no poder", diz Fábio Romão, economista da LCA.
A Prefeitura de São Paulo, que pratica pesados subsídios para financiar o sistema de bilhete único, já anunciou aumento de tarifas de ônibus após o período eleitoral. Previsto para novembro, o aumento deve ficar próximo a 6%. Em 2007, os ônibus subiram 7,68% na capital paulista. Em São Paulo, a inflação média acumulada no ano ficou em 4,58%.
"Pelo menos, a Prefeitura de São Paulo foi transparente. Elevou o subsídio e conteve o reajuste. O pior é que muitos prefeitos que serão derrotados nas eleições não vão reajustar as tarifas neste ano. Vão deixar o ônus para o seu sucessor, pois têm interesse em disputar novamente", avalia Cunha.
Segundo Carlos Thadeu de Freitas Filho, da corretora SLW, é prática comum, em anos de eleição, conter os reajustes de ônibus urbanos e também de outros preços administrados, de responsabilidade de Estados e municípios -o que, para ele, sempre representa "uma âncora da inflação".
O peso dos aumentos regulados por Estados e municípios -como gás encanado, metrô, táxi e taxa de água e esgoto- tem um impacto relevante na inflação: 8,5% no IPCA e 29% nos preços administrados.
No orçamento das famílias, o ônibus é item importante: tem peso de 3,7% na faixa de renda de 1 a 33 salários mínimos. Para os mais pobres (de 1 a 8 salários), o impacto é maior: 7,3%.


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