São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2000

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PARAÍBA
Hermes Mangueira Diniz, que havia sido prefeito da cidade por três vezes, foi morto em maio; cunhado do atual prefeito é acusado de ser o mandante e fugiu da prisão
Assassinato marca eleição em Diamante

ROBERTO COSSO
ENVIADO ESPECIAL A DIAMANTE (PB)

Medo, ameaças e mortes marcam a política de Diamante, cidade com 9.000 habitantes no Vale do Piancó, alto sertão paraibano.
Três vezes prefeito e principal candidato este ano, Hermes Mangueira Diniz foi morto em maio. Francisco de Assis Vieira de Lucena, cunhado do prefeito Odoniel de Sousa Mangueira, é um dos acusados. Ele fugiu da prisão.
Pelo menos outras três pessoas da família de Hermes afirmam ter sofrido ameaças. O irmão dele levou quatro tiros, mas sobreviveu.
Seu filho, Hércules Barros Mangueira Diniz, é o principal candidato da oposição. "Se estiver vivo, tenho boas chances", afirma Hércules, que diz sofrer ameaças diárias. Correligionários reclamam de represálias da prefeitura.
A prefeitura é o maior empregador de Diamante, com 400 servidores -10% dos eleitores. Já teve mais que o dobro. A arrecadação é quase nula: o comércio se resume a botequins. Chegam R$ 100 mil por mês em verbas do Fundo de Participação dos Municípios.
A situação, comum no sertão, torna o prefeito extremamente poderoso. Daí vem a disputa.
Desde a emancipação, em 1961, Diamante é dominada por representantes dos Mangueira Diniz. O major Arsênio Mangueira da Costa, comandante da delegacia da cidade e líder político havia 40 anos, foi o prefeito interino.
Em 1962, foi eleito o primeiro prefeito: Argemiro Abílio de Sousa, com apoio de Mangueira. Em 1967, o major perdeu para o sobrinho Dionísio Mangueira Diniz.
Em 1970, José Abílio Sobrinho foi eleito, com o apoio de Arsênio e Dionísio. Argemiro apoiou seu genro, Francisco Miguel Diniz, após ter sua fazenda incendiada.
Em 73, foi eleito Hermes Mangueira Diniz, que seria o maior líder político da cidade. Pouco antes de morrer, o major declarou que Hermes seria seu sucessor.
Hermes ficou na prefeitura apoiando Maria Plácida de Barros. Ela era mulher de Antônio Barros da Silva, cunhado de Hermes, assassinado em praça pública dois meses após a eleição. A polícia nunca apurou o crime.
Abalada, a prefeita viúva apenas assinava o que Hermes determinava. Não teve dificuldades para se reeleger em 84 e apoiou a eleição do primo Odoniel de Sousa Mangueira, em 88. Este apoiou Hermes em 92, e ele voltou à prefeitura. Quando Odoniel era prefeito, Hermes reclamava por espaço na prefeitura. Eleito, também não deu espaço a Odoniel.
Nas eleições de 1996, Hermes apoiou o sobrinho George Abílio contra Odoniel. Depois de vencer as últimas cinco eleições, Hermes sofreu sua primeira derrota para Odoniel, seu ex-afilhado político.
Em sua última gestão, Hermes contratou cerca de 700 pessoas, ganhando de R$ 10 a R$ 50. As contratações eram feitas sem concurso. Não era preciso trabalhar.
Na campanha, Odoniel dizia que, se eleito, ninguém ganharia menos de um salário mínimo. Eleito, demitiu todos os contratados nessas condições.
"A prefeitura era um clientelismo danado; só governa bem quem faz enxugamento", diz ele, que empregou a mulher, o filho, uma irmã e uma sobrinha.
Desde a posse, Odoniel denunciou Hermes ao Tribunal de Contas do Estado. O ex-prefeito teve contas rejeitadas, mas recorreu.
Em 99, Hermes falava em ser candidato. A prefeitura negou seu pedido de aposentadoria. Sua família passou a sofrer ameaças.
Em 29 de outubro, o ex-prefeito Dionísio, irmão de Hermes, levou quatro tiros. O dia seguinte era o último para filiação dos candidatos. Hermes seguiu sendo ameaçado até que, à noite, houve seis tiros contra sua casa, em 24 de fevereiro. Ele não foi atingido.
"Ele dizia que os adversários estavam querendo assustá-lo para que desistisse da candidatura", diz Elisabeth Maria Sena da Silva, 34, última mulher de Hermes.
Em 19 de maio, às 18h30, Hermes estava em frente a sua casa quando foi baleado por dois homens. O primeiro o atingiu com um tiro de espingarda calibre 12 no peito. Caído, levou ao menos mais cinco tiros de revólver calibre 38. No dia seguinte, quando faria 58 anos, anunciaria o vice.
A Secretaria da Segurança da Paraíba destacou um delegado para o caso. O de Diamante está no cargo por indicação política. Em junho, a polícia reconheceu que a morte teve motivo político e identificou um autor: José Osman Belarmino da Silva, o Bode.
Outras três pessoas foram acusadas de serem mandantes. A polícia prendeu o vereador Francisco de Assis Vieira de Lucena, cunhado do atual prefeito.
Os outros dois acusados, os policiais Ademar Leite Rodrigues Mangueira e José Willams Barros, estão foragidos. Ademar é marido da vereadora governista Nelisabete Mangueira. Willams é diretor de Recursos Humanos da prefeitura e filho de Maria Barros.
No velório, Hércules foi lançado candidato pela coligação Diamante Unida (PMDB-PSDB). Ele era gerente de um posto de gasolina em João Pessoa havia um ano.
Os concorrentes, Ernani Diniz (PFL-PL-PTB-PPB) e Humberto Abílio Diniz (PPS-PV), são seus parentes.


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