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PARAÍBA
Hermes Mangueira Diniz, que havia sido prefeito da cidade por três vezes, foi
morto em maio; cunhado do atual prefeito é acusado de ser o mandante e fugiu da prisão
Assassinato marca eleição em Diamante
ROBERTO COSSO
ENVIADO ESPECIAL A DIAMANTE (PB)
Medo, ameaças e mortes marcam a política de Diamante, cidade com 9.000 habitantes no Vale
do Piancó, alto sertão paraibano.
Três vezes prefeito e principal
candidato este ano, Hermes Mangueira Diniz foi morto em maio.
Francisco de Assis Vieira de Lucena, cunhado do prefeito Odoniel
de Sousa Mangueira, é um dos
acusados. Ele fugiu da prisão.
Pelo menos outras três pessoas
da família de Hermes afirmam ter
sofrido ameaças. O irmão dele levou quatro tiros, mas sobreviveu.
Seu filho, Hércules Barros Mangueira Diniz, é o principal candidato da oposição. "Se estiver vivo,
tenho boas chances", afirma Hércules, que diz sofrer ameaças diárias. Correligionários reclamam
de represálias da prefeitura.
A prefeitura é o maior empregador de Diamante, com 400 servidores -10% dos eleitores. Já teve
mais que o dobro. A arrecadação
é quase nula: o comércio se resume a botequins. Chegam R$ 100
mil por mês em verbas do Fundo
de Participação dos Municípios.
A situação, comum no sertão,
torna o prefeito extremamente
poderoso. Daí vem a disputa.
Desde a emancipação, em 1961,
Diamante é dominada por representantes dos Mangueira Diniz. O
major Arsênio Mangueira da
Costa, comandante da delegacia
da cidade e líder político havia 40
anos, foi o prefeito interino.
Em 1962, foi eleito o primeiro
prefeito: Argemiro Abílio de Sousa, com apoio de Mangueira. Em
1967, o major perdeu para o sobrinho Dionísio Mangueira Diniz.
Em 1970, José Abílio Sobrinho
foi eleito, com o apoio de Arsênio
e Dionísio. Argemiro apoiou seu
genro, Francisco Miguel Diniz,
após ter sua fazenda incendiada.
Em 73, foi eleito Hermes Mangueira Diniz, que seria o maior líder político da cidade. Pouco antes de morrer, o major declarou
que Hermes seria seu sucessor.
Hermes ficou na prefeitura
apoiando Maria Plácida de Barros. Ela era mulher de Antônio
Barros da Silva, cunhado de Hermes, assassinado em praça pública dois meses após a eleição. A polícia nunca apurou o crime.
Abalada, a prefeita viúva apenas
assinava o que Hermes determinava. Não teve dificuldades para
se reeleger em 84 e apoiou a eleição do primo Odoniel de Sousa
Mangueira, em 88. Este apoiou
Hermes em 92, e ele voltou à prefeitura. Quando Odoniel era prefeito, Hermes reclamava por espaço na prefeitura. Eleito, também não deu espaço a Odoniel.
Nas eleições de 1996, Hermes
apoiou o sobrinho George Abílio
contra Odoniel. Depois de vencer
as últimas cinco eleições, Hermes
sofreu sua primeira derrota para
Odoniel, seu ex-afilhado político.
Em sua última gestão, Hermes
contratou cerca de 700 pessoas,
ganhando de R$ 10 a R$ 50. As
contratações eram feitas sem concurso. Não era preciso trabalhar.
Na campanha, Odoniel dizia
que, se eleito, ninguém ganharia
menos de um salário mínimo.
Eleito, demitiu todos os contratados nessas condições.
"A prefeitura era um clientelismo danado; só governa bem
quem faz enxugamento", diz ele,
que empregou a mulher, o filho,
uma irmã e uma sobrinha.
Desde a posse, Odoniel denunciou Hermes ao Tribunal de Contas do Estado. O ex-prefeito teve
contas rejeitadas, mas recorreu.
Em 99, Hermes falava em ser
candidato. A prefeitura negou seu
pedido de aposentadoria. Sua família passou a sofrer ameaças.
Em 29 de outubro, o ex-prefeito
Dionísio, irmão de Hermes, levou
quatro tiros. O dia seguinte era o
último para filiação dos candidatos. Hermes seguiu sendo ameaçado até que, à noite, houve seis tiros contra sua casa, em 24 de fevereiro. Ele não foi atingido.
"Ele dizia que os adversários estavam querendo assustá-lo para
que desistisse da candidatura",
diz Elisabeth Maria Sena da Silva,
34, última mulher de Hermes.
Em 19 de maio, às 18h30, Hermes estava em frente a sua casa
quando foi baleado por dois homens. O primeiro o atingiu com
um tiro de espingarda calibre 12
no peito. Caído, levou ao menos
mais cinco tiros de revólver calibre 38. No dia seguinte, quando
faria 58 anos, anunciaria o vice.
A Secretaria da Segurança da
Paraíba destacou um delegado
para o caso. O de Diamante está
no cargo por indicação política.
Em junho, a polícia reconheceu
que a morte teve motivo político e
identificou um autor: José Osman
Belarmino da Silva, o Bode.
Outras três pessoas foram acusadas de serem mandantes. A polícia prendeu o vereador Francisco de Assis Vieira de Lucena, cunhado do atual prefeito.
Os outros dois acusados, os policiais Ademar Leite Rodrigues
Mangueira e José Willams Barros,
estão foragidos. Ademar é marido
da vereadora governista Nelisabete Mangueira. Willams é diretor
de Recursos Humanos da prefeitura e filho de Maria Barros.
No velório, Hércules foi lançado
candidato pela coligação Diamante Unida (PMDB-PSDB). Ele
era gerente de um posto de gasolina em João Pessoa havia um ano.
Os concorrentes, Ernani Diniz
(PFL-PL-PTB-PPB) e Humberto
Abílio Diniz (PPS-PV), são seus
parentes.
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