São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 2002

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RETA FINAL

Ao lado de Jesse Jackson, petista diz que "mesma elite que tem preconceito contra nós tinha preconceito contra ele (Jesus)"

A evangélicos, Lula se compara a Jesus Cristo

JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato do PT à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, comparou a sua história e a de seu partido à de Jesus Cristo ontem ao discursar para uma platéia evangélica na Primeira Igreja Batista de Santo André, na Grande São Paulo.
A comparação foi feita logo após o candidato declarar que acredita que "a base da igreja evangélica" começou a descobrir semelhanças entre o que lê na Bíblia e o que deseja para a sociedade. "Afinal de contas, quem foi mais revolucionário que Jesus Cristo na história da humanidade? Quem lutou mais por justiça social? Quem lutou mais pela igualdade, pela repartição dos pães que Jesus Cristo?", questionou Lula, diante de uma platéia de cerca de 1.100 pessoas, pouco antes de fazer a comparação.
"E, por isso, a mesma elite que tem preconceito contra nós hoje, tinha preconceito contra ele."
Para Lula, a crucificação de Cristo mudou "um pouco" a história da humanidade. "Com o PT foi a mesma coisa", disse em referência às derrotas que o partido sofreu em campanhas anteriores.
Lula seguiu seu discurso na linha religiosa ao mencionar que, nesta campanha, voltou a ser chamado de "demônio" por supostamente haver riscos de ele fechar igrejas evangélicas caso seja eleito. Ele se referiu a "jornaizinhos" que haviam veiculado tal informação.
Aos evangélicos, disse que, se eleito, usará a experiência das igrejas para desenvolver políticas sociais. Convidado pelo Comitê Evangélico Pró-Lula, o petista desvinculou o partido da Igreja Católica e defendeu que sua legenda como plural.
Otimista, o candidato afirmou que hoje tem tranquilidade para dizer que apenas o PT será capaz de fazer as reformas de que o Brasil precisa. Em discurso, criticou indiretamente pelo menos duas vezes o adversário José Serra (PSDB) ao dizer que já foi vítima de preconceito por não ter diploma. "Um presidente da República tem de ter em conta que ele precisa falar menos línguas e conhecer mais o coração e a mente do povo que ele quer governar."
O discurso do candidato petista foi precedido da fala do reverendo Jesse Jackson, cujo prestígio o PT decidiu usar para atrair o voto evangélico, mais concentrado em Anthony garotinho (PSB). Comparando Lula a Martin Luther King e Nelson Mandela, Jackson chamou-o de "ser humano muito especial" e disse que o candidato havia sido "tocado por Deus". "Assim como Martin Luther King inspirava aquele espírito especial e assim como Nelson Mandela também inspirava aquele espírito especial, Lula inspira esse espírito especial", disse em discurso em inglês, traduzido para a platéia.
O reverendo, da igreja Batista dos EUA, veio ao Brasil a pedido do PT. Ontem, Jackson se recusou a dar uma opinião sobre o governo Fernando Henrique Cardoso.

Showmício e coração
À noite, em showmício realizado na praça Campo de Bagatelle, zona norte de São Paulo, Lula discursou durante cerca de 30 minutos para cerca de 80 mil pessoas, segundo estimativa da PM. Jesse Jackson também o acompanhou no palanque durante o evento.
O candidato se mostrou mais prudente em relação a uma suposta vitória ainda no primeiro turno, ao contrário do que fez durante comício na última quinta-feira, no Rio de Janeiro, quando insinuou que poderia vencer a eleição no próximo domingo. "Estamos muito próximos de ganhar as eleições em nosso país. Até a vitória, se Deus quiser, no dia 6 de outubro ou no dia 27."
Durante o discurso, Lula se mostrou emocionado ao menos duas vezes: ao anunciar que pretende estender para todo o país o projeto da Prefeitura de São Paulo que fornece material escolar e uniforme para alunos da rede pública municipal e ao dizer que não irá governar apenas com a razão. "Quero governar com o coração".
Como é de praxe, o candidato do PT voltou a criticar a Alca (Área Livre de Comércio das Américas) nos moldes em que está planejada hoje. "Que não venham os EUA nos tentar impor a Alca como está, porque nós não a aceitaremos em hipótese alguma. A Alca, tal como está, não é a política de integração que queremos."
O presidente do PT, José Dirceu, declarou durante o showmício que, a partir de hoje, 2 milhões de ativistas do partido realizarão um trabalho de boca-de-urna. "Eles irão de casa em casa até a meia-noite de sábado", disse.
Dirceu foi evasivo ao comentar o fato de Leonel Brizola (PDT) ter afirmado que espera que o PT o procure para discutir o apoio da Frente Trabalhista a Lula há uma semana do primeiro turno. "É evidente que precisamos do apoio de todos os que querem governar o Brasil", disse, tergiversando.



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