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RETA FINAL
Ao lado de Jesse Jackson, petista diz que "mesma elite que tem preconceito contra nós tinha preconceito contra ele (Jesus)"
A evangélicos, Lula se compara a Jesus Cristo
JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
O candidato do PT à presidência
da República, Luiz Inácio Lula da
Silva, comparou a sua história e a
de seu partido à de Jesus Cristo
ontem ao discursar para uma platéia evangélica na Primeira Igreja
Batista de Santo André, na Grande São Paulo.
A comparação foi feita logo
após o candidato declarar que
acredita que "a base da igreja
evangélica" começou a descobrir
semelhanças entre o que lê na Bíblia e o que deseja para a sociedade. "Afinal de contas, quem foi
mais revolucionário que Jesus
Cristo na história da humanidade? Quem lutou mais por justiça
social? Quem lutou mais pela
igualdade, pela repartição dos
pães que Jesus Cristo?", questionou Lula, diante de uma platéia de
cerca de 1.100 pessoas, pouco antes de fazer a comparação.
"E, por isso, a mesma elite que
tem preconceito contra nós hoje,
tinha preconceito contra ele."
Para Lula, a crucificação de
Cristo mudou "um pouco" a história da humanidade. "Com o PT
foi a mesma coisa", disse em referência às derrotas que o partido
sofreu em campanhas anteriores.
Lula seguiu seu discurso na linha religiosa ao mencionar que,
nesta campanha, voltou a ser chamado de "demônio" por supostamente haver riscos de ele fechar
igrejas evangélicas caso seja eleito.
Ele se referiu a "jornaizinhos" que
haviam veiculado tal informação.
Aos evangélicos, disse que, se
eleito, usará a experiência das
igrejas para desenvolver políticas
sociais. Convidado pelo Comitê
Evangélico Pró-Lula, o petista
desvinculou o partido da Igreja
Católica e defendeu que sua legenda como plural.
Otimista, o candidato afirmou
que hoje tem tranquilidade para
dizer que apenas o PT será capaz
de fazer as reformas de que o Brasil precisa. Em discurso, criticou
indiretamente pelo menos duas
vezes o adversário José Serra
(PSDB) ao dizer que já foi vítima
de preconceito por não ter diploma. "Um presidente da República
tem de ter em conta que ele precisa falar menos línguas e conhecer
mais o coração e a mente do povo
que ele quer governar."
O discurso do candidato petista
foi precedido da fala do reverendo
Jesse Jackson, cujo prestígio o PT
decidiu usar para atrair o voto
evangélico, mais concentrado em
Anthony garotinho (PSB). Comparando Lula a Martin Luther
King e Nelson Mandela, Jackson
chamou-o de "ser humano muito
especial" e disse que o candidato
havia sido "tocado por Deus".
"Assim como Martin Luther King
inspirava aquele espírito especial
e assim como Nelson Mandela
também inspirava aquele espírito
especial, Lula inspira esse espírito
especial", disse em discurso em
inglês, traduzido para a platéia.
O reverendo, da igreja Batista
dos EUA, veio ao Brasil a pedido
do PT. Ontem, Jackson se recusou
a dar uma opinião sobre o governo Fernando Henrique Cardoso.
Showmício e coração
À noite, em showmício realizado na praça Campo de Bagatelle,
zona norte de São Paulo, Lula discursou durante cerca de 30 minutos para cerca de 80 mil pessoas,
segundo estimativa da PM. Jesse
Jackson também o acompanhou
no palanque durante o evento.
O candidato se mostrou mais
prudente em relação a uma suposta vitória ainda no primeiro
turno, ao contrário do que fez durante comício na última quinta-feira, no Rio de Janeiro, quando
insinuou que poderia vencer a
eleição no próximo domingo.
"Estamos muito próximos de ganhar as eleições em nosso país.
Até a vitória, se Deus quiser, no
dia 6 de outubro ou no dia 27."
Durante o discurso, Lula se
mostrou emocionado ao menos
duas vezes: ao anunciar que pretende estender para todo o país o
projeto da Prefeitura de São Paulo
que fornece material escolar e
uniforme para alunos da rede pública municipal e ao dizer que não
irá governar apenas com a razão.
"Quero governar com o coração".
Como é de praxe, o candidato
do PT voltou a criticar a Alca
(Área Livre de Comércio das
Américas) nos moldes em que está planejada hoje. "Que não venham os EUA nos tentar impor a
Alca como está, porque nós não a
aceitaremos em hipótese alguma.
A Alca, tal como está, não é a política de integração que queremos."
O presidente do PT, José Dirceu,
declarou durante o showmício
que, a partir de hoje, 2 milhões de
ativistas do partido realizarão um
trabalho de boca-de-urna. "Eles
irão de casa em casa até a meia-noite de sábado", disse.
Dirceu foi evasivo ao comentar
o fato de Leonel Brizola (PDT) ter
afirmado que espera que o PT o
procure para discutir o apoio da
Frente Trabalhista a Lula há uma
semana do primeiro turno. "É
evidente que precisamos do apoio
de todos os que querem governar
o Brasil", disse, tergiversando.
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