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Aécio prega pacto e sonha com 2006
KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Franco favorito para se eleger
governador de Minas no próximo
domingo e se tornar de vez um
dos principais cardeais do PSDB,
o presidente da Câmara, Aécio
Neves, diz que "a situação econômica do país é gravíssima e não
permitirá um terceiro turno da
eleições, principalmente da presidencial".
E explica: "Revanche de derrotados ou salto alto de vitoriosos
serão um desastre para o país".
Em entrevista à Folha, Aécio
defende um "pacto pós-eleitoral
entre os novos governadores eleitos para ajudar o futuro presidente e o atual governo a enfrentar
desde já grave crise econômica".
Ele prega ainda o apoio congressual dos principais partidos ao
novo governo em projetos específicos, como a reforma tributária.
Acha que haverá "necessidade de
união nacional" independentemente do nome do novo presidente.
Serra
Aécio se diz "confiante" na passagem de Serra ao segundo turno
e na perspectiva de vitória de seu
candidato. No entanto, afirma
que, caso Luiz Inácio Lula da Silva
vença a eleição presidencial, defenderá que o PSDB dê apoio ao
que chama de "agenda pré-posse". "Sem participação no governo", ressalta.
Segundo ele, a agenda teria três
pontos básicos: 1) uma proposta
consensual de reforma tributária
no prazo de seis meses, 2) reunir o
presidente e os governadores na
elaboração de um projeto emergencial de geração de emprego
com estímulo creditício a alguns
setores (agropecuária, fruticultura, turismo, por exemplo), e 3)
aprovar no Congresso em 2003
três pontos da reforma política
-financiamento público de campanha, fidelidade partidária e voto distrital misto.
A proposta de Aécio é similar à
defendida por Lula, que tem
chance de vencer a eleição ainda
no primeiro turno.
O tucano mineiro, porém, diz
que suas idéias deverão servir para qualquer candidato, porque a
crise é grave.
Perfil político
Para o bem e para o mal, Aécio é
frequentemente comparado ao
avô Tancredo Neves e a um dos
antecessores na presidência da
Câmara, Luís Eduardo Magalhães.
Reuniria as qualidades e defeitos do presidente que morreu antes da posse e do jovem deputado
pefelista que morreu como uma
promessa de vôos mais altos.
Os aliados dizem que tem a vocação política do avô para a conciliação. Em Minas, bateu o recorde
nacional em termos de aliança
política: nove partidos o apóiam
formalmente; outros nove, informalmente. Tem ainda o apoio de
cinco ex-governadores de Minas e
de Itamar Franco, ex-presidente e
atual governador.
Essa habilidade política, porém,
dizem os adversários, é daquele tipo cuja esperteza, de tão grande,
ameaça comer o dono.
Aos 42 anos, deverá chegar ao
cargo que o avô Tancredo conquistou aos 70. A imagem de Tancredo está presente em todos os
discursos de Aécio, como símbolo
da campanha."O grande sonho
do Tancredo era governar Minas.
A Presidência foi uma circunstância e foi injusto o que aconteceu
com ele." Tancredo morreu em 21
de abril de 1985, após um calvário
hospitalar que o impediu de ter
tomado posse. Aliás, a data do falecimento de Tancredo coincide
com a de Luís Eduardo, que morreu em 21 de abril de 1998 aos 40
anos.
Do ponto de vista pessoal, busca
demonstrar mais maturidade, fugindo do carimbo que o adversário Newton Cardoso tenta lhe colar de um bon vivant e namorador
na agitada noite carioca.
É fato que Aécio gosta de festas e
de manter ligações com amigos
antigos e artistas do Rio de Janeiro, porém sua condução na presidência da Câmara, na qual aprovou restrições à edição de medidas provisórias e à até então intocável imunidade parlamentar, é
prova de que amadureceu politicamente.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, em conversas reservadas, diz que Aécio é o mais habilidoso político do PSDB. "Se eu
bobear, dá nó até em mim, como
o Tancredo fazia com todo mundo", brinca FHC.
No entanto, quando a candidatura Serra enfrentou dificuldades
e alguns aliados aventaram a possibilidade de ser substituído por
Aécio, FHC não deu corda à idéia.
Dizia: "Aécio ainda é verde em
economia e administração".
Curiosamente e para reforçar a
comparação com Luís Eduardo,
FHC manifestava as mesmas avaliações quando falava das características e do futuro do deputado
pefelista.
Aécio, que é economista, tem se
dedicado nos últimos dois anos a
estudar mais macroeconomia e
comércio exterior, além de dividir
o tempo de leitura com as biografias, seu tema favorito. Atualmente, lê "JK, o artista do impossível",
de Claudio Bojunga.
Depois do Palácio da Liberdade,
Aécio sonha com o Planalto, em
2006. A hipótese ficaria prejudicado com uma eventual vitória de
Serra agora.
Se Serra perder a eleição, Aécio
pode se transformar na principal
liderança tucana, depois de FHC.
Seus "concorrentes" seriam Geraldo Alckmin, governador de
São Paulo, e Tasso Jereissati, candidato ao Senado pelo PSDB cearense.
Alckmin, porém, deverá enfrentar um segundo turno em São
Paulo para confirmar a reeleição.
E Tasso, que apoiou a candidatura presidencial de Ciro Gomes
(PPS), tem atritos com algumas
parcelas do PSDB, especialmente
com o tucanato paulista.
Aliás, os serristas dizem que Aécio torce pela vitória de Lula, para
ter chance de disputar a Presidência em 2006. "Isso é uma injustiça.
Há uma parte do meu eleitorado
em Minas que vota no Lula, mas
tenho feito campanha pelo Serra e
penso que ele é o mais preparado
para ser presidente", rebate.
Aécio também nega o desejo de
disputar a Presidência em 2006,
mas nos comícios em Minas, antigos apoiadores de Tancredo dizem que ele cumprirá o destino
do avô. "A Presidência não é para
quem quer. Não adianta brigar
por ela."
Se eleito governador, Aécio Neves quer liderar a "quarta força"
na Câmara dos Deputados, Casa
que ele preside desde fevereiro
2001.
Com uma contabilidade própria, Aécio diz que vai governar
com o apoio de 80 a 90 deputados
federais. Isso significa que na sua
relação de parlamentares que defenderiam os interesses de Minas
na Câmara estariam ao menos
mais 37 deputados de outros Estados, já que da bancada mineira
são 53 -contando os oito de esquerda (PT e PC do B), que não
necessariamente o seguiriam.
Se conseguir mesmo tal apoio
parlamentar, como anuncia, sua
força se equivaleria à da bancada
atual do PMDB, com 87 deputados, que representa a terceira força no Legislativo.
Daí Aécio pretender ser a quarta
força -o PFL tem 97 deputados e
o PSDB, 95.
"Sou candidato ao governo de
Minas para iniciar um ciclo novo
no Estado. Quero mostrar ao próximo presidente que existe um
momento novo em Minas", declara Aécio.
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