São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Aécio prega pacto e sonha com 2006

KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Franco favorito para se eleger governador de Minas no próximo domingo e se tornar de vez um dos principais cardeais do PSDB, o presidente da Câmara, Aécio Neves, diz que "a situação econômica do país é gravíssima e não permitirá um terceiro turno da eleições, principalmente da presidencial".
E explica: "Revanche de derrotados ou salto alto de vitoriosos serão um desastre para o país".
Em entrevista à Folha, Aécio defende um "pacto pós-eleitoral entre os novos governadores eleitos para ajudar o futuro presidente e o atual governo a enfrentar desde já grave crise econômica". Ele prega ainda o apoio congressual dos principais partidos ao novo governo em projetos específicos, como a reforma tributária. Acha que haverá "necessidade de união nacional" independentemente do nome do novo presidente.

Serra
Aécio se diz "confiante" na passagem de Serra ao segundo turno e na perspectiva de vitória de seu candidato. No entanto, afirma que, caso Luiz Inácio Lula da Silva vença a eleição presidencial, defenderá que o PSDB dê apoio ao que chama de "agenda pré-posse". "Sem participação no governo", ressalta.
Segundo ele, a agenda teria três pontos básicos: 1) uma proposta consensual de reforma tributária no prazo de seis meses, 2) reunir o presidente e os governadores na elaboração de um projeto emergencial de geração de emprego com estímulo creditício a alguns setores (agropecuária, fruticultura, turismo, por exemplo), e 3) aprovar no Congresso em 2003 três pontos da reforma política -financiamento público de campanha, fidelidade partidária e voto distrital misto.
A proposta de Aécio é similar à defendida por Lula, que tem chance de vencer a eleição ainda no primeiro turno.
O tucano mineiro, porém, diz que suas idéias deverão servir para qualquer candidato, porque a crise é grave.

Perfil político
Para o bem e para o mal, Aécio é frequentemente comparado ao avô Tancredo Neves e a um dos antecessores na presidência da Câmara, Luís Eduardo Magalhães.
Reuniria as qualidades e defeitos do presidente que morreu antes da posse e do jovem deputado pefelista que morreu como uma promessa de vôos mais altos.
Os aliados dizem que tem a vocação política do avô para a conciliação. Em Minas, bateu o recorde nacional em termos de aliança política: nove partidos o apóiam formalmente; outros nove, informalmente. Tem ainda o apoio de cinco ex-governadores de Minas e de Itamar Franco, ex-presidente e atual governador.
Essa habilidade política, porém, dizem os adversários, é daquele tipo cuja esperteza, de tão grande, ameaça comer o dono.
Aos 42 anos, deverá chegar ao cargo que o avô Tancredo conquistou aos 70. A imagem de Tancredo está presente em todos os discursos de Aécio, como símbolo da campanha."O grande sonho do Tancredo era governar Minas. A Presidência foi uma circunstância e foi injusto o que aconteceu com ele." Tancredo morreu em 21 de abril de 1985, após um calvário hospitalar que o impediu de ter tomado posse. Aliás, a data do falecimento de Tancredo coincide com a de Luís Eduardo, que morreu em 21 de abril de 1998 aos 40 anos.
Do ponto de vista pessoal, busca demonstrar mais maturidade, fugindo do carimbo que o adversário Newton Cardoso tenta lhe colar de um bon vivant e namorador na agitada noite carioca.
É fato que Aécio gosta de festas e de manter ligações com amigos antigos e artistas do Rio de Janeiro, porém sua condução na presidência da Câmara, na qual aprovou restrições à edição de medidas provisórias e à até então intocável imunidade parlamentar, é prova de que amadureceu politicamente.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, em conversas reservadas, diz que Aécio é o mais habilidoso político do PSDB. "Se eu bobear, dá nó até em mim, como o Tancredo fazia com todo mundo", brinca FHC.
No entanto, quando a candidatura Serra enfrentou dificuldades e alguns aliados aventaram a possibilidade de ser substituído por Aécio, FHC não deu corda à idéia. Dizia: "Aécio ainda é verde em economia e administração".
Curiosamente e para reforçar a comparação com Luís Eduardo, FHC manifestava as mesmas avaliações quando falava das características e do futuro do deputado pefelista.
Aécio, que é economista, tem se dedicado nos últimos dois anos a estudar mais macroeconomia e comércio exterior, além de dividir o tempo de leitura com as biografias, seu tema favorito. Atualmente, lê "JK, o artista do impossível", de Claudio Bojunga.
Depois do Palácio da Liberdade, Aécio sonha com o Planalto, em 2006. A hipótese ficaria prejudicado com uma eventual vitória de Serra agora.
Se Serra perder a eleição, Aécio pode se transformar na principal liderança tucana, depois de FHC. Seus "concorrentes" seriam Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e Tasso Jereissati, candidato ao Senado pelo PSDB cearense.
Alckmin, porém, deverá enfrentar um segundo turno em São Paulo para confirmar a reeleição. E Tasso, que apoiou a candidatura presidencial de Ciro Gomes (PPS), tem atritos com algumas parcelas do PSDB, especialmente com o tucanato paulista.
Aliás, os serristas dizem que Aécio torce pela vitória de Lula, para ter chance de disputar a Presidência em 2006. "Isso é uma injustiça. Há uma parte do meu eleitorado em Minas que vota no Lula, mas tenho feito campanha pelo Serra e penso que ele é o mais preparado para ser presidente", rebate.
Aécio também nega o desejo de disputar a Presidência em 2006, mas nos comícios em Minas, antigos apoiadores de Tancredo dizem que ele cumprirá o destino do avô. "A Presidência não é para quem quer. Não adianta brigar por ela."
Se eleito governador, Aécio Neves quer liderar a "quarta força" na Câmara dos Deputados, Casa que ele preside desde fevereiro 2001.
Com uma contabilidade própria, Aécio diz que vai governar com o apoio de 80 a 90 deputados federais. Isso significa que na sua relação de parlamentares que defenderiam os interesses de Minas na Câmara estariam ao menos mais 37 deputados de outros Estados, já que da bancada mineira são 53 -contando os oito de esquerda (PT e PC do B), que não necessariamente o seguiriam.
Se conseguir mesmo tal apoio parlamentar, como anuncia, sua força se equivaleria à da bancada atual do PMDB, com 87 deputados, que representa a terceira força no Legislativo.
Daí Aécio pretender ser a quarta força -o PFL tem 97 deputados e o PSDB, 95.
"Sou candidato ao governo de Minas para iniciar um ciclo novo no Estado. Quero mostrar ao próximo presidente que existe um momento novo em Minas", declara Aécio.



Texto Anterior: Avaliação de Itamar se mantém estável
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.