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JANIO DE FREITAS
Discussão desnecessária
Por caminhos inesperados, o governo Luiz Inácio
Lula da Silva dispensa os críticos dos acordos passados com o
FMI de entrarem, agora, na discussão sobre a conveniência de
um novo acordo e, se houver,
que exigências seriam toleráveis.
A discussão perdeu o sentido,
sugado por uma realidade que
todos os números do desempenho governamental atestam,
com o aval comprovador de
mais três, todos muito eloquentes, ontem divulgados.
O tempo das bravatas mencionadas por Lula acabou mesmo
no dia da eleição e quando o ministro Antonio Palocci comunicou a decisão de economizar
mais verbas do que o exigido pelo FMI, nos gastos do governo,
prometendo um recorde. O recorde do corte explícito, como os
R$ 14 bilhões no início do ano,
ou disfarçado sob a forma de retenções das verbas aprovadas
pelo Congresso para saúde, educação, transporte público, saneamento, pesquisa, variados
modos de assistência social e investimentos para o país voltar a
crescer.
O Brasil é um país parado,
mas o governo Lula não fez bravata. Antes de perceber que cometera a gafe de soltar um número escandaloso, o presidente
do Banco Central, Henrique
Meirelles, disse agora que a previsão para o crescimento econômico, neste ano, é de apenas
0,6%. Seis vezes abaixo da previsão inicial do governo, que já
se dava por muito satisfeito com
insuficientes 3,5%.
O motivo é claro. A economia
nacional com as verbas não realizadas encostou, ao entrar setembro, em R$ 50 bilhões, mais
do que cumprindo a promessa
espontânea ao FMI. E com pagamento de juros (ao qual se
destinam também aqueles R$
50 milhões) foram gastos R$ 102
bilhões. Uma diversão muito
educativa é procurar com que
ministérios o governo chegou a
gastar montante igual.
A discussão sobre novo acordo
não faz sentido: a política econômica de Lula/Palocci é mais
dura com o país do que as exigências já feitas pelo Fundo ou
esperáveis ainda. Posta essa evidência em termos políticos, a
política econômica de Lula/Palocci está à direita do FMI.
Se insistirem, por hábito que
seja, em discutir o novo acordo,
os defensores do crescimento
econômico correm o risco de
ver-se, de repente, aliados ao
FMI com o pedido de que, em
vez das metas outrora estrangulantes, exija tetos que o governo
não possa ultrapassar, para o
bem da sobrevida nacional.
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