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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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JANIO DE FREITAS

Discussão desnecessária

Por caminhos inesperados, o governo Luiz Inácio Lula da Silva dispensa os críticos dos acordos passados com o FMI de entrarem, agora, na discussão sobre a conveniência de um novo acordo e, se houver, que exigências seriam toleráveis.
A discussão perdeu o sentido, sugado por uma realidade que todos os números do desempenho governamental atestam, com o aval comprovador de mais três, todos muito eloquentes, ontem divulgados.
O tempo das bravatas mencionadas por Lula acabou mesmo no dia da eleição e quando o ministro Antonio Palocci comunicou a decisão de economizar mais verbas do que o exigido pelo FMI, nos gastos do governo, prometendo um recorde. O recorde do corte explícito, como os R$ 14 bilhões no início do ano, ou disfarçado sob a forma de retenções das verbas aprovadas pelo Congresso para saúde, educação, transporte público, saneamento, pesquisa, variados modos de assistência social e investimentos para o país voltar a crescer.
O Brasil é um país parado, mas o governo Lula não fez bravata. Antes de perceber que cometera a gafe de soltar um número escandaloso, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse agora que a previsão para o crescimento econômico, neste ano, é de apenas 0,6%. Seis vezes abaixo da previsão inicial do governo, que já se dava por muito satisfeito com insuficientes 3,5%.
O motivo é claro. A economia nacional com as verbas não realizadas encostou, ao entrar setembro, em R$ 50 bilhões, mais do que cumprindo a promessa espontânea ao FMI. E com pagamento de juros (ao qual se destinam também aqueles R$ 50 milhões) foram gastos R$ 102 bilhões. Uma diversão muito educativa é procurar com que ministérios o governo chegou a gastar montante igual.
A discussão sobre novo acordo não faz sentido: a política econômica de Lula/Palocci é mais dura com o país do que as exigências já feitas pelo Fundo ou esperáveis ainda. Posta essa evidência em termos políticos, a política econômica de Lula/Palocci está à direita do FMI.
Se insistirem, por hábito que seja, em discutir o novo acordo, os defensores do crescimento econômico correm o risco de ver-se, de repente, aliados ao FMI com o pedido de que, em vez das metas outrora estrangulantes, exija tetos que o governo não possa ultrapassar, para o bem da sobrevida nacional.


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