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AGENDA PETISTA
Touraine vê desperdício de "capital de confiança"
Sociólogo francês cobra ousadia do governo Lula em "reforma profunda"
RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
O sociólogo francês Alain Touraine, diretor da Escola de Altos
Estudos em Ciências Sociais, em
Paris, disse ontem no Rio que o
PPA (Plano Plurianual) elaborado pelo governo Luiz Inácio Lula
da Silva não é suficientemente
"quente" (ousado).
Segundo Touraine, com o "capital de confiança" que Lula acumulou no início de seu mandato,
ao "evitar o populismo" e garantir
a estabilidade econômica, haveria
"margem de manobra" para "entrar em um regime de reforma social profunda, sem perder o equilíbrio que se atingiu na economia". Para ele, "o problema central do Brasil é saber combinar as
regras da democracia com profunda transformação social".
Touraine participou, ao lado do
ministro Guido Mantega (Planejamento), de um seminário sobre
"Desenvolvimento e PPA", no
Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Mantega defendeu a "ousadia"
do plano. Disse que o PPA -que
contém as metas de investimento
do governo para os próximos
quatro anos- restabelece o planejamento econômico no país,
abandonado por "15 anos de pensamento único", que ele identificou com o governo Fernando
Henrique Cardoso.
O ministro afirmou que a meta
do governo é realizar "desenvolvimento sustentável com inclusão
social" e que um dos objetivos do
PPA é integrar as pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza à
condição de consumidores e cidadãos, por meio da criação de um
mercado de massas no país. O governo Lula, disse ainda, pretende
erradicar a fome e o analfabetismo até o fim do mandato.
Touraine afirmou não acreditar
que o governo "possa garantir
que todas essas pessoas [que vivem abaixo da linha de pobreza]
possam se tornar cidadãos".
Para o sociólogo, o país não pode mudar sem realizar distribuição de renda. "Isso não se faz com
facilidade." Para que isso ocorra,
disse, é preciso mobilização dos
movimentos sociais e capacidade
do governo para "saber negociar
com as classes favorecidas".
Apesar da cobrança de maior
ousadia, o sociólogo disse que o
Brasil está, por meio de suas ações
recentes na área diplomática,
"tendo acesso ao status de grande
potência" e que, ao lado de outras
nações como Índia e China, desempenha um papel importante
hoje no mundo -o de evitar uma
ruptura definitiva entre os países
ricos e os pobres.
Os sociólogos Hélio Jaguaribe
(do Instituto de Estudos Políticos
e Sociais) e Cândido Grzybowski
(do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), presentes ao seminário, também fizeram críticas ao governo.
Jaguaribe atacou o continuísmo
na política macroeconômica, disse que o PPA é "uma proposta
muito modesta" e criticou o que
chamou de "petização da máquina pública" -o aparelhamento
do Estado pelo PT. Grzybowski
disse que Lula privilegia a representação de trabalhadores e burguesia paulistas nos seus conselhos e que as políticas sociais "ainda são muito assistencialistas".
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