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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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RUMO A 2004

Senadora, que não poderá concorrer à Prefeitura de Maceió se for expulsa após 3 de outubro, vai se inscrever nas prévias

Helena diz que eleição não a fará deixar PT

ROGÉRIO GENTILE
EDITOR DO PAINEL

Ameaçada de expulsão pelo PT, a senadora Heloísa Helena (AL) decidiu que não tomará a iniciativa de deixar o partido e que vai se inscrever nas prévias para a disputa da Prefeitura de Maceió.
Se for realmente expulsa após o dia 3 de outubro -situação que é dada como certa pela cúpula do PT-, ficará impossibilitada pela legislação de disputar a eleição de 2004 por outra legenda. Heloísa Helena tem convites do PSTU e do PDT de Leonel Brizola. No PT, ela integra a tendência trotskista Democracia Socialista.
Primeira colocada nas pesquisas de intenção de voto em Maceió, a senadora quer deixar para Lula e a direção do PT o desgaste de ter de expeli-la da sigla. Diz que não aceitará a imposição partidária e votará contra a reforma da Previdência de Lula.
Avaliou que, se saísse por conta própria, pensando no prazo de filiação, poderia ser mal interpretada pela base e que estaria fazendo exatamente o jogo que interessa ao Planalto. "Não saio pela porta dos fundos. Vão ter de colocar a digital totalitarista, a digital do neo-stalinismo" afirma.
O processo de expulsão da parlamentar estava previsto para ser encerrado em meados de setembro, mas foi propositalmente atrasado pelo PT. A direção do partido acreditava que a senadora, em razão do prazo de filiação partidária, acabaria deixando a sigla por iniciativa própria.
Heloísa Helena e a cúpula do PT começaram a se distanciar na eleição de 2002, quando o partido de Lula se aliou ao PL de José Alencar. Lula exigia que a senadora, então pré-candidata ao governo de Alagoas, se coligasse ao PL no Estado, a fim de ajudar a eleger deputados da legenda.
A petista renunciou, então, à candidatura: "O PL em Alagoas é formado, basicamente, por colloridos, usineiros e indiciados na CPI do Narcotráfico. Não vou me desmoralizar", afirmou ela na época.
Neste ano, quando o PT decidiu obrigar seus parlamentares a votar favoravelmente à reforma da Previdência que o governo Lula enviou ao Congresso, contrariando posicionamentos tradicionais do PT, houve o rompimento.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista concedida ontem pela senadora à Folha:
 

Folha - Ao ficar no PT, a senhora desistiu, na prática, de disputar a Prefeitura de Maceió?
Heloísa Helena -
Não vou me curvar ao calendário eleitoral. Estou me inscrevendo para as prévias do PT, quero disputar a prefeitura, mas não vou fazer o que eles querem. Filha de pobre, fui obrigada muitas vezes a entrar pela porta dos fundos, mas não saio por ela. Não combina comigo. Para que eu saia, vão ter de colocar a digital do totalitarismo, a digital do neo-stalinismo.

Folha - A senhora não teme a expulsão?
Heloísa Helena -
Eu sou da caatinga, do sertão. O Palácio [do Planalto] não pode me punir por votar com base em posições defendidas ao longo de nossa história [do PT] e modificadas sem um amplo debate democrático. São diretrizes que foram estabelecidas em encontro nacional do PT.

Folha - A senhora ainda acredita no governo Lula?
Heloísa Helena -
Nos primeiros nove meses, a política macroeconômica foi conservadora, de continuidade ao governo Fernando Henrique e subserviente aos mercados. Poderá mudar. Não por decisão unilateral do governo, mas por pressão da realidade objetiva, dos movimentos sociais e de setores da militância partidária. Será obrigada a mudar.

Folha - O que mais a decepcionou no governo Lula?
Heloísa Helena -

Ser vítima de um processo de expulsão enquanto delinquentes da política brasileira são acarinhados pelo governo. Isso me machuca profundamente. Também me deprime o abismo entre o que nós alardeávamos para a opinião pública na oposição e o que somos hoje no governo.


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