|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RETRATO DO PAÍS
Pnad mostra que 2003 foi marcado pelo aumento do desemprego e pelo menor rendimento médio do trabalhador em dez anos
Renda cai 7,4% no primeiro ano de Lula
GABRIELA WOLTHERS
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
No primeiro ano do governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcado pelo arrocho da política econômica que culminou em
queda de 0,2% do PIB (Produto
Interno Bruto), a renda do trabalhador caiu 7,4% em relação a
2002. O rendimento médio real
do trabalho em 2003 foi de R$ 692,
o menor em dez anos.
Os dados são da Pnad (Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios) de 2003, feita pelo IBGE, a
primeira pesquisa de âmbito nacional que analisa a situação do
país no governo Lula.
O levantamento mostra que o
aumento de 1,4% do número de
pessoas empregadas ficou abaixo
do crescimento da população de
dez anos ou mais de idade, a chamada população ativa, que foi de
1,9% -uma prova de que o país
não conseguiu gerar o mínimo
aceitável de empregos no ano passado. Por outro lado, houve incremento no número de trabalhadores com carteira assinada.
Já a taxa de desemprego passou
de 9,2% em 2002, último ano do
governo de Fernando Henrique
Cardoso, para 9,7% em 2003, primeiro ano de Lula. Em números
absolutos, havia 7,876 milhões de
pessoas desempregadas em 2002
e 8,537 milhões em 2003.
"Foi o preço pago para equilibrar as finanças públicas, reduzir
o perigo inflacionário e equacionar o problema da dívida externa", disse o presidente do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), Eduardo Nunes.
"O dados comprovam mais
uma vez que 2003 foi muito, muito ruim", afirmou o diretor do
Instituto de Economia da UFRJ
(Universidade Federal do Rio de
Janeiro), João Sabóia. "Lula assumiu a Presidência com inflação
crescendo, taxa de juros elevada,
câmbio explodindo e com o mercado apostando contra. Com isso,
passou a aplicar uma política
mais conservadora do que a do
próprio Fernando Henrique, jogando a economia para baixo."
Para Lauro Ramos, coordenador de Estudos de Mercado de
Trabalho do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada),
não houve surpresa. "Pelo desempenho do PIB, temiam-se resultados piores. Tentando extrair pérola de rochedo, a boa notícia é
que isso já ficou para trás. A Pnad
de 2004, que já está em campo, vai
trazer aumento da renda média."
Os dados econômicos da Pnad
são recolhidos em setembro.
De 2002 para 2003, o rendimento médio real de trabalho no Brasil passou de R$ 747 para R$ 692,
descontada a inflação. Vale ressaltar que os rendimentos apresentam queda desde 1997. Mas a variação de um ano para outro não
havia alcançado o patamar de
7,4%. A perda acumulada de 1996
a 2003 já bate em 18,8%.
Com relação à taxa de desemprego, que ficou em 9,7% pela
Pnad, ela foi menor do que a apurada pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, cujo índice
médio de 2003 ficou em 12,3%. "A
PME mede o emprego das seis
principais regiões metropolitanas, e a Pnad mede o emprego em
todas as unidades da federação,
com uma amostra muito mais extensa", explicou Eduardo Nunes.
Feita a ressalva, Lauro Ramos,
do Ipea, destaca que os analistas
estavam esperando que a taxa nacional de desemprego subisse um
ponto percentual de 2002 para
2003. "Só cresceu meio ponto percentual, o que mostra que o desemprego fora das seis principais
regiões metropolitanas cresceu
menos do que as previsões."
Apesar da deterioração da renda e do mercado de trabalho, o
percentual de empregados com
carteira assinada no ano passado
-32%- foi o maior da série da
pesquisa, iniciada em 1992. Em
2002, 31,3% tinham carteira assinada. Houve crescimento de 4%
no número de empregados em
atividades agrícolas com carteira
assinada de 2002 para 2003, alta
maior do que a dos sem-carteira
assinada (1,7%). Entre os empregados em atividades não-agrícolas com carteira assinada, o aumento foi de 3,3%.
"No interior, houve uma tendência maior da formalização,
porque lá estão concentradas as
atividades cuja exportação cresceu", disse Lauro Ramos. "Para
exportar, você precisa legalizar."
O resultado, no entanto, não
animou muito Sabóia, da UFRJ.
"Se você pensar que, de que cada
três pessoas que trabalham no
Brasil, apenas uma tem carteira
assinada, é um horror."
Texto Anterior: Toda mídia - Nelson de Sá: Guerra on line Próximo Texto: Saiba mais: Falta de dinheiro "mata" pesquisas no próximo ano Índice
|