São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/RUMO A 2006

Vice-presidente comete gafe ao mencionar "pacto com diabo" entre evangélicos do PMR

Católico, Alencar entra no partido da Igreja Universal

Cristina Horta/"Estado de Minas"
O vice-presidente José Alencar, que se desligou do PL, assina ficha de filiação ao PMR, em cerimônia num hotel de Belo Horizonte


PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O vice-presidente José Alencar, 73, assinou ontem em Belo Horizonte a ficha de filiação ao PMR (Partido Municipalista Renovador), que, no fim de outubro, passará a se chamar PR (Partido Republicano). A legenda, segundo suas lideranças, nasceu da articulação de grupos evangélicos, como a Igreja Universal. Mas a direção do novo partido diz que ele será "laico".
Segundo Alencar, o PMR não corre o risco de ser estigmatizado como um partido evangélico. "Quem dera que todos os estigmas fossem esse. Isso aí é uma marca altamente positiva, é uma marca cristã."
Em entrevista, o vice-presidente disse ser católico e freqüentador de missas dominicais, sempre que pode. "Meu pai e minha mãe eram fervorosos, nossa família é católica. Todas as vezes quando vou [à missa], sei rezar o meu padre-nosso e as minhas ave-marias. Sou batizado na Igreja Católica. Portanto sou cristão. E, sendo cristão, sou evangélico, porque evangélico é quem pratica o Evangelho, que é a doutrina cristã."
No ato de filiação, diante de cerca de 700 pessoas, a maioria evangélicas, Alencar causou burburinho ao dizer que o Brasil parece ter feito um "pacto com diabo" -ele se referia ao que considera baixas taxas de crescimento econômico do país.
Recém-saído do PL por causa do envolvimento do partido com as denúncias de corrupção e crítico fervoroso da política econômica do governo Lula, Alencar entrou na nova legenda dizendo não ser candidato a presidente em 2006, embora seja este o desejo dos integrantes do PMR.
"Eu não sou candidato a nada, não quero nada", disse ele, sem, no entanto, descartar totalmente a possibilidade de concorrer. "O dia de amanhã a Deus pertence", disse. Questionado se aceitaria um apelo do partido, respondeu: "A gente não pode falar, a priori, [sobre] um assunto dessa natureza. Se os eleitores quiserem, vão se manifestar, eu não posso passar o carro na frente dos bois".

Base governista
O senador Marcelo Crivella (RJ), bispo da Universal, que também assinou sua filiação, disse que as alianças que o novo partido fará "serão pela esquerda" e que o Partido Republicano (nome que ele já usa) vai apoiar o governo Luiz Inácio Lula da Silva "sob a liderança" de Alencar.
"Se as medidas que o governo enviar para o Congresso forem aquelas que estão de acordo com o nosso pensamento, vamos apoiá-las. E não vamos pedir nada por isso, nem "mensalão" nem cargos. Agora, não nos peça para dar qualquer apoio a uma política de juros altos e recessiva, com superávits primários escorchantes e medidas que podem causar ainda mais desemprego."
Ao discursar, Alencar afirmou que já vinha acompanhando a formação do novo partido, que, para ele, será "grande" em um futuro próximo.
O vice informou que comunicou na semana passada a Lula a sua nova opção partidária. "Dei a notícia em primeira mão a ele."
Alencar acrescentou que o partido "nasce limpo para ser limpo em benefício dos objetivos da nação". E explicou que o termo "limpo" é no sentido de não ter parlamentares, tempo de TV e acesso aos recursos do Fundo Partidário.
Indagado se o partido nasce vinculado à base do governo Lula, ele negou. "O partido nasce ao lado do Brasil. Todas as ações do presidente Lula que consultam o elevado interesse nacional, eu não tenho dúvida de que terão um grande apoio do partido."


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