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QUESTÃO AGRÁRIA
Jaime Amorim diz que conflito é possível e que o movimento pode perder controle sobre os saques
Líder do MST admite luta armada em PE
Cleo Velleda - 28.ago.98/Folha Imagem
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Jaime Amorim, do MST, diz que os saques podem sair do controle
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FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife
O principal líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra) em Pernambuco, Jaime Amorim, admitiu ontem a
possibilidade de o movimento recorrer à luta armada para defender
os agricultores e seus ideais de reforma agrária.
"É possível (a luta armada), se
a circunstância assim nos empurrar", declarou. Amorim afirmou
ainda que nos locais onde "existem latifundiários" armados
"necessariamente a política vai
ter que ser a da defesa armada".
Em entrevista à Agência Folha,
Amorim admitiu que o MST pode
perder o controle dos saques promovidos por sem-terra no Estado.
Agência Folha - Por que o MST
retomou saques em Pernambuco?
Jaime Amorim - Os trabalhadores estão passando fome nos assentamentos. Vamos chegar numa
situação de perda de controle porque eles vão buscar alimentação.
Agência Folha - O que você quer
dizer com perda de controle?
Amorim - Quando nós fizemos
isso em maio, nós planejávamos
mostrar a situação. Aquela situação mais planejada pode acabar.
Os trabalhadores já estão começando a ter iniciativa própria.
Agência Folha - Como o MST
pensa em retomar esse controle?
Amorim - Quem tem de retomar o controle é o governo e não
nós. Nós somos um movimento
social e a nossa tarefa não é aliviar
conflito, é criar mais, dentro das
reais necessidades do povo.
Agência Folha - Os saques têm
alguma relação com as eleições?
Amorim - Não, porque, se assim fosse, não haveria saques depois das eleições, e vai haver. O que
está motivando os saques não é a
questão eleitoral, é a fome.
Agência Folha - Como você vê a
ação dos proprietários de terras?
Amorim - O latifúndio está agonizando e quem está agonizando
só tem duas alternativas: ou morre
ou sai arrebentando o que vê na
frente. Na agonia, pode criar grupos paramilitares para tentar se
defender ou entregar as terras para
o Incra para salvar o que tem.
Agência Folha - E o que tem
acontecido?
Amorim - Ultimamente nós temos enfrentado muitos grupos armados no Estado. Temos procurado negociar, mas, se o Incra não
fizer uma ofensiva e os trabalhadores continuarem a ser pressionados, é claro que a organização vai
ter que tomar uma atitude.
Agência Folha - Com armas?
Amorim - Essa é uma situação
que não será determinada por nós.
Se o governo empurrar para essa
circunstância, os trabalhadores
vão ter que tomar uma decisão: ou
renunciar à luta e abandonar a reforma agrária ou buscar uma nova
forma de luta.
Agência Folha - No caso, uma luta armada?
Amorim - É possível, se a circunstância assim nos empurrar.
Mas não é o que nós queremos.
Agência Folha - Hoje o MST imagina que possa haver luta armada
contra quem?
Amorim - Hoje o inimigo principal do MST é o governo. O normal seria o latifúndio, que está
perdendo um poder histórico.
Mas, quem se meteu na briga e está
sentindo as dores do latifúndio é o
governo. Existem latifundiários,
usineiros que estão resistindo de
forma armada. E, se eles vão resistir armados, a política vai ter que
ser a da defesa armada.
Agência Folha - Quer dizer que
os sem-terra podem se armar?
Amorim - Podem. Para evitar o
massacre, para se defender. O povo não pode viver eternamente
massacrado pelos latifundiários.
Se não vai para a terra, morre de
fome. Se vai para a terra, morre pelas armas do latifúndio. Então, a
opção certamente sempre vai ser a
de morrer lutando.
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