São Paulo, quarta, 30 de setembro de 1998

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Sem-terra é acusado por morte em MG

ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília

A juíza Andréa Mendes, de Buritis (MG), decretou a prisão de dois agricultores ligados ao MST e de dois filhos de um deles como suspeitos de serem, respectivamente, mandantes e executores do assassinato do líder sem terra Wenceslau Pereira da Silva.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) declarou ontem que irá pedir a libertação dos agricultores e acusou a Polícia Civil de Minas Gerais de tentar desmoralizar a entidade.
Silva foi assassinado na quinta-feira passada no assentamento Nova Itália, situado a 180 km de Brasília, vizinho da fazenda Córrego da Ponte, de propriedade do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Com apenas 15 famílias assentadas, esse é o menor dos três assentamentos criados em Buritis pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) a partir de 1995, por causa das ameaças de invasão da fazenda de FHC.
Prisão
Já estão presos José Elias Rodrigues e Osmir Vitorino dos Santos. A polícia procura Jason Moreira dos Santos e Washington Moreira dos Santos, filhos de Osmir.
Segundo a polícia mineira, eles seriam os dois desconhecidos que se apresentaram no assentamento como policiais civis e deram voz de prisão ao líder sem-terra. Silva foi algemado e levou cinco tiros ao tentar fugir.
O delegado José Oliveira, que investiga o crime, ainda não conseguiu prendê-los para fazer a acareação dos suspeitos com as testemunhas do crime. Silva foi morto na frente da mulher, Neide Vieira da Cruz, 22, e de outros quatro assentados.
A polícia mineira suspeita que Santos e Rodrigues tenham decidido matar Silva por causa de disputa de poder no assentamento. Eles negam.
Os presos são membros da diretoria da Associação dos Assentados do Projeto Nova Itália, cuja destituição havia sido aprovada seis dias antes do assassinato em reunião organizada pelo líder morto.
Sem dinheiro
O coordenador regional do MST Adriano Paiva disse que os assentados são pobres e não recorrem a pistoleiros para resolver divergências internas.
Segundo ele, a polícia mineira está tentando denegrir a imagem do movimento de sem-terra. O delegado José Oliveira não foi localizado ontem para comentar essa acusação.
"Os assentados não têm dinheiro para comprar sementes e muito menos para contratar pistoleiros. Ele (Silva) tinha muitos inimigos, que não estão sendo investigados", disse Paiva.



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