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São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2003

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ESQUERDA NO DIVÃ

PT é co-autor de documento final, diz presidente da entidade

Internacional Socialista encampa agenda de Lula

Alexandre Meneghini/Associated Press
Jalal Talabani, do Conselho de Governo Iraquiano, na Internacional


RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sob influência do PT, a Internacional Socialista encampou as principais reivindicações de política externa do governo Luiz Inácio Lula da Silva no documento final do 22º congresso da entidade -que reúne cerca de 170 partidos de esquerda e centro-esquerda de todo o mundo-, concluído ontem, em São Paulo.
O documento, intitulado "Declaração de São Paulo", pede a reforma da ONU (Organização das Nações Unidas) e do seu Conselho de Segurança, o fim das barreiras comerciais dos países ricos aos produtos dos países pobres, "especialmente os agrícolas", e condena a posição dos países ricos nas negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio) em Cancún, no México.
Além disso, o documento pede a criação de um fundo mundial contra a fome, "como proposto pelo presidente Lula".
O texto apóia, especificamente, a integração entre os países "latino-americanos", sem fazer referência à Alca, o que vai na direção da estratégia do governo brasileiro de reforçar os laços com esses países como forma de garantir melhores condições para o Brasil nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas.
A influência do PT na redação do texto foi confirmada pelo próprio presidente da Internacional Socialista, o ex-primeiro-ministro português António Guterres.
"O PT esteve presente na preparação do congresso. A "Declaração de São Paulo" foi decidida em conjunto com o partido. Esse, que é o texto que resume as nossas posições políticas, foi trabalhado em conjunto", afirmou Guterres.
Muitos dos pontos aprovados têm sido defendidos pelo governo e pelo presidente Lula em fóruns internacionais, como é o caso da ampliação do Conselho de Segurança da ONU, para que o Brasil nele ganhe assento, e do fim das barreiras comerciais a produtos brasileiros nos EUA e na Europa.
Segundo Guterres, a internacional sai de São Paulo menos "eurocentrista", lógica que, ele disse, marcou a entidade no passado. A inclusão de uma visão desde o "sul" -países pobres- é uma das exigências do PT para se decidir pela filiação à instituição. Segundo Genoino, o partido levará o assunto a votação entre seus filiados somente em 2005.
Embora o PT oficialmente tenha participado do congresso como "observador", o partido trabalhou intensamente nos bastidores, realizando, segundo o próprio Genoino, encontros com partidos de mais de 20 países.
Em entrevista ao site do PT, no entanto, o presidente do partido afirmou que ainda é cedo para dizer se a internacional está "de cara nova" -tornando-se menos eurocêntrica e mais voltada para a defesa dos interesses dos países pobres.
A "Declaração de São Paulo" também condena, sem citar explicitamente, a ocupação americana no Iraque e diz que o combate ao terrorismo não pode ser feito às custas da liberdade e dos direitos humanos.


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