São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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ALTA ESPIONAGEM

Banco não contratou empresa, diz advogado de Daniel Dantas

Opportunity nega vínculo com espionagem da Kroll

Jamil Bittar/Reuters
Policiais federais transportam documentos da Kroll apreendidos durante a Operação Chacal, que são embarcados para Brasília


ANDRÉA MICHAEL
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O advogado do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, diz que seu cliente não conhece as razões que levaram a Polícia Federal e o Ministério Público a pedir e a Justiça a autorizar o cumprimento de mandados de busca em sua residência e na sede de seu banco, o Opportunity, no Rio de Janeiro.
A afirmação é de Nélio Machado, que defende os interesses do banqueiro: "Estou tendo que advogar com base em suposições. Daniel Dantas desconhece os motivos que o tornaram alvo de um mandado de busca e apreensão. Se me dissessem, eu não acreditaria. Mas estive pessoalmente no cartório e me foi informado que os autos estavam com o Ministério Público, mas que tinha sido determinado o retorno. E que só teríamos vistas do processo na quarta-feira", declarou.
Segundo o advogado, o mandado, deferido pelo juiz substituto da 5ª Vara Federal de São Paulo, Luiz Renato de Oliveira, em 20 de outubro, é vago, se limita a fazer referências a artigos da lei e não traz o que seria essencial: "o fato e o motivo que o justificariam".
Machado deu entrevista à Folha ontem à tarde, da qual também participou Amália Coutrim, diretora da CVC Opportunity, parte do grupo comandado por Dantas.
Coutrim estava na manhã de quarta na sede do Opportunity, um dos 16 alvos da Operação Chacal, na qual a PF apreendeu documentos e equipamentos do banco, da Brasil Telecom e da Kroll. A Brasil Telecom, que é controlada pelo Opportunity, contratou a Kroll para espionar a Italia Telecom, com a qual tem ferrenhas disputas judiciais.
Segundo Coutrim e Machado, o Opportunity não teve participação na contratação da Kroll, ato atribuído à Brasil Telecom, devido as prejuízos que teria sofrido devido às disputas com o grupo italiano. "Não tenho notícia de que isso tenha sido determinado pelo Opportunity. Agora, se [o banco] tomou conhecimento, no mínimo, posteriormente, sim", disse Machado, que recomendou a Dantas o silêncio por ora.
A grande preocupação do Opportunity é manter o sigilo absoluto das operações de seus clientes, conteúdo que está em poder da PF (o arquivo central do banco no Rio foi apreendido) e está sendo analisado em Brasília. A perícia dos computadores do Opportunity pode abrir, na avaliação de delegados, novos flancos na investigação, caso sejam identificadas remessas ilegais para o exterior ou deslizes fiscais. Por isso a PF pediu o auxílio de técnicos do Banco Central e da Receita.
Na próxima semana, Dantas e Carla Cicco, presidente da Brasil Telecom (formalmente responsável pelo contrato com a Kroll), serão intimados para para prestar depoimento. Ontem, a PF colheu, por cinco horas, o depoimento do empresário Luiz Roberto Demarco, ex-sócio e hoje inimigo de Dantas. Demarco se apresentou na condição de convidado.
A PF se baseia no material apreendido na sede da Kroll em São Paulo para afirmar que a empresa teria capacidade para realizar grampos. Em nota divulgada ontem, a Kroll diz que os aparelhos servem para varrer ambientes em busca de equipamentos de escuta.

Justiça
A juíza plantonista da Justiça Federal Sílvia Rocha decidiu ontem aguardar o resultado de uma perícia nos equipamentos apreendidos pela Polícia Federal na sede da Kroll, em São Paulo, para então resolver se mandará soltar ou não os cinco funcionários da empresa presos na última quarta-feira pela PF.
A juíza analisou um pedido de relaxamento da prisão dos funcionários. Não há prazo para a perícia, que deve ser feita no Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília, ser concluída. Os funcionários da Kroll estão presos na custódia da PF, em São Paulo. A PF decidiu prendê-los após localizar equipamentos que supostamente podem ser usados para interceptações telefônicas. Eles foram acusados de "formação de quadrilha ou bando".
O advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira, que defende os funcionários, disse que tentará reverter a decisão da juíza na próxima quarta: "O flagrante foi absolutamente inexistente, fora de qualquer parâmetro jurídico".
O advogado do investigador da Kroll Tiago Verdial, Eduardo Carnelós, disse que até ontem, passados quase quatro meses desde a primeira operação de busca e apreensão contra seu cliente, não havia tido acesso aos autos na Justiça Federal. A casa de Verdial, no Rio de Janeiro, voltou a ser alvo de uma operação de busca e apreensão na última quarta-feira.


Colaborou RUBENS VALENTE, da Reportagem Local


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