São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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Corporativismo barra apuração, afirma petista

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ouvidor da Câmara dos Deputados, Luciano Zica (PT-SP), atacou o presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP), e afirmou que o "espírito de corporação" está impedindo uma apuração séria sobre a suspeita de que deputados usam as comissões permanentes e de inquérito da Câmara para praticar extorsão contra empresários e investigados.
"O sentimento que me fica é o de que o espírito de corporação acaba prevalecendo", disse Zica, que reclamou do pedido de explicações feito por João Paulo a ele e ao deputado Paulo Lima (PMDB-SP), presidente da Comissão de Defesa do Consumidor -os dois, em entrevista à Folha, disseram acreditar que existe um esquema de extorsão na Câmara.
"É a quinta vez consecutiva que ele [João Paulo] reage dessa maneira, ou por conveniência ou sei lá por quê", disparou.
Na entrevista anterior, Lima disse inclusive ter "nomes e dados" sobre dez deputados que teriam tentado obter dinheiro de empresários de São Paulo durante a CPI dos Combustíveis, encerrada no ano passado em meio a acusações de leniência com investigados. Zica disse ter pedido por várias vezes apuração da acusação.
Apoiado pelos líderes das bancadas na Câmara, João Paulo classificou de irresponsável a atitude de acusar sem apresentar provas e determinou à Corregedoria da Casa que interpelasse Zica e Lima para que confirmassem as acusações e apresentassem nomes.
Os dois já foram notificados e João Paulo ameaça puni-los caso eles não apresentem as provas. "Ao acusar sem provas, eles colocam os bons no meio dos ruins", disse o presidente da Câmara na quarta-feira.

"Não vou prestar contas"
"Fiquei ofendido pela reação dele. Já é a quinta vez que ele comete esse equívoco. Não vou atender à convocação dele, Não vou prestar contas da minha posição. Foi uma atitude desrespeitosa", disse Zica. Ele ressalta que não fez acusação nenhuma e que a única coisa que tem pedido nos últimos meses é apuração.
A Folha informou à assessoria de João Paulo o teor das declarações do ouvidor, mas os assessores disseram não ter conseguido localizar o presidente da Câmara até o fechamento desta edição.
Desde que deu as declarações, Paulo Lima não foi mais encontrado pela reportagem. Ele já foi interpelado uma vez para mostrar os nomes que diz possuir, mas afirmou, na ocasião, que só revelaria a suposta quadrilha na própria CPI dos Combustíveis, caso ela tivesse interesse. A CPI não o convocou e a Corregedoria mandou arquivar o processo.
As suspeitas em relação a um esquema de achaques tomaram corpo recentemente com a divulgação pela revista "Veja" de gravações que mostrariam o deputado André Luiz (PMDB-RJ) tentando extorquir R$ 4 milhões do empresário do jogo Carlos Cachoeira. Em troca do dinheiro, André Luiz atuaria para amenizar as acusações contra o empresário na CPI da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, onde atuou por dois mandatos. Luiz nega. (RB)


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