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RAIO-X DA EDUCAÇÃO
Governo criou marcas de impacto, como CEU e Vai-e-Volta, mas não formulou política de checagem de conteúdos formais
Educação inova, mas sem avaliar aprendizado
LAURA CAPRIGLIONE
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
A prefeita Marta Suplicy (PT)
encerra seu mandato sem que a
educação municipal, marcada
por projetos caros e ambiciosos,
preste contas à sociedade sobre o
aprendizado dos alunos acerca
dos conteúdos formais.
O único estudo disponível sobre
o desempenho de estudantes do
ensino básico é feito de dois em
dois anos pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais), do Ministério da
Educação. Em 2003, ele apontou
deficiências graves em português
e matemática no país, mas o tamanho da amostra não permite
isolar o dado da rede municipal.
Sem a informação, o parâmetro
qualitativo de ensino não é considerado na Gratificação de Desenvolvimento Educacional -um
bônus anual de produtividade paga aos professores da rede.
Segundo a própria secretária
municipal da Educação, Maria
Aparecida Perez, o bônus não leva
em conta a aquisição de conhecimentos formais, mas a evasão escolar, as faltas dos professores, a
fixação de funcionários à escola, o
número de projetos especiais e a
participação da comunidade na
vida escolar. Nada sobre o principal: o aprendizado dos alunos.
O buraco negro contrasta com
outras tantas iniciativas adotadas
por um governo que aliou programas de forte apelo publicitário a
políticas que, de fato, mudaram
para melhor o panorama do setor.
Ampliaram-se as vagas. Dotou-se a cidade de um sistema público
de transporte escolar que atende
107,2 mil alunos. Os estudantes
ganharam uniformes e material.
A rede incorporou refeições à merenda de 790 mil alunos.
Com tudo isso, as taxas de evasão, um dos principais indicadores de qualquer política educacional, caíram de 2,15% em 2000 para 1,1% dos alunos no ano passado. No mesmo período, os índices
nas escolas do Estado instaladas
na cidade foram de 5% para 3,4%.
Os dados empurram ao desuso
as críticas sobre o caráter assistencialista das ações. "O que evoluiu
foi a compreensão do significado
de acesso e permanência. O poder
público assumiu que transporte,
material, suplementação de renda
são condição de sustentabilidade
de algumas crianças na escola",
avalia Maria Sílvia Bonini, 57, do
Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e
Ação Comunitária).
O projeto mais vistoso são os já
conhecidos CEUs (Centros Educacionais Unificados): 21 unidades nos bolsões de pobreza, com
piscina, quadra etc. Cada um custou R$ 17 milhões. Juntos, atendem em sala de aula 52,5 mil dos
945,4 mil alunos da rede -30 mil
deles seguem em 50 escolas de lata. O contraste gera polêmica.
"O apelo publicitário dos CEUs
centra-se em insumos, estrutura.
Mas há estudos que mostram que,
se invisto nos insumos e não invisto em processos, o impacto na
qualidade não é forte. Aí eu só tenho uma escola modernosa", diz
Lourdes Marcelino Machado, 63,
doutora em educação e vice-presidente para o Sudeste da Anpae
(Associação Nacional de Política e
Administração da Educação).
"Um projeto mais modesto, que
tivesse abrangência maior, seria
melhor do ponto de vista pedagógico, educativo e técnico", completa João Cardoso Palma Filho,
60, diretor do Instituo de Artes da
Unesp e coordenador do Pedagogia Cidadã, programa de formação de professores de 1ª à 4ª série.
A secretária de Educação rebate.
"Os CEUs foram planejados para
atender também o entorno. Não
precisaremos construir teatros e
piscinas em todas as escolas."
Até julho, os CEUs foram usados por 500 mil crianças de outras
escolas e cerca de um milhão de
moradores do entorno.
"O CEU é uma experiência paradigmática importante. Criou-se
um padrão de qualidade. Agora
todo mundo quer CEU. No fundo, quando o poder público cria
uma escola melhor, isso é um problema para ele mesmo, mas tem
de fazer", avalia o sociólogo Cesar
Callegari, 51, presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação.
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