|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CAIXA DOIS
Campanha de 2002 recebeu até US$ 3 milhões da ilha de Fidel, segundo a "Veja"; se a denúncia for confirmada, registro da sigla pode ser cassado
PT é acusado de receber dinheiro de Cuba
DA REDAÇÃO
A campanha para eleição do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ou US$ 3 milhões ou
US$ 1,4 milhão em doações clandestinas provenientes de Cuba.
Essas informações foram publicadas ontem pela revista "Veja",
que ouviu testemunhos de participantes da suposta operação.
A oposição, que aumentou o
grau de animosidade em relação
ao governo na semana passada,
cobrou a apuração dos fatos. Se
for comprovada a veracidade das
informações, o pedido de registro
de cassação do PT pode ser pedido -nesta hipótese, os petistas
não teriam legenda para concorrer na eleição no ano que vem.
Ao longo do dia, o governo reagiu à publicação. O chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho,
disse que nunca ouviu falar sobre
o assunto. Por meio de nota divulgada na noite de ontem, o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) negou que a campanha para eleição do presidente
Lula tenha recebido doações clandestinas de Cuba. Segundo Wagner, "as contribuições e os gastos
da campanha presidencial de
2002 foram registrados com
transparência no TSE". O ministro disse ainda que "as especulações contidas em revista semanal
não passam de fantasias".
A reportagem de "Veja" foi baseada em testemunhos de dois
participantes da suposta operação: o advogado Rogério Buratti e
o economista Vladimir Poleto.
Ambos trabalharam para o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, quando prefeito de Ribeirão
Preto, e dizem ter ouvido a história de um amigo em comum que
morreu de câncer em 2004: Ralf
Barquete, que também trabalhou
para o então prefeito Palocci.
Eles divergem quanto a quantia
supostamente vinda de Cuba. Buratti diz que ouviu de Barquete
que seriam US$ 3 milhões e Poleto, que seria US$ 1,4 milhão.
Segundo a reportagem, Poleto
admitiu à revista que transportou
o dinheiro de Brasília a Campinas
(SP), a bordo de um avião Seneca,
que, diz a revista, teria sido emprestado por Roberto Colnagui,
um empresário amigo de Palocci.
Os dólares estariam escondidos
em duas caixas de uísque e uma
de rum. De lá, teriam sido transportados por Barquete para o tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Por meio de sua advogada, Delúbio negou ontem as informações.
De acordo com o relato de Poleto, ele não sabia que em uma das
caixas de bebida que diz ter transportado continha dinheiro. Achava que só tinha uísque e rum.
Segundo o economista, quem
lhe contou sobre a existência dos
dólares foi seu amigo Ralf Barquete, depois que já havia transportado as caixas para Campinas.
Não se sabe como o dinheiro teria chegado de Cuba a Brasília.
Porém, sempre segundo "Veja",
os dólares ficaram guardados em
Brasília com o cubano Sérgio Cervantes, que já serviu como diplomata de seu país no Brasil. De
acordo com o relato da revista,
Cervantes é amigo de José Dirceu,
de Fidel Castro, e teria conhecido
o presidente Lula quando este
ainda era dirigente sindical.
Questionado pela revista sobre
a suposta operação, o ministro
Antonio Palocci disse que nunca
havia ouvido nada sobre isso.
"Pelo que estou ouvindo agora,
me parece algo muito fantasioso."
Os ex-dirigentes do PT José Genoino (presidente) e Silvio Pereira
(secretário-geral) foram procurados para comentar a reportagem,
mas não foram localizados.
Se for comprovada a transferência de dinheiro de Cuba para a
campanha de Lula, o Congresso
poderá pedir a abertura de um
processo de impeachment contra
o presidente, de acordo com o advogado Arnaldo Malheiros, especialista em legislação eleitoral.
"Se o Congresso considerar isso
incompatível com o exercício do
cargo [de presidente], o Congresso poderá pedir o impeachment.
Será uma decisão política", disse.
Nessa situação, risco maior correria o PT, que poderia ter seu registro cassado. Segundo o artigo
17 da Constituição, os partidos
políticos não podem receber "recursos financeiros de entidade ou
governo estrangeiros". O mesmo
diz o artigo 5º da Lei Orgânica dos
Partidos Políticos, de 1995.
Texto Anterior: Benefício leva novos consumidores às compras Próximo Texto: Acusação é falsa, afirma Berzoini Índice
|